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Política domina seminário sobre metas de inflação
LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
A terceira edição do seminário sobre o sistema de metas para a inflação, promovido ontem pelo Banco Central, foi marcada pelo tom
político dado pelos palestrantes aos temas econômicos.
Ex-dirigentes do BC, como
Affonso Celso Pastore (ex-presidente), Daniel Gleizer
(área internacional) e Sérgio
Werlang (política econômica), cobraram dos candidatos à Presidência o compromisso de manter o sistema
de metas para a inflação e a
responsabilidade fiscal.
O próprio presidente do
BC, Armínio Fraga, em entrevista depois do seminário,
disse não acreditar que o
próximo governo desista do
sistema de metas, por achar
que a sociedade não aceitaria, e disse que sem uma política fiscal sustentável o BC
não conseguiria "administrar sozinho" pressões que
poderiam vir a ser criadas.
"É preciso que haja regimes fiscal e monetário cada
um cuidando da sua área
[...". É condicionante que os
dois funcionem bem, é fundamental. Quando isso
acontece, é uma beleza, você
tem um círculo virtuoso. Se
um dos dois falha, você, com
o tempo, tem problemas. Os
problemas podem ser gravíssimos como nós conhecemos", afirmou Fraga.
Para Daniel Gleizer, o BC
precisa conquistar autonomia operacional "institucionalizada" (definida por lei)
para ter a credibilidade necessária ao cumprimento de
suas metas (de inflação).
Segundo ele, muitas das
incertezas hoje do mercado
se devem à falta de garantia
de que políticas implementadas pelo BC, como o sistema de metas de inflação, serão mantidas por governos
futuros. "Essa fragilidade fica patente em ano eleitoral,
quando algum candidato
não tem o compromisso de
manter certas conquistas."
Pastore abriu sua exposição com uma piada sobre a
sobrevivência do sistema de
metas de inflação no país. "O
grande desafio do "inflation
target" [meta de inflação] no
Brasil é termos o quarto,
quinto e sexto seminário de
"inflation target'", disse.
Para ele, o grande entrave
ao crescimento econômico
do país hoje é o alto endividamento, que, para ser reduzido, exige necessariamente
uma política fiscal austera,
com obtenção contínua de
superávits primários (receitas menos despesas, sem incluir gastos com juros).
O ex-presidente do BC traçou um paralelo entre as altas taxas de juros cobradas
sobre as operações de crédito no Brasil e o risco-país.
Segundo Pastore, os juros
de médio e longo prazo no
Brasil estão muito mais correlacionados ao risco país do
que à taxa básica de juros
(Selic) definida pelo BC.
"O meu temor é se o novo
governo vai manter o compromisso fiscal [gastar menos do que arrecada, para
diminuir a proporção da dívida em relação ao PIB", para liberar a política monetária [dar mais espaço ao BC
para reduzir juros"", disse.
O economista-chefe do
FMI (Fundo Monetário Internacional), Kenneth Rogoff, que também participou
do seminário, defendeu o
sistema de metas e disse que
a manutenção da política fiscal é muito importante para
o Brasil, dado o seu alto endividamento. Ele reconheceu que o combate à inflação, objetivo maior do BC, é
fundamental para o país.
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