São Paulo, terça-feira, 18 de março de 2008

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Bush convoca "força-tarefa" para a crise

Sob críticas por ter ajudado mais rápido o banco Bear Stearns do que mutuários devedores, presidente diz que momento é "desafiador'

Preocupação do governo era com liquidez do sistema bancário, defende Paulson, que acena com medidas para resgatar "dólar forte"

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Após dizer que convocara uma "força-tarefa" para lidar com a crise do setor bancário que ameaça a economia norte-americana e afirmar que seu secretário do Tesouro mostrou aos EUA e ao mundo que estava "no controle da situação", o presidente George W. Bush reconheceu ontem a gravidade do momento. "Uma coisa é certa", disse, "nós estamos em tempos desafiadores".
O tom contrastava com o de sexta-feira, quando um Bush bem-humorado discursou ao Clube Econômico de Nova York em meio a tiradas, arrancando risos ao dizer que chegava ali numa hora "interessante". Entre as duas falas, a tal força-tarefa, liderada pelo Fed (o banco central norte-americano), saiu em socorro do Bear Stearns a um custo de US$ 30 bilhões aos cofres federais.
O presidente tem sido criticado por agir com mais rapidez e complacência no caso do banco de investimentos do que na crise de hipotecas, que atingiu milhões de mutuários, deflagrou uma crise global e pode ter ajudado a levar os EUA à recessão. Ao anunciar um pacote de medidas que lidavam com aquela situação, meses atrás, Bush deixou claro que o governo não ajudaria "caloteiros".
Ao sair da reunião da "força-tarefa", ontem, na Casa Branca, o secretário do Tesouro defendeu a ação do fim de semana. Indagado sobre a diferença de ritmo e intenção entre atender o cidadão inadimplente e os banqueiros, Henry Paulson disse que "é isso o que acontece quando você tem um problema de liquidez." "Esse resultado é bem melhor do que se houvesse um pedido de concordata", argumentou. "Foi uma decisão fácil, e o resultado é o correto."
Tanto Paulson quanto Bush deixaram a porta aberta para novas medidas, além das anunciadas anteontem. "Obviamente vamos continuar a monitorar a situação e, quando necessário, agir decisivamente, de maneira a continuar a trazer ordem ao mercado financeiro", disse Bush, antes da reunião.
Na saída, Paulson não descartou uma intervenção no câmbio mundial, onde o dólar enfrenta queda-livre diante de várias moedas. "Temos uma política de dólar forte, isso é do interesse de nosso país", afirmou. "Mas não vou especular sobre hipóteses", disse, após afirmar que os fundamentos da economia dos EUA a longo prazo são fortes e que isso se refletiria no mercado cambial.

"Julgamento da história"
Não foi o suficiente para evitar que a Casa Branca enfrentasse uma saraivada de críticas, liderada pelos dois pré-candidatos democratas à sucessão de Bush. Hillary Clinton não citou o presidente pelo nome, mas disse que havia falado com Paulson e relatado suas preocupações. "Acredito que, sem lidar com o aspecto da crise do "subprime" [hipotecas de alto risco], não vamos ter o progresso de que precisamos."
Mais duro, o senador Barack Obama afirmou acreditar que "a história não vai julgar gentilmente Bush por ter deixado de agir de uma maneira que poderia ter prevenido ou aliviado a crise econômica". "Poucos governos estiveram tão descolados das preocupações e das lutas de trabalhadores americanos e tão reféns de lobistas e de grupos interesses especiais."
Até a conclusão desta edição, o senador republicano John McCain não havia se manifestado a respeito dos novos desdobramentos da crise. Mas os eleitores, sim. Segundo pesquisa de opinião divulgada ontem pela emissora CNN, 74% acreditam que o país já está em recessão. É um salto em relação aos 66% que responderam da mesma maneira há um mês e aos 46% que viam o quadro em outubro do ano passado.
Instados a elencar a importância dos assuntos na hora de votar, 42% dos entrevistados escolheram a economia, o dobro do percentual de outubro, quando a Guerra do Iraque era a primeira colocada. Entre os democratas, o país está em recessão para 9 em cada 10; entre republicanos, para 54%. Foram ouvidos 1.019 adultos entre sexta e domingo, com margem de erro de 4,5 pontos.
Hoje, é a vez de o Fed se reunir para decidir a taxa básica da economia. Analistas vêem corte de 0,75 ponto percentual, o que baixaria os juros para 2,25%, na quinta queda consecutiva desde setembro.


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