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88% dos acordos salariais superam inflação
Dado de 2007 é o melhor da série histórica do Dieese, iniciada em 1996; outros 8,3% das negociações conseguiram repor as perdas
Considerando só os reajustes acima da inflação, 20,9% das negociações conseguiram aumento real superior a 2%, contra 36,6% em 2006
TATIANA RESENDE
DA REDAÇÃO
Embora mais negociações tenham resultado em reajustes
salariais acima da inflação no
ano passado, batendo o recorde
da série histórica iniciada em
1996, houve redução na quantidade de convenções e acordos
coletivos que garantiram aumentos reais superiores a 1%
em 2007 em relação a 2006.
De acordo com o Dieese (Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Sócio-Econômicos), 87,7% das 715
negociações analisadas tiveram
reajustes acima do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) no ano passado, contra 86,3% em 2006.
Considerando também acordos e convenções que garantiram a reposição das perdas da
inflação (8,3%), o número sobe
para 96%, mas é inferior ao do
ano anterior (97%).
O INPC fechou 2007 com
uma taxa acumulada de 5,16%,
mas o índice considerado para
a avaliação é o da inflação registrada entre a negociação anterior e a data-base da categoria.
Segundo o Dieese, o mês de
maio é o que tem a maior concentração -31,6% do total.
No comparativo considerando apenas os reajustes acima da
inflação, o resultado de 2007 é
menos animador para os trabalhadores porque 61,4% das negociações conseguiram aumento real acima de 1%, contra
69,7% em 2006. Tendo como
parâmetro reajustes superiores
a 2%, os acordos e convenções
em 2006 (36,6%) também aparecem em maior quantidade do
que em 2007 (20,9%).
Como destaca Anselmo dos
Santos, professor do Centro de
Estudos Sindicais e Economia
do Trabalho da Unicamp, a
queda aconteceu justamente
em um ano com ritmo de crescimento mais acelerado, já que
a alta do PIB (Produto Interno
Bruto) foi de 5,4% em 2007,
contra 3,8% em 2006.
Já o economista Fábio Romão, da LCA Consultores, pondera que, "quanto mais alta é a
taxa de inflação, mais difícil é
recompor as perdas" dos salários pois o empresário tem que
repassar o aumento nominal
para os preços dos produtos. A
média do INPC nas datas-base,
mensurada pelo Dieese, foi de
3,9% em 2007 e 3,5% em 2006.
Silvestre Prado, supervisor
do órgão em São Paulo, ressalta
ainda que, enquanto os sindicatos "negociam sempre o passado", para pelo menos repor as
perdas, as empresas olham para a frente, tentando prever o
comportamento da inflação
nos 12 meses seguintes.
Com ganho real em mais de
70% das convenções e dos acordos coletivos desde 2005, os
sindicatos cogitam agora colocar o crescimento do PIB na
mesa de negociação, como foi
feito com o salário mínimo, já
que o crescimento econômico
cria um ambiente mais favorável para a distribuição de renda.
Em 2003, por exemplo, quando
o PIB cresceu 1,1%, pouco mais
de 40% das negociações resultaram em reajustes iguais ou
acima da inflação.
João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força
Sindical, diz que a entidade está
orientando os sindicatos filiados a considerar o PIB de cada
setor para chegar a um percentual de reajuste a ser discutido
e destaca que a economia está
em expansão puxada pelo mercado interno, logo o aumento
do poder aquisitivo da população beneficia todo o país.
"Ainda não conseguimos fazer com que a produtividade se
reverta em ganho para os trabalhadores", argumenta Gilda
Almeida, secretária da CTB
(Central dos Trabalhadores e
Trabalhadoras do Brasil).
Na opinião de Artur Henrique, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores),
"o momento é propício para
ampliar a pauta dos trabalhadores", o que inclui também
reivindicar maior participação
no lucro e resultado das empresas e outras formas de salário
indireto para aumentar a remuneração do empregado.
Para o professor da Unicamp,
o que deve ser observado pelas
centrais sindicais é a produtividade, pois o PIB pode ter crescido apenas pela adição de mais
empresas ao setor.
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