São Paulo, terça-feira, 18 de maio de 2004

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Pressão no câmbio pode influenciar a decisão do Copom

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao manter a política de não renovar a dívida cambial, o governo gerou uma dificuldade a mais para o Copom (Comitê de Política Monetária) cortar os juros neste mês. Segundo especialistas ouvidos pela Folha, bancos e investidores tentarão forçar ao máximo a cotação do dólar na data de vencimento da dívida, para obter ganhos maiores em reais.
Amanhã, dia em que o Copom anuncia se mexe ou não na taxa básica de juros da economia, vencem cerca de US$ 2,5 bilhões em dívida cambial. O impacto da alta do dólar sobre a inflação é um dos principais aspectos avaliados pelo Copom nas decisões sobre os juros. Quanto mais alta a cotação da moeda americana, mais caros podem ficar produtos e insumos importados, o que afeta a inflação.
"Eu acho que, se o câmbio estiver muito pressionado, uma decisão de manutenção de queda dos juros pode não ser bem recebida pelo mercado e passar a idéia de que o BC não está muito preocupado com inflação. Agora, se houver uma certa melhora, acho que o BC deveria baixar os juros", disse o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola.
Na última reunião do Copom, a cotação da moeda americana estava em torno de R$ 2,92. Ontem, o dólar fechou em R$ 3,125, puxado nos últimos dias pela expectativa de alta dos juros nos EUA e pelo aumento do preço do petróleo no mercado internacional. Teoricamente, se o BC decidisse renovar parte da dívida cambial, a cotação da moeda americana tenderia a subir menos, devido à maior oferta de dólares.
Desde o ano passado que o BC decidiu não renovar os vencimentos da dívida cambial, para reduzir a vulnerabilidade da economia brasileira a oscilações do dólar.
Para o economista do JP Morgan Fábio Akira, deve haver mais pressão sobre o dólar por conta da não-renovação da dívida cambial. Ele ressalta que, se o BC tivesse anunciado que iria rolar parte ou toda a dívida, o efeito poderia ser pior. "Haveria mil críticas de que o BC estaria sancionando a deterioração que houve no mercado financeiro".
O economista Luiz Fernando Lopes, do Pátria Banco de Negócios, entende que poderá haver maior volatilidade na taxa de câmbio, mas que teria sido pior voltar a rolar a dívida cambial. "O BC passaria a impressão de estar preocupado com determinado nível do dólar."


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