|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Protesto por royalties reúne 80 mil no Rio
Ato foi convocado por Sérgio Cabral, que decretou ponto facultativo; governador não quer perder recursos com nova divisão
Devido à chuva, não houve discursos no palanque, deixando sem tom político
a manifestação, resumida
a show com artistas
Felipe Dana/Associated Press
|
|
Pessoas protestam no centro do Rio contra mudanças na lei que regula a distribuição de recursos da produção de petróleo
DA SUCURSAL DO RIO
Um ato político sem discurso
de políticos; uma manifestação
popular sustentada pela máquina pública. Assim pode ser
definida a mobilização que reuniu ontem no centro do Rio,
sob temporal, cerca de 80 mil
pessoas, segundo a Polícia Militar, que responderam à convocação do governador Sérgio Cabral (PMDB) para protestar
contra mudanças na lei que regula repasses a Estados e a municípios calculados a partir da
produção de petróleo no país.
Houve ponto facultativo no
Estado e em muitos municípios, e operários do PAC pararam os trabalhos às 12h e foram
obrigados a ir ao evento.
A falta de discursos no palanque deixou sem tom político a
manifestação, resumida a show
de música, com artistas, como
Xuxa, esporadicamente criticando a emenda dos deputados
Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) e
Humberto Souto (PPS-MG),
que redistribui os royalties do
petróleo, o que deve tirar cerca
de R$ 7,5 bilhões de receitas do
Estado do Rio.
O prefeito do Rio, Eduardo
Paes (PMDB), foi o único político a falar, por cerca de um minuto, e disse que era um evento
de celebração, com "a cara do
Rio", iniciada com um funk
preparado para o ato que dizia:
"Pré-sal é nosso sim/É do nosso povão/Não adianta olho
grande e ambição".
Para Cabral, foi um sucesso.
"Vocês estão preocupados com
isso? Milhares vieram, foi evidentemente um ato político,
com gente de todos os partidos.
Além de estar muita chuva, ia
ser uma discurseira muito longa e os artistas tinham que dar a
sua mensagem. Eu e [o governador do Espírito Santo, Paulo]
Hartung já estamos falando todo dia sobre isso."
Mais cedo, em almoço com o
ex-ministro Tarso Genro, Cabral havia atacado a mudança
nos royalties: "Esses recursos
roubados do Rio não resolvem
o problema de nenhuma unidade da Federação".
A ex-governadora Rosinha
Garotinho criticou Cabral. "Estou decepcionada. A população
veio aqui para quê? Para defender os royalties. Mas cadê o discurso político, o comando?"
Embora convidado anteontem pelo governo estadual, o
deputado Fernando Gabeira
(PV-RJ), pré-candidato do PV à
sucessão de Cabral, preferiu seguir no meio da multidão.
Coube aos 5.000 policiais militares organizar o caos, sem sucesso. Vestidos com a camisa
oficial da manifestação, carregavam cordas da área VIP, para
políticos e convidados.
A concentração começou no
início da tarde em frente à igreja da Candelária. Marcada para
as 16h, a passeata começou 45
minutos depois. Por causa da
chuva, andou rapidamente.
Menos de meia hora depois já
chegara à Cinelândia.
"O que é royalty"?
Longe do palco, entre uma
foto e outra com os amigos, o
funcionário da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos) Plínio Silva dos Santos, 37,
pediu ajuda aos amigos para explicar o mote da passeata.
"É que eles querem levar
nosso dinheiro para outros Estados." Que dinheiro? "Espera
um pouco. Vem aqui falar com
a menina!", disse, puxando o
amigo, também funcionário da
Cedae, Roger Goboni, 46.
"É o dinheiro do petróleo,
que não é do pré-sal, é do pós-sal, sabe como é?", ensina Bogoni. E os royalties? "Vixe... O
que é royalty?"
(SERGIO TORRES, RAPHAEL GOMIDE, AUDREY FURLANETO, ITALO NOGUEIRA e
SERGIO RANGEL)
Texto Anterior: Serviço Folha-IOB Próximo Texto: Operários de obras do PAC vão a passeata por promessa de R$ 10 Índice
|