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São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS

Deflação nos EUA e recessão na UE deprimem expectativas

GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA

O banco central dos Estados Unidos já admitiu o risco de deflação no país. Em abril, os preços pagos pelos consumidores norte-americanos tiveram a maior queda em 19 meses. E apesar dos juros em recorde de baixa, caiu o dinamismo da construção civil.
O problema de fundo é a estagnação dos investimentos. Ou seja, por trás da queda nos preços está a sombra da retração econômica.
Alguns economistas temem uma espiral deflacionária. Em tese, quando os preços caem os consumidores aumentam seus gastos. Mas também é possível que a incerteza frente ao futuro impeça um aumento das compras. Nesse caso, a redução de preços leva não a uma liquidação de estoques mas a uma queda na rentabilidade das empresas. Elas cortam o investimento e a produção, confirmando os temores dos consumidores. O círculo vicioso termina em recessão.
A União Européia também sofre do mal maior: perda de dinamismo. É o que impede França e Alemanha de cumprirem as metas de ajuste fiscal que supostamente lastreariam o euro.
Como as metas não são cumpridas, o Banco Central Europeu reluta em reduzir os juros. Ao manter a taxa de juros, as autoridades reforçam a tendência recessiva.
Surge assim mais um círculo vicioso: a debilidade econômica inviabiliza as metas de ajuste fiscal (cai a arrecadação de impostos) e os juros altos debilitam ainda mais a economia, tornando ainda mais difícil o cumprimento das metas fiscais.
Surge assim uma perversa simetria entre círculos viciosos nas duas áreas econômicas onde ainda há esperança de evitar o pior, já que no Japão (e, agora, na China) o cenário também é deprimente. As respostas oferecidas pelas autoridades econômicas nos Estados Unidos, na União Européia e na Ásia estão longe do consenso entre políticos e economistas.

Estados em desequilíbrio
Os economistas observam de modo detalhado as oscilações de juros, câmbio e finanças públicas em todos os países. Falta em seus campos de visão, no entanto, um diagnóstico da crise mais ampla que abala a própria capacidade de ação dos Estados.
Juros, câmbio e contas públicas nada mais são que manifestações da força relativa dos Estados. Mas os economistas observam apenas os números da economia.
O mundo entrou numa crise do sistema internacional de Estados da qual as manifestações econômicas são apenas a ponta visível do problema.
A queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria colocaram as relações internacionais e a economia mundial em trajetórias de consolidação apenas aparente da democracia representativa e da economia de mercado.
O sistema de regulação entre Estados, que parecia rumar para um apogeu multilateral marcado por cúpulas globais, entrou em colapso. O estresse aumentou ainda mais com a ruptura do pacto entre Estados Unidos e União Européia em torno do controle sobre o Oriente Médio e as suas fontes de energia.
As redes terroristas globais, as redes financeiras igualmente mundializadas e os movimentos da sociedade civil internacional mostraram que o poder dos Estados Nacionais está em questão (para os interessados, estou coordenando o curso on-line "Terra em Transe", em http://www.cidade.usp.br/educar2003/terra2.php). Nesse contexto, falar em câmbio e juros é apenas arranhar a superfície dos problemas.



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