São Paulo, terça-feira, 18 de março de 2008

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Economista vê abalo na credibilidade do sistema financeiro norte-americano

DE WASHINGTON

Neste momento, é muito importante conter não só a crise de crédito mas de credibilidade. A opinião é da economista brasileira Marcelle Chauvet, especializada no estudo de ciclos econômicos. Em artigo de 16 de dezembro no "New York Times", a professora da Universidade da Califórnia em Riverside respondia "os fatos dizem que não" à pergunta feita pelo jornal sobre se os EUA estavam em recessão. Hoje, acredita, "a probabilidade se encontra perto de 50%." Leia entrevista à Folha, concedida por e-mail na tarde de ontem. (SÉRGIO DÁVILA)  

FOLHA - Estamos falando de diminuição de crédito, crise de crédito ou caso isolado?
MARCELLE CHAUVET
- Crise de crédito que está sendo agravada por um abalo da estabilidade e da credibilidade do sistema financeiro dos EUA.

FOLHA - Como avalia a atuação do Fed e de Ben Bernanke?
CHAUVET
- Bernanke é um acadêmico que, entre outras áreas, é especialista em erros de política monetária pelo Fed, sobretudo durante a Grande Depressão. Sua atuação tem sido muito pertinente, e as ações, efetivas, utilizando o Fed como um emprestador de última instância e como um instrumento para estabilizar e manter a credibilidade do sistema financeiro. Se as ações são pertinentes, alguns podem criticá-lo por essas não terem sido tomadas antes.

FOLHA - O Fed ter saído em auxílio de um banco em risco é bom ou ruim para a economia?
CHAUVET
- Essencialmente bom. Há um efeito meio perverso de curtíssimo prazo, mas um efeito positivo fundamental de médio e longo prazos. No curtíssimo prazo, as ações do Fed podem causar um pouco de pânico, porque os bancos podem interpretar a ação forte como sinal de que a situação de insolvência pode se alastrar para outros bancos. No médio e longo prazos, é importante porque visa estabilizar o mercado e tirar a pressão de curto prazo dos bancos, para que eles possam renegociar seus papéis.
Nesse momento, é muito importante conter não só uma crise de crédito mas uma crise de credibilidade. A atuação do Fed como âncora do sistema financeiro deve evitar um pânico no mercado que pode transformar medos em realidade no médio prazo -as profecias que se autocumprem. O problema não é só uma crise de crédito. Mesmo aumentando a oferta, a falta de credibilidade, a incerteza e o risco podem fazer com que empréstimos não sejam efetuados.

FOLHA - Há recessão nos EUA?
CHAUVET
- A probabilidade de recessão tem aumentado substancialmente nos últimos meses. No momento, encontra-se perto de 50%.

FOLHA - Como os fatos recentes podem afetar ("contagiar") o resto do mundo?
CHAUVET
- Um possível contágio de curto prazo poderia ocorrer por meio do mercado de ações e de uma onda de falta de confiança como efeito dominó. No médio prazo, a recessão americana pode afetar o comércio internacional. Mas os fundamentos das economias de cada país irão determinar o quanto essas serão afetadas.


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