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EUA conseguem unir todos contra ele
DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI
O unilateralismo americano
conseguiu unir, contra os EUA, os
15 países da União Européia e os
33 da América Latina/Caribe, reunidos em Madri, que emitirão hoje comunicado contendo "forte
crítica a medidas unilaterais por
parte de alguns países", como antecipou ontem o chanceler espanhol Josep Piqué.
Como fez Fernando Henrique
Cardoso, Piqué não usou o nome
dos EUA, mas lamentou que certas medidas por eles adotadas
"vão contra o desenvolvimento
econômico em todo o mundo".
É uma óbvia alusão à proteção
aos produtores americanos de
aço e à "farm bill", a mais recente
legislação agrícola dos EUA, que
aumenta em US$ 19 bilhões por
ano os subsídios aos agricultores,
segundo as contas do Itamaraty.
O unilateralismo do governo
Bush frequentou as conversas entre o presidente brasileiro e o presidente da Comissão Européia,
braço executivo do bloco de 15
países, o italiano Romano Prodi.
Dele se falou até na conversa entre
FHC e o primeiro-ministro britânico Tony Blair, o mais fiel e mais
incondicional aliado dos EUA.
"Há uma preocupação com o
que se poderia chamar de onda
protecionista, que deixa pouca
margem de sucesso para os processos de liberalização comercial
em curso", resume o embaixador
José Alfredo Graça Lima, presente
aos dois encontros e que está assumindo a representação do Brasil junto à UE, em Bruxelas.
O temor do Brasil, com a onda
protecionista, em especial na área
agrícola, é o de ver ainda mais fechados os dois maiores mercados
do mundo, o dos EUA e o da UE.
"Se um país que se diz liberalizante [os EUA" dá subsídios, abre
para o outro [a UE" pretexto para
não mexer na sua política agrícola, já protecionista", diz o embaixador Clodoaldo Hugueney,
principal negociador brasileiro.
O comissário europeu para o
comércio, Pascal Lamy, admite o
risco. "[A legislação americana"
reforça o argumento dos que
acham que é estúpido desmantelar a política agrícola européia."
Já Chris Patten, comissário europeu para assuntos externos, citou o discurso de FHC para mostrar o que deve ser feito: "entrar
no campo de jogo". Ou agir como
ele diz que a Europa está agindo:
trabalhar para a ratificação do
Protocolo de Kyoto e do Tribunal
Penal Internacional, que qualificou de "a mais importante evolução nas leis internacionais desde o
advento das Nações Unidas".
Mas, na avaliação de um especialista, a Europa pode manter o
seu protecionismo por motivos
políticos internos, sem necessitar
do pretexto dado pelos EUA. Alfredo Valladão, da cadeira Mercosul no Instituto de Estudos Políticos de Paris, diz que a ascensão da
extrema direita na França tende a
fazer com que o governo que surja
das eleições parlamentares de junho fuja da liberalização agrícola.
Seria vista como concessão a estrangeiros, quando a xenofobia
está em alta na Europa.
(CR)
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