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LUÍS NASSIF
O susto com as normas técnicas
Um susto e um constrangimento internacional foram o preço pago pelo governo e
pelas empresas brasileiras para
acordar para a importância das
normas técnicas. No dia 12 de
abril passado o Brasil foi excluído da ISO, a organização que
define as normas do sistema
ISO. E na companhia na Nigéria
e da Bósnia. A razão foi a falta
de pagamento das contribuições.
O vexame foi duplo. Além de
país importante dentro do sistema ISO, membro fundador, sendo constantemente convocado
para participar de comitês técnicos, o presidente da organização
é um brasileiro, Mário Cortopassi, ex-presidente da ABNT
(Associação Brasileira de Normas Técnicas). De qualquer modo, valeu pelo fato de o incidente
ter chamado a atenção para o
órgão.
A ABNT é uma entidade privada, sem fins lucrativos, de caráter associativo, de utilidade
pública há 60 anos, com poder
delegado do governo federal para ser fórum nacional de normalização. Ou seja, é a entidade
que cuida das normas brasileiras.
Não é pouca coisa. Nos próximos anos, as barreiras comerciais deixarão de ser de ordem
geográfica e passarão a ser as
normas técnicas que cada país
definir para seus produtos. Prova disso foi o bloqueio imposto
às exportações brasileiras de
móveis cuja madeira não fosse
proveniente de florestas manejadas de acordo com normas técnicas. Coube à ABNT, em cinco
meses, definir as normas.
No próximo mês haverá nova
batalha, com norte-americanos
e japoneses tentando alterar as
normas técnicas para a siderurgia, visando criar empecilhos
para a produção brasileira.
A ABNT é composta de 12 mil
técnicos de todos os ramos de especialização, trabalhando em 53
comitês de normalização. É a
maior rede de conhecimento do
Cone Sul. Possui 10,6 mil normas catalogadas, que abarcam
regulação de mercado, certificação de produtos e sistemas. É peça central não apenas para políticas de comércio exterior, mas
para a própria elevação da qualidade dos produtos vendidos no
país.
Os problemas por ela enfrentados foram de ordem financeira.
Segundo a ABNT, em toda parte
do mundo sistemas de normas
técnicas são subsidiados pelo governo. Aqui, o governo entra
com 0,5%, bancado pelos ministérios da Ciência e Tecnologia e
do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior. Ou seja, R$
500 mil de contribuição para um
orçamento de R$ 10 milhões.
Do orçamento de R$ 10 milhões, R$ 6,5 milhões vieram da
venda de normas, R$ 1,5 milhão,
de contribuições dos sócios (apenas 1.200 sócios, empresas e pessoas físicas), e R$ 2,5 milhões, de
atividades de certificação de
produtos ou sistemas.
Pior, houve demora na mudança do modelo de gestão do
órgão, que o fez acumular prejuízos de R$ 20 milhões. Teve
início um plano de reestruturação, com ajuda de empresas como Gerdau, Petrobras, Votorantim e Pirelli, entre outras. A reestruturação da entidade implicou redução de 30% na folha de
pagamento e nas áreas utilizadas em São Paulo e no Rio. Refinanciou-se parte do passivo. E
estão sendo inaugurados mais
três comitês -de café, segurança alimentar e manejo florestal.
Para resolver a inadimplência,
o MCT repassou mais R$ 500
mil para a ABNT. E foi criada a
categoria de sócio master, com
anuidade de R$ 25 mil, que obteve 40 adesões, permitindo pagar as anuidades devidas à ISO e
à IEC (International Electric Comission).
O Brasil é país curioso mesmo.
Não se consumou o mal, mas é
impressionante como ainda há
um manto de amadorismo em
todas as áreas. A ABNT precisa
de uma ninharia, comparada
com os interesses que ela representa. E a situação tem de ser resolvida apenas na prorrogação do jogo.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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