São Paulo, domingo, 18 de maio de 2008

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Transformação do Brasil veio para ficar, diz Setubal

Segundo o presidente do Itaú, país rompeu ciclo de crescimentos e retrações

Para o executivo, atual fase está criando as melhores condições de negócios que já presenciou; "não vejo o Brasil retrocedendo", afirma


TELMA MAROTTO
ADRIANA ARAI
DA BLOOMBERG

Roberto Egydio Setubal, presidente e diretor-geral do banco Itaú, a segundo maior instituição financeira privada do Brasil, afirma que o país está em um processo de "transformação" que está criando as melhores condições de negócios que ele já viu.
O Brasil, a maior economia da América Latina, rompeu um ciclo de crescimentos e retrações devido às crescentes exportações de commodities e vai ter um crescimento sustentável de 4% a 5%, disse Setubal em entrevista nesta semana. A classificação de crédito do Brasil como grau de investimento, pela Standard & Poor's, no mês passado, fez com que o país se tornasse um ímã para investidores estrangeiros, afirma.
Setubal está expandindo as suas operações no exterior e no Brasil, capitalizando a valorização de 31% do real em relação ao dólar desde maio de 2006, o colapso da inflação -de quase 5.000% em 1994 para os atuais 5%- e as perdas dos competidores globais. Está abrindo representações no Oriente Médio e na Ásia, contratando executivos do Deutsche Bank e da Merrill Lynch e procurando comprar ativos no Brasil de empresas estrangeiras que possam estar se desfazendo a preços reduzidos. "Não vejo o Brasil retrocedendo", disse o executivo, de 53 anos, no escritório em São Paulo. "A força da moeda e o grau de investimento vieram para ficar.""
O Brasil, que foi o maior devedor entre os mercados emergentes durante décadas, se tornou um credor externo líquido em janeiro, depois que suas reservas internacionais atingiram o recorde de US$ 195,8 bilhões. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aumentou a confiança no país ao reduzir o déficit orçamentário e permitir que o Banco Central opere de forma independente, disse Setubal.

Oportunidades
"O Brasil vai, nos próximos anos, ter um crescimento em instrumentos financeiros muito maior que o de qualquer outro país em que eu possa entrar", afirmou Setubal, membro do conselho consultivo internacional da divisão regional de Nova York do BC dos EUA.
"As maiores oportunidades para o Itaú estão no Brasil."
O banco tem planos de expandir sua rede de 2.782 agências em 140 unidades no Brasil neste ano e contratar 5.000 funcionários para os seus quadros, atualmente de 66.442 pessoas, disse o diretor-executivo do Itaú, Silvio de Carvalho, em entrevista concedida à Bloomberg TV em 6 de maio.
Sob a direção de Setubal, que se tornou o principal executivo em 1994, as ações do Itaú deram retornos superiores a 1.300%, com dividendos, na última década no pregão da Bolsa de Valores de São Paulo, mais do que o dobro do crescimento do Índice Bovespa e superiores aos 1.092% em retornos totais pagos pelo Banco Bradesco, o maior banco privado do Brasil em ativos. O estatal Banco do Brasil, o maior banco da América Latina em ativos, registrou alta de 771% no período.
"A transformação por que passamos nos últimos dez anos é muito sólida", afirmou.
O Itaú está tirando vantagem das perdas nos mercados de crédito imobiliário residencial e de dívida em títulos, que enfraqueceram os seus concorrentes internacionais, disse Setubal. Os bancos e seguradoras internacionais levantaram cerca de US$ 260 bilhões em capital desde julho do ano passado, depois de baixas contábeis e perdas de crédito de pelo menos US$ 342 bilhões.
"Temos sorte com esta crise porque ela nos deu tempo para desenvolver o nosso negócio", disse Setubal. "Hoje estou fortalecendo a minha empresa, contratando bons profissionais no mercado, desenvolvendo a influência da minha marca."
O Itaú contratou 196 pessoas nos últimos 12 meses para a sua unidade de banco de investimentos, o Itaú BBA, o maior banco brasileiro de atacado -entre elas, Alexandre Aoude, ex-chefe do Deutsche Bank no Brasil. O quadro de funcionários do Itaú BBA aumentou de 830 pessoas no fim de abril de 2007 para 1.026 um ano depois, segundo o banco.
Na opinião de Setubal, os juros altos não vão deter o crescimento da economia brasileira, e a ação do Banco Central foi um outro sinal do compromisso do governo com as políticas econômicas saudáveis.
"Isto é uma grande mudança no Brasil", acrescentou. "Os políticos acreditavam que gastar era muito popular e agora eles aprenderam que a estabilidade dos preços é muito mais popular", afirmou.


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