São Paulo, sexta-feira, 18 de maio de 2007

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Acordo sobre Doha poderá ficar para o Rio, em junho

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BRUXELAS

Trancados das 10h às 22h30 (17h30 em Brasília), ministros do G4 (Brasil, Índia, União Européia e Estados Unidos) conseguiram avançar nas negociações para liberalização comercial o suficiente para que esteja sendo armada uma nova ministerial, de mais longa duração, a ser realizada no Brasil para eventualmente fechar o acordo (em princípio no Rio de Janeiro, a partir de 17 de junho).
"Não é garantido, mas temos uma chance real de terminar o trabalho", resume o chanceler brasileiro Celso Amorim. Mesmo que se dê o devido desconto ao fato de que Amorim é um assumido otimista, outros altos funcionários brasileiros transmitem sentimento similar.
O melhor exemplo é Clodoaldo Hugueney, o embaixador em Genebra, a sede da OMC, responsável pela condução do dia-a-dia da negociação, quase sempre frustrante. Desta vez, Hugueney voltou do castelo de Val Duchesse em que se trancaram os ministros com a avaliação de que "há uma efetiva disposição de fechar o acordo".
Números concretos sobre os temas ontem debatidos (agricultura e bens industriais) não foram divulgados, até porque há um acordo entre as quatro delegações no sentido de não adiantá-los aos jornalistas para evitar que a negociação passe a ser feita através da mídia.
Ainda assim, Amorim antecipa que os números que foram ao menos insinuados ontem "não são os ideais, mas estão mais perto de uma convergência do que em qualquer outro momento". É outra indicação forte da possibilidade de acordo, na medida em que a Rodada Doha de liberalização comercial foi lançada há seis anos, na capital do Qatar, mas pouco avançou desde então.
As negociações permitiram analisar todo o pacote agrícola. A diferença em relação a momentos anteriores, segundo Amorim, está dada pelo fato de que, agora, "houve uma análise de diferentes cenários, em vez de cada parte ficar centrada em uma só posição".
É razoável deduzir que os números tratados na discussão agrícola devem ter pelo menos se aproximado das reivindicações do Brasil, porque a reunião tratou também de bens industriais. O governo brasileiro sempre condicionou concessões nesta área a um pacote agrícola tão substancial que permitisse vender internamente uma abertura industrial, ainda que menor do que a abertura agrícola do mundo rico.
Hoje, os ministros voltam a se reunir, já com a presença dos presidentes dos comitês de negociação agrícola e de bens industriais, o que é a melhor maneira de enlaçar a negociação no G4 com o processo multilateral, que envolve os 150 membros da OMC.


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