São Paulo, quinta-feira, 18 de março de 2010

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Protesto por royalties reúne 80 mil no Rio

Ato foi convocado por Sérgio Cabral, que decretou ponto facultativo; governador não quer perder recursos com nova divisão

Devido à chuva, não houve discursos no palanque, deixando sem tom político a manifestação, resumida a show com artistas

Felipe Dana/Associated Press
Pessoas protestam no centro do Rio contra mudanças na lei que regula a distribuição de recursos da produção de petróleo

DA SUCURSAL DO RIO

Um ato político sem discurso de políticos; uma manifestação popular sustentada pela máquina pública. Assim pode ser definida a mobilização que reuniu ontem no centro do Rio, sob temporal, cerca de 80 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, que responderam à convocação do governador Sérgio Cabral (PMDB) para protestar contra mudanças na lei que regula repasses a Estados e a municípios calculados a partir da produção de petróleo no país.
Houve ponto facultativo no Estado e em muitos municípios, e operários do PAC pararam os trabalhos às 12h e foram obrigados a ir ao evento.
A falta de discursos no palanque deixou sem tom político a manifestação, resumida a show de música, com artistas, como Xuxa, esporadicamente criticando a emenda dos deputados Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) e Humberto Souto (PPS-MG), que redistribui os royalties do petróleo, o que deve tirar cerca de R$ 7,5 bilhões de receitas do Estado do Rio.
O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), foi o único político a falar, por cerca de um minuto, e disse que era um evento de celebração, com "a cara do Rio", iniciada com um funk preparado para o ato que dizia: "Pré-sal é nosso sim/É do nosso povão/Não adianta olho grande e ambição".
Para Cabral, foi um sucesso. "Vocês estão preocupados com isso? Milhares vieram, foi evidentemente um ato político, com gente de todos os partidos. Além de estar muita chuva, ia ser uma discurseira muito longa e os artistas tinham que dar a sua mensagem. Eu e [o governador do Espírito Santo, Paulo] Hartung já estamos falando todo dia sobre isso."
Mais cedo, em almoço com o ex-ministro Tarso Genro, Cabral havia atacado a mudança nos royalties: "Esses recursos roubados do Rio não resolvem o problema de nenhuma unidade da Federação".
A ex-governadora Rosinha Garotinho criticou Cabral. "Estou decepcionada. A população veio aqui para quê? Para defender os royalties. Mas cadê o discurso político, o comando?"
Embora convidado anteontem pelo governo estadual, o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), pré-candidato do PV à sucessão de Cabral, preferiu seguir no meio da multidão.
Coube aos 5.000 policiais militares organizar o caos, sem sucesso. Vestidos com a camisa oficial da manifestação, carregavam cordas da área VIP, para políticos e convidados.
A concentração começou no início da tarde em frente à igreja da Candelária. Marcada para as 16h, a passeata começou 45 minutos depois. Por causa da chuva, andou rapidamente. Menos de meia hora depois já chegara à Cinelândia.

"O que é royalty"?
Longe do palco, entre uma foto e outra com os amigos, o funcionário da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos) Plínio Silva dos Santos, 37, pediu ajuda aos amigos para explicar o mote da passeata.
"É que eles querem levar nosso dinheiro para outros Estados." Que dinheiro? "Espera um pouco. Vem aqui falar com a menina!", disse, puxando o amigo, também funcionário da Cedae, Roger Goboni, 46.
"É o dinheiro do petróleo, que não é do pré-sal, é do pós-sal, sabe como é?", ensina Bogoni. E os royalties? "Vixe... O que é royalty?"
(SERGIO TORRES, RAPHAEL GOMIDE, AUDREY FURLANETO, ITALO NOGUEIRA e SERGIO RANGEL)


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