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Medida é insuficiente, dizem especialistas
Para críticos, governo não demonstra ter estratégia consistente contra a crise nem revela critérios para beneficiar setores
Faltam medidas de longo prazo, diz Francisco Barone, da FGV; política anticíclica não pode ficar à mercê de lobbies, avalia Raul Velloso
SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO
Especialistas ouvidos pela
Folha acreditam que medidas
pontuais, como a desoneração
de eletrodomésticos da chamada linha branca, são insuficientes para combater os efeitos da
crise -quando não arbitrárias.
O diretor do Instituto de
Economia da UFRJ, João Saboia, diz que outros setores estão em situação mais difícil do
que o segmento da indústria
agraciado com a redução de IPI
ontem. "Não entendo por que a
preferência por desonerar esses produtos. A indústria de
bens de capital enfrenta uma
queda muito forte na produção
e não vi nenhuma ajuda específica para esses empresários."
"A indústria de máquinas e
equipamentos é muito mais
importante, e sua desoneração
traria benefícios para toda a indústria, e não apenas para os
consumidores", completa.
Especialista em contas públicas, o economista Raul Velloso acredita que a medida é
ineficaz para combater os efeitos da crise. "Falta ao governo
criar um plano, uma estratégia
clara para reduzir o impacto da
crise na economia. É preciso
justificar claramente por que
se escolhe um setor ou outro
para ser beneficiado e mostrar
o impacto da medida", afirma.
Para Velloso, uma ação ordenada e mais abrangente legitimaria a atuação do governo e
teria mais apoio. "Falta ao governo discutir mais com a sociedade como a crise deve ser
combatida. A política anticíclica não pode ficar à mercê da
atuação do lobby do dia, ou
perde a legitimidade. Tudo isso
tem um custo para nós."
A medida anunciada ontem
seria considerada válida pelo
economista Francisco Barone,
professor de administração pública da Fundação Getulio Vargas, desde que viesse acompanhada de medidas de longo
prazo. "Se for para manter empregos e salários, é aceitável,
mas os problemas do setor reaparecerão quando a medida
perder a validade. É preciso
avançar em uma reforma tributária que beneficie todos os
setores econômicos."
Barone lembra que a reforma proporcionaria menor carga tributária de forma permanente. "Isso evita o risco de ficar prorrogando medidas como esta, o que pode trazer impacto para a arrecadação."
Para o economista-chefe da
RC Consultores, Marcel Pereira, as medidas pontuais são válidas, mas o governo precisa
cortar na carne. "Os setores escolhidos têm importante encadeamento em outros setores,
além de gerarem muitos empregos. Mas é necessário contrabalançar a medida com redução nos gastos do governo."
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