São Paulo, sábado, 18 de abril de 2009

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Medida é insuficiente, dizem especialistas

Para críticos, governo não demonstra ter estratégia consistente contra a crise nem revela critérios para beneficiar setores

Faltam medidas de longo prazo, diz Francisco Barone, da FGV; política anticíclica não pode ficar à mercê de lobbies, avalia Raul Velloso


SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Especialistas ouvidos pela Folha acreditam que medidas pontuais, como a desoneração de eletrodomésticos da chamada linha branca, são insuficientes para combater os efeitos da crise -quando não arbitrárias.
O diretor do Instituto de Economia da UFRJ, João Saboia, diz que outros setores estão em situação mais difícil do que o segmento da indústria agraciado com a redução de IPI ontem. "Não entendo por que a preferência por desonerar esses produtos. A indústria de bens de capital enfrenta uma queda muito forte na produção e não vi nenhuma ajuda específica para esses empresários."
"A indústria de máquinas e equipamentos é muito mais importante, e sua desoneração traria benefícios para toda a indústria, e não apenas para os consumidores", completa.
Especialista em contas públicas, o economista Raul Velloso acredita que a medida é ineficaz para combater os efeitos da crise. "Falta ao governo criar um plano, uma estratégia clara para reduzir o impacto da crise na economia. É preciso justificar claramente por que se escolhe um setor ou outro para ser beneficiado e mostrar o impacto da medida", afirma.
Para Velloso, uma ação ordenada e mais abrangente legitimaria a atuação do governo e teria mais apoio. "Falta ao governo discutir mais com a sociedade como a crise deve ser combatida. A política anticíclica não pode ficar à mercê da atuação do lobby do dia, ou perde a legitimidade. Tudo isso tem um custo para nós."
A medida anunciada ontem seria considerada válida pelo economista Francisco Barone, professor de administração pública da Fundação Getulio Vargas, desde que viesse acompanhada de medidas de longo prazo. "Se for para manter empregos e salários, é aceitável, mas os problemas do setor reaparecerão quando a medida perder a validade. É preciso avançar em uma reforma tributária que beneficie todos os setores econômicos."
Barone lembra que a reforma proporcionaria menor carga tributária de forma permanente. "Isso evita o risco de ficar prorrogando medidas como esta, o que pode trazer impacto para a arrecadação."
Para o economista-chefe da RC Consultores, Marcel Pereira, as medidas pontuais são válidas, mas o governo precisa cortar na carne. "Os setores escolhidos têm importante encadeamento em outros setores, além de gerarem muitos empregos. Mas é necessário contrabalançar a medida com redução nos gastos do governo."


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