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Bush convoca "força-tarefa" para a crise
Sob críticas por ter ajudado mais rápido o banco Bear Stearns do que mutuários devedores, presidente diz que momento é "desafiador'
Preocupação do governo era com liquidez do sistema bancário, defende Paulson, que acena com medidas para resgatar "dólar forte"
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Após dizer que convocara
uma "força-tarefa" para lidar
com a crise do setor bancário
que ameaça a economia norte-americana e afirmar que seu secretário do Tesouro mostrou
aos EUA e ao mundo que estava
"no controle da situação", o
presidente George W. Bush reconheceu ontem a gravidade do
momento. "Uma coisa é certa",
disse, "nós estamos em tempos
desafiadores".
O tom contrastava com o de
sexta-feira, quando um Bush
bem-humorado discursou ao
Clube Econômico de Nova
York em meio a tiradas, arrancando risos ao dizer que chegava ali numa hora "interessante". Entre as duas falas, a tal força-tarefa, liderada pelo Fed (o
banco central norte-americano), saiu em socorro do Bear
Stearns a um custo de US$ 30
bilhões aos cofres federais.
O presidente tem sido criticado por agir com mais rapidez
e complacência no caso do banco de investimentos do que na
crise de hipotecas, que atingiu
milhões de mutuários, deflagrou uma crise global e pode ter
ajudado a levar os EUA à recessão. Ao anunciar um pacote de
medidas que lidavam com
aquela situação, meses atrás,
Bush deixou claro que o governo não ajudaria "caloteiros".
Ao sair da reunião da "força-tarefa", ontem, na Casa Branca,
o secretário do Tesouro defendeu a ação do fim de semana.
Indagado sobre a diferença de
ritmo e intenção entre atender
o cidadão inadimplente e os
banqueiros, Henry Paulson
disse que "é isso o que acontece
quando você tem um problema
de liquidez." "Esse resultado é
bem melhor do que se houvesse
um pedido de concordata", argumentou. "Foi uma decisão
fácil, e o resultado é o correto."
Tanto Paulson quanto Bush
deixaram a porta aberta para
novas medidas, além das anunciadas anteontem. "Obviamente vamos continuar a monitorar a situação e, quando necessário, agir decisivamente, de
maneira a continuar a trazer
ordem ao mercado financeiro",
disse Bush, antes da reunião.
Na saída, Paulson não descartou uma intervenção no
câmbio mundial, onde o dólar
enfrenta queda-livre diante de
várias moedas. "Temos uma
política de dólar forte, isso é do
interesse de nosso país", afirmou. "Mas não vou especular
sobre hipóteses", disse, após
afirmar que os fundamentos da
economia dos EUA a longo prazo são fortes e que isso se refletiria no mercado cambial.
"Julgamento da história"
Não foi o suficiente para evitar que a Casa Branca enfrentasse uma saraivada de críticas,
liderada pelos dois pré-candidatos democratas à sucessão de
Bush. Hillary Clinton não citou
o presidente pelo nome, mas
disse que havia falado com
Paulson e relatado suas preocupações. "Acredito que, sem
lidar com o aspecto da crise do
"subprime" [hipotecas de alto
risco], não vamos ter o progresso de que precisamos."
Mais duro, o senador Barack
Obama afirmou acreditar que
"a história não vai julgar gentilmente Bush por ter deixado de
agir de uma maneira que poderia ter prevenido ou aliviado a
crise econômica". "Poucos governos estiveram tão descolados das preocupações e das lutas de trabalhadores americanos e tão reféns de lobistas e de
grupos interesses especiais."
Até a conclusão desta edição,
o senador republicano John
McCain não havia se manifestado a respeito dos novos desdobramentos da crise. Mas os
eleitores, sim. Segundo pesquisa de opinião divulgada ontem
pela emissora CNN, 74% acreditam que o país já está em recessão. É um salto em relação
aos 66% que responderam da
mesma maneira há um mês e
aos 46% que viam o quadro em
outubro do ano passado.
Instados a elencar a importância dos assuntos na hora de
votar, 42% dos entrevistados
escolheram a economia, o dobro do percentual de outubro,
quando a Guerra do Iraque era
a primeira colocada. Entre os
democratas, o país está em recessão para 9 em cada 10; entre
republicanos, para 54%. Foram
ouvidos 1.019 adultos entre
sexta e domingo, com margem
de erro de 4,5 pontos.
Hoje, é a vez de o Fed se reunir para decidir a taxa básica da
economia. Analistas vêem corte de 0,75 ponto percentual, o
que baixaria os juros para
2,25%, na quinta queda consecutiva desde setembro.
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