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DIAS DE TENSÃO
Segundo consultoria, valor médio entre janeiro de 1999 e abril deste ano é de R$ 3,14; moeda fechou a R$ 3,125
Dólar real está na média histórica, diz estudo
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
A recente trajetória de alta do
dólar, que ontem fechou cotado
em R$ 3,125, é conseqüência de
dois movimentos, segundo analistas: a moeda americana está
buscando sua média histórica e
sofre, também, alguma pressão
especulativa.
Estudo da ABM Consulting
mostra que o valor médio real do
dólar entre janeiro de 1999 e abril
deste ano é R$ 3,14 -bem próximo, portanto do patamar de ontem. "Ainda há espaço para novas
altas da moeda nas próximas semanas", diz Gustavo Pedreira,
analista da ABM Consulting.
O câmbio real considera os efeitos da inflação americana medida
pelo CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês) e da
inflação brasileira refletida no
IGP-DI. A cotação média real
apontada pela ABM Consulting
compreende a variação cambial
do período de câmbio livre e, segundo Pedreira, é o melhor indicador do dólar real médio.
Segundo os analistas, a alta do
dólar se acentuou neste mês também por força de pressões do
mercado. "Houve interesse do
mercado em provocar volatilidade no câmbio para pressionar o
Copom a manter os juros na sua
próxima reunião", diz Alberto
Borges Matias, professor da Faculdade de Economia da USP de
Ribeirão Preto.
Ecos desse movimento vêm se
fazendo ouvir entre analistas de
bancos. "A moderada depreciação cambial dos últimos dias, se
permanente, deve impactar os
preços ao consumidor no futuro",
alerta Cristiano Oliveira, economista do Banco Schahin.
Segundo ele "a lógica do regime
de metas para a inflação exige que
a condução da política monetária
seja a mais conservadora possível.
Por isso, o cenário mais provável é
o de interrupção do ciclo de cortes
dos juros na reunião do Copom".
Paulo Possas, diretor da Eagle
Capital, que atua no mercado financeiro há mais de 30 anos, contesta esse tipo de análise. "O câmbio mudou de tendência -de
baixa para alta- e deve estabilizar acima do patamar em que ficou no início do ano. É um movimento natural", diz.
Até que o dólar ache seu piso
haverá oscilações e espaço para
especulações. Um dos fatores que
estariam puxando o dólar nos últimos dias, segundo Possas, é o
vencimento, amanhã, de US$ 2,06
bilhões em títulos e "swaps" cambiais e que serão resgatados pelo
Banco Central.
"Swaps" cambiais são contratos
vendidos pelo BC que pagam aos
investidores tudo o que a variação
cambial superar os juros acumulados em determinado período.
O resgate dos títulos e "swaps"
cambiais será feito de acordo com
a taxa Ptax de hoje. Essa taxa reflete o preço médio do dólar, calculado com base em todos os negócios feitos ao longo do dia.
"Os bancos, as empresas e os investidores que detêm essas posições em câmbio atuam no mercado de dólar para puxar a cotação
média e elevar os ganhos", observa Possas. Segundo ele, esses movimentos geram algum ruído interno às vésperas do Copom, mas
não deveriam ser considerados
para decidir o rumo dos juros.
Na sua opinião, o BC deve prosseguir a seqüência de cortes na taxa Selic. "A turbulência que afetou os mercados nas últimas semanas é conseqüência de manipulações externas da crise aberta
pela enorme mudança de posições dos "hedge funds" realizada
nos últimos meses", diz Possas.
Segundo ele, esses fundos de investimento internacionais -que
aplicam em títulos de dívida de
países emergentes, moedas, commodities etc.- já realizaram 75%
das trocas de aplicações necessárias para realizar lucros e se adaptarem à alta dos juros nos EUA.
"Eles apostaram nos emergentes e nas commodities, aproveitando os juros baixos dos EUA.
No início deste ano saíram desses
mercados, derrubando seus preços. Agora estão só esperando para voltar e comprar barato", diz.
O consultor Mauro Halfeld
também questiona a visão do
mercado de que a alta esperada
dos juros americanos possa chacoalhar a economia local. "Os
EUA devem subir os juros porque
há sinais de uma notável recuperação de sua economia. Isso é
uma boa notícia, significa que os
americanos estão consumindo
mais, o que impulsionará suas
importações e nossas exportações", diz. "Mas só se fala no lado
negativo: a futura alta dos juros."
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