|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Desonerar é melhor que fundo, diz Jorge
Ministro defende uso do excedente do superávit primário para corte de tributos, em vez da aplicação no fundo soberano
Miguel Jorge estima que o país terá saldo comercial de US$ 25 bi a US$ 30 bi neste ano e que as exportações chegarão a US$ 180 bi
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, sugeriu,
em entrevista à Folha, que o
governo use a receita excedente do superávit primário (economia feita para pagamento de
juros) para cortar tributos, e
não para criar um fundo soberano. Na última segunda, o presidente Lula anunciou um pacote de R$ 21 bilhões em desoneração para o setor industrial.
No dia seguinte, o ministro
da Fazenda, Guido Mantega,
fez uma apresentação do fundo
soberano. A idéia é usar os recursos economizados além dos
3,8% do PIB (compromisso
atual do superávit primário)
para a formação do fundo, que
tem entre seus objetivos financiar a internacionalização de
empresas brasileiras. Miguel
Jorge disse que ainda não entendeu o funcionamento do
fundo. A seguir os principais
trechos da entrevista.
FOLHA - O sr. já entendeu como o
fundo soberano vai funcionar?
MIGUEL JORGE - Não está claro
ainda o funcionamento do fundo, sobre como vai ser usado ou
quem poderá usá-lo. Uma coisa
que foi dita é que esse dinheiro
seria dado ao BNDES para que
o banco financiasse a empresa.
Não sei como vai funcionar.
FOLHA - O governo afirma que o
excedente do superávit primário será a principal fonte para a formação
do fundo soberano. O sr. acha que
essa sobra poderia ser usada para
ampliar a desoneração, em vez ir para o fundo?
JORGE - Poderia, poderia. Mas
depende do que se pretende fazer com o dinheiro excedente
do superávit primário.
FOLHA - O sr. vai propor isso, caso o
governo de fato tenha como objetivo usar a economia além dos 3,8%
de superávit primário como fonte
para o fundo soberano?
JORGE - Não está claro como
será, mas, se for para esse caminho [de usar o superávit para o
fundo soberano], acho que proporíamos, discutiríamos isso
com o ministro da Fazenda.
Mas precisamos ver ainda os
efeitos da desoneração que foi
feita. Você pode fazer a desoneração e não ter efeito nenhum.
Então, para que vai ampliar a
desoneração? Se houver efeito
grande, poderemos discutir essa possibilidade de ampliar a
desoneração. No início do ano
passado, essa discussão sobre
desoneração era muito difícil, a
arrecadação era muito menor.
FOLHA - Por que o governo só desonerou a folha de pagamento da indústria de tecnologia da informação? Por que não foi mais ampla?
JORGE - Não podemos fazer isso para bens industriais, isso
traria problema ao país lá fora
pelas regras da OMC. Só podemos fazer isso para o setor de
serviços. E escolhemos o setor
de tecnologia da informação
porque é uma área capaz de disseminar conhecimento e inovação. Este é o ponto central
para redução de custos nas empresas de tecnologia.
FOLHA - O governo teme a concentração dos recursos disponíveis na
nova política industrial por setores
organizados, como o automotivo?
JORGE - Essa é uma questão interessante, que precisa ser observada e certamente fará parte
das obrigações da gestão que
estamos criando. Durante a semana, foram apresentados projetos de investimento ao conselho de administração do
BNDES. Dos 20 projetos, só 1
era do setor automobilístico.
FOLHA - O governo teme apropriação de recursos concentrada?
JORGE - Não chegamos a pensar nisso, porque a idéia é premiar todos, e não um setor. Teremos um acompanhamento
próximo e discussões muito
abertas. Os setores mesmos serão vigilantes e os próprios
concorrentes ficarão de olho.
Não acho que haverá concentração. De qualquer forma, a secretária-executiva que acompanhará a gestão da nova política ficará atenta a isso.
FOLHA - A tendência atual da balança comercial é de queda livre. Há
alguma expectativa do governo de
que a nova política industrial possa
segurá-la ainda neste ano?
JORGE - A política industrial
não tem como objetivo de curto
prazo reverter o resultado da
balança comercial. Achamos
que pode ajudar, mas não foi
feita para isso. Estamos com algumas questões na balança comercial hoje que não devem se
repetir em 2009. É o caso das
importações de petróleo. Há
neste momento um déficit superior a US$ 2 bilhões na balança do petróleo. Projetado, teremos um déficit de US$ 8 bilhões a US$ 10 bilhões no ano.
FOLHA - Qual a meta que o governo trabalha então?
JORGE - Para as exportações,
temos uma meta de US$ 180 bilhões neste ano. A minha expectativa é que tenhamos um
saldo comercial de US$ 25 bilhões a US$ 30 bilhões no ano.
FOLHA - O que o governo fará para
garantir que os R$ 210 bilhões previstos para desembolsos do BNDES
até 2010 cheguem também ao pequeno e médio empresários?
JORGE - A maior parte dos recursos será negociada diretamente com o BNDES, principalmente para os planos de investimento. Dos R$ 210 bilhões, cerca de 70% será liberado pelo banco. Mesmo para o
pequeno empresário. O grande
problema da pequena e média
empresa não é chegar ao
BNDES, há dificuldades nos
bancos privados também. O
problema está na falta de oferta
de garantias e de plano de governança nessas empresas. Hoje, com Basiléia 2 [que redefine
a exposição ao risco de crédito
pelos bancos], há condições
muito restritas para as instituições concederem financiamento para as pequenas e médias,
-às micro, então, nem se fala.
Texto Anterior: "Não há risco de descumprir a meta de inflação" Próximo Texto: Frases Índice
|