São Paulo, sábado, 18 de maio de 2002

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EUA conseguem unir todos contra ele

DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI

O unilateralismo americano conseguiu unir, contra os EUA, os 15 países da União Européia e os 33 da América Latina/Caribe, reunidos em Madri, que emitirão hoje comunicado contendo "forte crítica a medidas unilaterais por parte de alguns países", como antecipou ontem o chanceler espanhol Josep Piqué.
Como fez Fernando Henrique Cardoso, Piqué não usou o nome dos EUA, mas lamentou que certas medidas por eles adotadas "vão contra o desenvolvimento econômico em todo o mundo".
É uma óbvia alusão à proteção aos produtores americanos de aço e à "farm bill", a mais recente legislação agrícola dos EUA, que aumenta em US$ 19 bilhões por ano os subsídios aos agricultores, segundo as contas do Itamaraty.
O unilateralismo do governo Bush frequentou as conversas entre o presidente brasileiro e o presidente da Comissão Européia, braço executivo do bloco de 15 países, o italiano Romano Prodi. Dele se falou até na conversa entre FHC e o primeiro-ministro britânico Tony Blair, o mais fiel e mais incondicional aliado dos EUA.
"Há uma preocupação com o que se poderia chamar de onda protecionista, que deixa pouca margem de sucesso para os processos de liberalização comercial em curso", resume o embaixador José Alfredo Graça Lima, presente aos dois encontros e que está assumindo a representação do Brasil junto à UE, em Bruxelas.
O temor do Brasil, com a onda protecionista, em especial na área agrícola, é o de ver ainda mais fechados os dois maiores mercados do mundo, o dos EUA e o da UE.
"Se um país que se diz liberalizante [os EUA" dá subsídios, abre para o outro [a UE" pretexto para não mexer na sua política agrícola, já protecionista", diz o embaixador Clodoaldo Hugueney, principal negociador brasileiro.
O comissário europeu para o comércio, Pascal Lamy, admite o risco. "[A legislação americana" reforça o argumento dos que acham que é estúpido desmantelar a política agrícola européia."
Já Chris Patten, comissário europeu para assuntos externos, citou o discurso de FHC para mostrar o que deve ser feito: "entrar no campo de jogo". Ou agir como ele diz que a Europa está agindo: trabalhar para a ratificação do Protocolo de Kyoto e do Tribunal Penal Internacional, que qualificou de "a mais importante evolução nas leis internacionais desde o advento das Nações Unidas".
Mas, na avaliação de um especialista, a Europa pode manter o seu protecionismo por motivos políticos internos, sem necessitar do pretexto dado pelos EUA. Alfredo Valladão, da cadeira Mercosul no Instituto de Estudos Políticos de Paris, diz que a ascensão da extrema direita na França tende a fazer com que o governo que surja das eleições parlamentares de junho fuja da liberalização agrícola.
Seria vista como concessão a estrangeiros, quando a xenofobia está em alta na Europa. (CR)


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