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Dividido, Copom mantém juros e indica alta em abril
Três dos oito membros do comitê votaram pela elevação da Selic em 0,5 ponto
Principal foco da autoridade
monetária é a inflação,
cuja projeção para 2010 já
supera 5%; reunião pode ter sido a última com Meirelles
EDUARDO CUCOLO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Naquela que pode ter sido a
última reunião sob o comando
do presidente Henrique Meirelles, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) decidiu ontem manter a
taxa básica de juros inalterada
em 8,75% ao ano.
A decisão, no entanto, não foi
unânime, ao contrário do que
ocorreu nas cinco reuniões anteriores. Foram cinco votos a
favor da manutenção e três pelo aumento dos juros em 0,5
ponto percentual. Na avaliação
de economistas, esse é um sinal
de que a taxa Selic vai começar
a subir no final de abril, quando
o Copom volta a se reunir.
No comunicado divulgado
pelo Banco Central após a reunião, a instituição diz que "irá
monitorar atentamente a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião
para então definir os próximos
passos na sua estratégia de política monetária".
O principal indicador a ser
monitorado será a inflação. O
BC tem como objetivo deixar o
índice oficial de preços dentro
da meta de 4,5% em 2010. Nos
últimos 12 meses, a taxa acumulada está em 4,83%, e as previsões dos analistas são que
passe de 5% em dezembro.
Diante de um BC dividido, o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva pediu ao presidente da
instituição que tentasse evitar
uma alta dos juros às vésperas
de uma definição no quadro
eleitoral, segundo reportagem
publicada na Folha de segunda-feira.
No final do mês, os candidatos a cargos públicos nas próximas eleições terão de deixar o
governo. Isso inclui a ministra
Dilma Rousseff (Casa Civil),
pré-candidata do PT à Presidência, e o próprio Meirelles,
que deve concorrer ao Senado
pelo PMDB de Goiás.
Além de evitar críticas da
oposição neste momento, parte do governo, incluindo o Ministério da Fazenda, não vê necessidade de um aumento dos
juros agora. Um dos argumentos é que o BC já vai retirar, a
partir de abril, R$ 71 bilhões da
economia por meio da elevação
nos depósitos compulsórios
(parcela do dinheiro depositado pelos clientes que os bancos
têm de deixar parada no BC).
Essa foi uma das principais
medidas adotadas no final de
2008 para amenizar os efeitos
da crise, ao lado da redução dos
juros. Embora também afete o
crédito, o BC avalia que essa
mudança não substitui a necessidade de elevar os juros.
Outro fator que também coloca pressão sobre o BC para
mexer nos juros são os dados
recentes que mostram a recuperação da economia, o que foi
confirmado na semana passada
pela divulgação do PIB (soma
dos bens e serviços produzidos
no país em um determinado
período), que avançou 4,3% no
quarto trimestre de 2009 em
relação ao mesmo período do
ano anterior.
Se forem confirmadas as previsões feitas pelos economistas
consultados pelo Banco Central na pesquisa Focus, a Selic
deve terminar o último ano do
governo Lula em 11,25%. Os juros subiram pela última vez em
setembro de 2008, antes da
quebra do banco Lehman Brothers. A piora na crise financeira que se seguiu levou o BC a
reduzir a Selic entre janeiro e
julho, de 13,75% ao ano para o
patamar atual.
Com a estabilidade da Selic, o
Brasil mantém a liderança no
ranking dos países com maior
juro real do planeta (4% ao
ano), deixando em segundo lugar a Indonésia (2,6%), de
acordo com a consultoria UpTrend. O Copom volta a se reunir em 27 e 28 de abril.
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