|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Acordo sobre Doha poderá ficar para o Rio, em junho
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BRUXELAS
Trancados das 10h às 22h30
(17h30 em Brasília), ministros
do G4 (Brasil, Índia, União Européia e Estados Unidos) conseguiram avançar nas negociações para liberalização comercial o suficiente para que esteja
sendo armada uma nova ministerial, de mais longa duração, a
ser realizada no Brasil para
eventualmente fechar o acordo
(em princípio no Rio de Janeiro, a partir de 17 de junho).
"Não é garantido, mas temos
uma chance real de terminar o
trabalho", resume o chanceler
brasileiro Celso Amorim. Mesmo que se dê o devido desconto
ao fato de que Amorim é um assumido otimista, outros altos
funcionários brasileiros transmitem sentimento similar.
O melhor exemplo é Clodoaldo Hugueney, o embaixador
em Genebra, a sede da OMC,
responsável pela condução do
dia-a-dia da negociação, quase
sempre frustrante. Desta vez,
Hugueney voltou do castelo de
Val Duchesse em que se trancaram os ministros com a avaliação de que "há uma efetiva disposição de fechar o acordo".
Números concretos sobre os
temas ontem debatidos (agricultura e bens industriais) não
foram divulgados, até porque
há um acordo entre as quatro
delegações no sentido de não
adiantá-los aos jornalistas para
evitar que a negociação passe a
ser feita através da mídia.
Ainda assim, Amorim antecipa que os números que foram
ao menos insinuados ontem
"não são os ideais, mas estão
mais perto de uma convergência do que em qualquer outro
momento". É outra indicação
forte da possibilidade de acordo, na medida em que a Rodada
Doha de liberalização comercial foi lançada há seis anos, na
capital do Qatar, mas pouco
avançou desde então.
As negociações permitiram
analisar todo o pacote agrícola.
A diferença em relação a momentos anteriores, segundo
Amorim, está dada pelo fato de
que, agora, "houve uma análise
de diferentes cenários, em vez
de cada parte ficar centrada em
uma só posição".
É razoável deduzir que os números tratados na discussão
agrícola devem ter pelo menos
se aproximado das reivindicações do Brasil, porque a reunião tratou também de bens industriais. O governo brasileiro
sempre condicionou concessões nesta área a um pacote
agrícola tão substancial que
permitisse vender internamente uma abertura industrial,
ainda que menor do que a abertura agrícola do mundo rico.
Hoje, os ministros voltam a
se reunir, já com a presença dos
presidentes dos comitês de negociação agrícola e de bens industriais, o que é a melhor maneira de enlaçar a negociação
no G4 com o processo multilateral, que envolve os 150 membros da OMC.
Texto Anterior: FMI admite ter falhado ao orientar países sobre câmbio Próximo Texto: Lula defende nacionalismo e Bovespa Índice
|