São Paulo, terça-feira, 18 de março de 2008

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Lula avalia que BC errou ao sinalizar elevação dos juros

KENNEDY ALENCAR
JULIANNA SOFIA
JULIANA ROCHA

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus principais ministros avaliaram em reunião ontem que o Banco Central errou ao sinalizar na semana passada que poderia elevar os juros, segundo apurou a Folha.
Na semana passada, a divulgação da ata da reunião Copom (Comitê de Política Monetária) indicou que poderia haver elevação na Selic (taxa básica de juros, hoje em 11,25% ao ano).
Na reunião semanal de Lula com seus principais auxiliares, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que as notícias do final de semana mostraram que a crise nos EUA é profunda. Afirmou que, por ora, não há forte efeito negativo sobre o Brasil, mas que será preciso monitoramento constante e evitar a alta dos juros.
Mantega disse que a crise dos EUA reforçava os argumentos dos críticos do BC, segundo os quais a instituição deveria reduzir os juros e não aumentá-los. Em entrevista no Ministério da Fazenda, Mantega foi claro quando indagado se havia necessidade de o BC elevar os juros. Ele respondeu: "Aqui no Brasil não há necessidade. Pelo contrário. As taxas de juros estão baixando nos EUA. A preocupação é com nível de atividade e com o crédito".
Lula concorda com a avaliação de Mantega, segundo apurou a Folha. A recente valorização do real em relação ao dólar e efeitos futuros sobre a balança comercial reacenderam a tensão entre a Fazenda e o BC. Se o BC elevar a Selic, Lula fará pressão política nos bastidores.
Em entrevista, Mantega disse ser tarefa dos bancos centrais americano e europeu impedir que a crise internacional contagie todas as economias. Segundo ele, houve um agravamento do cenário de turbulência, o que se refletiu ontem em todos os mercados do mundo, inclusive o brasileiro.
Mantega disse estar confiante em que o Fed (banco central dos EUA) promoverá nova redução nas taxas de juros hoje, depois de ontem ter reduzido em 0,25 ponto percentual a taxa de redesconto. "A quebra do Bear Stearns causou certa comoção, porque era o quinto maior banco de investimento americano. Acredito que o Fed está tomando as medidas que poderão acalmar os mercados."

Algumas conseqüências
Ele voltou a afirmar que o Brasil tem uma situação sólida, mas admitiu que a crise poderá causar estragos, principalmente no mercado de renda variável: "O Brasil tem condições de rápida recuperação, mesmo que haja conseqüências maiores. (...) É claro que algumas conseqüências acontecem, mas nós podemos passar por isso com as menores conseqüências possíveis. Pode haver alguma saída de capitais externos, de instituições que precisam (...) cobrir buracos lá".
Para ele, a segurança da economia brasileira se deve a fundamentos sólidos. "Temos reservas de US$ 195 bilhões agora. Há uma grande confiança no desempenho da economia."
O ministro destacou que as empresas brasileiras estão sólidas, a exemplo dos bancos nacionais, que não estão envolvidos "nessa crise".


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