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Economista vê abalo na credibilidade do sistema financeiro norte-americano
DE WASHINGTON
Neste momento, é muito importante conter não só a crise
de crédito mas de credibilidade. A opinião é da economista
brasileira Marcelle Chauvet,
especializada no estudo de ciclos econômicos. Em artigo de
16 de dezembro no "New York
Times", a professora da Universidade da Califórnia em Riverside respondia "os fatos dizem
que não" à pergunta feita pelo
jornal sobre se os EUA estavam
em recessão. Hoje, acredita, "a
probabilidade se encontra perto de 50%." Leia entrevista à
Folha, concedida por e-mail na
tarde de ontem.
(SÉRGIO DÁVILA)
FOLHA - Estamos falando de diminuição de crédito, crise de crédito ou
caso isolado?
MARCELLE CHAUVET - Crise de crédito que está sendo agravada
por um abalo da estabilidade e
da credibilidade do sistema financeiro dos EUA.
FOLHA - Como avalia a atuação do
Fed e de Ben Bernanke?
CHAUVET - Bernanke é um acadêmico que, entre outras áreas,
é especialista em erros de política monetária pelo Fed, sobretudo durante a Grande Depressão. Sua atuação tem sido muito pertinente, e as ações, efetivas, utilizando o Fed como um
emprestador de última instância e como um instrumento para estabilizar e manter a credibilidade do sistema financeiro.
Se as ações são pertinentes, alguns podem criticá-lo por essas
não terem sido tomadas antes.
FOLHA - O Fed ter saído em auxílio
de um banco em risco é bom ou ruim
para a economia?
CHAUVET - Essencialmente
bom. Há um efeito meio perverso de curtíssimo prazo, mas
um efeito positivo fundamental de médio e longo prazos. No
curtíssimo prazo, as ações do
Fed podem causar um pouco de
pânico, porque os bancos podem interpretar a ação forte como sinal de que a situação de
insolvência pode se alastrar para outros bancos. No médio e
longo prazos, é importante porque visa estabilizar o mercado e
tirar a pressão de curto prazo
dos bancos, para que eles possam renegociar seus papéis.
Nesse momento, é muito importante conter não só uma crise de crédito mas uma crise de
credibilidade. A atuação do Fed
como âncora do sistema financeiro deve evitar um pânico no
mercado que pode transformar
medos em realidade no médio
prazo -as profecias que se autocumprem. O problema não é
só uma crise de crédito. Mesmo
aumentando a oferta, a falta de
credibilidade, a incerteza e o
risco podem fazer com que empréstimos não sejam efetuados.
FOLHA - Há recessão nos EUA?
CHAUVET - A probabilidade de
recessão tem aumentado substancialmente nos últimos meses. No momento, encontra-se
perto de 50%.
FOLHA - Como os fatos recentes
podem afetar ("contagiar") o resto
do mundo?
CHAUVET - Um possível contágio de curto prazo poderia
ocorrer por meio do mercado
de ações e de uma onda de falta
de confiança como efeito dominó. No médio prazo, a recessão
americana pode afetar o comércio internacional. Mas os
fundamentos das economias de
cada país irão determinar o
quanto essas serão afetadas.
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