São Paulo, terça-feira, 18 de março de 2008

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Estrangeiro foge do risco, e Bolsa de SP recua 3,19%

Medo da crise faz investidores se abrigarem nos títulos do Tesouro dos EUA

Queda de commodities metálicas e agrícolas afeta ações de empresas que atuam no setor; dólar sobe 0,76% e vai a R$ 1,726

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

A Bolsa de Valores de São Paulo teve ontem a pior baixa em quase seis semanas enquanto os investidores estrangeiros se desfaziam das suas aplicações no mercado acionário local para cobrir perdas sofridas no exterior ou buscar refúgio em ativos mais seguros, como os títulos do Tesouro norte-americano. Na mínima do dia, a Bovespa chegou a recuar 4,27%, mas, com a pequena recuperação da Bolsa de Nova York no final do expediente, a brasileira terminou a sessão em queda de 3,19%, aos 60.011 pontos. No dia 6 de fevereiro, ela tinha caído 3,45%. As perdas acumuladas em 2008 chegam a 6,06%.
Em todo o mundo, houve uma fuga das commodities metálicas e agrícolas principalmente rumo aos treasuries. "Boa parte das empresas brasileiras que têm ações negociadas na Bolsa atua nesse setor, daí a desvalorização dos papéis", comenta Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset Management. Os preferenciais da Companhia Vale do Rio Doce caíram 4,13%, para R$ 46,60, e os ordinários recuaram 5,43%, a R$ 55,70.
"Cresceu a preocupação com a saúde dos bancos nos EUA e, pela dificuldade em ponderar a extensão do problema, aumenta fortemente a aversão ao risco. Na dúvida, os investidores avaliam que é melhor tirar [seu dinheiro de determinadas aplicações]", diz Ricardo Martins, gerente da área de pesquisa da corretora Planner. Devido a essa movimentação dos estrangeiros, o dólar comercial subiu 0,76% ontem, vendido a R$ 1,726. No momento de maior tensão, chegou a R$ 1,738.
Os temores em relação às instituições americanas foram exacerbados após o Fed (Federal Reserve, banco central americano) anunciar a redução da taxa de redesconto -os juros cobrados nos empréstimos de curto prazo concedidos a elas. O mercado desesperou-se, achando que outros bancos também se encontram à beira da insolvência. No domingo, o JPMorgan informou que vai adquirir o Bear Stearns por apenas US$ 236 milhões, bem abaixo do seu valor de mercado.
Foi por conta disso que a segunda-feira começou amarga em Wall Street. No entanto, a Bolsa de Nova York acabou fechando em alta de 0,18%. "Os investidores parecem se convencer de que o Fed está muito comprometido em garantir que haja liquidez suficiente no sistema bancário para atravessarmos essa crise de crédito", explica Andy Brooks, operador da administradora de recursos americana T. Rowe Price. O mercado amanhece hoje de olho no BC americano, cujo comitê de política monetária se reúne para definir o rumo dos juros. As expectativas variam de um corte de 0,5 ponto percentual a até um ponto.
Os analistas destacam que não é possível fazer previsões acerca do comportamento na Bolsa no curto prazo.
"Porém é da volatilidade que surgem boas oportunidades de compras de ações", afirma Martins. "Especialmente porque continuamos esperando um bom crescimento da economia brasileira neste ano e, conseqüentemente, resultados positivos das empresas nacionais." De acordo com o analista, os pequenos investidores que aplicam pensando no longo prazo não devem mexer nos seus papéis neste momento. Já os mais ousados podem aproveitar os momentos de fortes quedas para adquirir ações de companhias sólidas que estejam com preços atraentes.


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