São Paulo, sábado, 18 de maio de 2002

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Política domina seminário sobre metas de inflação

LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

A terceira edição do seminário sobre o sistema de metas para a inflação, promovido ontem pelo Banco Central, foi marcada pelo tom político dado pelos palestrantes aos temas econômicos.
Ex-dirigentes do BC, como Affonso Celso Pastore (ex-presidente), Daniel Gleizer (área internacional) e Sérgio Werlang (política econômica), cobraram dos candidatos à Presidência o compromisso de manter o sistema de metas para a inflação e a responsabilidade fiscal.
O próprio presidente do BC, Armínio Fraga, em entrevista depois do seminário, disse não acreditar que o próximo governo desista do sistema de metas, por achar que a sociedade não aceitaria, e disse que sem uma política fiscal sustentável o BC não conseguiria "administrar sozinho" pressões que poderiam vir a ser criadas.
"É preciso que haja regimes fiscal e monetário cada um cuidando da sua área [...". É condicionante que os dois funcionem bem, é fundamental. Quando isso acontece, é uma beleza, você tem um círculo virtuoso. Se um dos dois falha, você, com o tempo, tem problemas. Os problemas podem ser gravíssimos como nós conhecemos", afirmou Fraga.
Para Daniel Gleizer, o BC precisa conquistar autonomia operacional "institucionalizada" (definida por lei) para ter a credibilidade necessária ao cumprimento de suas metas (de inflação).
Segundo ele, muitas das incertezas hoje do mercado se devem à falta de garantia de que políticas implementadas pelo BC, como o sistema de metas de inflação, serão mantidas por governos futuros. "Essa fragilidade fica patente em ano eleitoral, quando algum candidato não tem o compromisso de manter certas conquistas."
Pastore abriu sua exposição com uma piada sobre a sobrevivência do sistema de metas de inflação no país. "O grande desafio do "inflation target" [meta de inflação] no Brasil é termos o quarto, quinto e sexto seminário de "inflation target'", disse.
Para ele, o grande entrave ao crescimento econômico do país hoje é o alto endividamento, que, para ser reduzido, exige necessariamente uma política fiscal austera, com obtenção contínua de superávits primários (receitas menos despesas, sem incluir gastos com juros).
O ex-presidente do BC traçou um paralelo entre as altas taxas de juros cobradas sobre as operações de crédito no Brasil e o risco-país.
Segundo Pastore, os juros de médio e longo prazo no Brasil estão muito mais correlacionados ao risco país do que à taxa básica de juros (Selic) definida pelo BC.
"O meu temor é se o novo governo vai manter o compromisso fiscal [gastar menos do que arrecada, para diminuir a proporção da dívida em relação ao PIB", para liberar a política monetária [dar mais espaço ao BC para reduzir juros"", disse.
O economista-chefe do FMI (Fundo Monetário Internacional), Kenneth Rogoff, que também participou do seminário, defendeu o sistema de metas e disse que a manutenção da política fiscal é muito importante para o Brasil, dado o seu alto endividamento. Ele reconheceu que o combate à inflação, objetivo maior do BC, é fundamental para o país.



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