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São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

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CÚPULA

Ricos dizem que vão impulsionar livre comércio, mas não anunciam medidas imediatas para atacar crise global

G8 diz que manterá cronograma de Doha

MARIA LUIZA ABBOTT
DE DEAUVILLE (FRANÇA)

Os ministros de Finanças do G8 (grupo dos sete países mais ricos, mais a Rússia) assumiram forte compromisso com a promoção do desenvolvimento dos países do sul -pobres ou em desenvolvimento- e com a liberalização comercial, incluindo o cronograma e os objetivos da rodada de Doha da OMC (Organização Mundial do Comércio).
A rodada inclui a redução gradual de subsídios agrícolas já a partir de janeiro de 2005, como quer o Brasil. No comunicado do fim da reunião, divulgado ontem à tarde, os ministros dizem esse é um momento decisivo para o comércio e para o desenvolvimento, e que assumir suas responsabilidades é um dever deles com os países em desenvolvimento.
"Estamos determinados a alcançar os objetivos e o cronograma geral estabelecidos na agenda de Doha do desenvolvimento e a assegurar que a reunião ministerial (da OMC, em setembro) de Cancún tome as decisões necessárias para atingir esses objetivos", diz o comunicado da reunião, que é preparatória para o encontro de cúpula do G8 em junho, em Evian, que terá a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Compromissos assumidos devem ser cumpridos. É nosso dever, tanto quanto o é para o benefício de todos", acrescenta.
As negociações comerciais multilaterais enfrentam sérias dificuldades, entre elas a resistência de países europeus, especialmente a França, em rever os subsídios para agricultura. Em entrevista no fim da reunião, o ministro da Economia da França, Francis Mer, reconheceu que não será fácil assegurar o sucesso das negociações da rodada de Doha. "Mas economicamente e politicamente é do nosso interesse justificar a expectativa que os nossos vizinhos do sul têm nesse processo", disse.

Brasil como exemplo
Os ministros se comprometeram com reformas nos países ricos, mas também querem que os países em desenvolvimento façam reformas estruturais e de governança. Em troca, prometem fornecer os recursos necessários para apoiar a implementação dessas medidas "a médio prazo".
Mer citou o Brasil como exemplo para as reformas que devem ser implementadas em outros países em desenvolvimento. Disse que as mudanças esperadas do sul visam a assegurar maior acesso à educação e saúde, necessário para o crescimento econômico.
Os ministros do G8 também se comprometeram a reforçar o sistema de prevenção de crises financeiras de países emergentes.
Anunciaram que o Clube de Paris -onde são negociados empréstimos de país para país- vai buscar montar modelos de solução para países com dívidas insustentáveis, que incluiriam redução de débito mesmo para aqueles de renda média. Em troca, os países teriam que mostrar estar seguindo políticas econômicas que evitassem a sua volta ao Clube de Paris. Os credores privados participariam desses modelos, mas não está claro como seria o seu envolvimento.
No comunicado, os ministros deram apoio às cláusulas de ação coletiva (CACs) nas emissões de títulos da dívida dos governos (emissões soberanas de papéis), como as que foram incluídas em recente operação do Brasil. "Damos as boas-vindas às decisões de Brasil, África do Sul e Uruguai de adotar CACs, seguindo o exemplo do México, e encorajamos os países a adotar CACs com termos que facilitem reestruturação de dívida", diz o comunicado.

Confiança cautelosa
Para atender a esse compromisso com o desenvolvimento dos países do sul, os ministros também dizem ser necessário em primeiro lugar assegurar o crescimento nas suas próprias economias. Não anunciaram medidas imediatas para atacar as dificuldades atuais da economia mundial e fizeram uma avaliação positiva das perspectivas econômicas de longo prazo para países ricos e pobres.
"Embora os maiores riscos tenham se reduzido, nossas economias continuam a enfrentar muitos desafios. Mesmo assim, estamos confiantes no potencial para um crescimento mais forte", diz o comunicado.
O ministro francês insistiu que eles não vêem risco de deflação mundial e que acreditam que já existem condições para retomada do crescimento. O comunicado diz que a Europa vai continuar a estimular inovação e a "acelerar reformas de mercados de capital, de trabalho e produção para uma economia mais flexível".
Os Estados Unidos prometem atuar para "criar empregos e estimular poupança e investimento pelo setor privado".
O Japão diz que vai "continuar suas reformas estruturais, incluindo os setores financeiro e de empresas, e intensificar os esforços para combater a deflação".



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