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Brasileiro de Wall Street retorna ao país
Executivos do mercado financeiro trocam Nova York por São Paulo atraídos por oportunidades ou repelidos pela crise
Enquanto salários em Manhattan são diluídos por dólar desvalorizado e alto custo de vida, bancos no Brasil ampliam benefícios
DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
A corrente de brasileiros em
Nova York que têm voltado à
terra natal -em geral fugindo
dos salários mais baixos e da
perda de suas casas por execução de hipotecas- tem incluído
nos últimos meses um grupo de
trabalhadores mais graduados.
São os profissionais do mercado financeiro, que se tornam
exceção no fluxo por voltarem
especialmente motivados por
boas notícias.
O crescimento do PIB (5,4%
no ano passado, o maior desde
2004) e o ingresso de mais empresas no mercado financeiro
nacional aumentam a demanda
por profissionais treinados em
Wall Street, onde sofrem atualmente os efeitos da crise econômica detonada em agosto de
2007 pelo colapso do financiamento imobiliário, que apertou
muito o mercado de trabalho.
"Estou bastante inclinado a
ir ao Brasil e aproveitar essa fase boa. Há muito campo para
crescer junto com a expansão
da economia", diz Marcello
Hallake, 38, carioca que vive há
31 anos fora do país.
Formado em direito, consultor de empresas para transações financeiras internacionais
no escritório Thompson &
Knight, Hallake diz que seus
colegas que já fizeram a troca
não se arrependeram. "Os que
já foram estão bem. O Brasil
tem atraído empresas para o
mercado financeiro e isso favorece quem quer oferecer um
trabalho mais sofisticado, serviços que temos aqui [nos
EUA], mas não existem lá." Para ele, assim como para outros
profissionais que pensam em
voltar ouvidos pela Folha, a
violência no Brasil é a maior
desvantagem sobre Nova York,
onde não costuma ser problema andar na rua com iPods,
Rolex e notebooks à mostra.
Já a lista de vantagens de deixar Nova York inclui os valores
de moradia. Enquanto no bairro de Pinheiros, em São Paulo,
o aluguel mensal médio de um
apartamento de 80 m2 é de R$
1.220, segundo o Secovi (o sindicato da habitação), uma quitinete de 20 m2 em Manhattan
raramente sai por menos de
US$ 1.500 (cerca de R$ 2.500)
ao mês e há apartamentos de
um quarto de US$ 1,5 milhão
nas áreas mais nobres.
As despesas e a desvalorização do dólar diluem as vantagens dos salários pagos em
Wall Street -entre US$ 150
mil e US$ 200 mil anuais para
um profissional médio, além de
bônus que chegam aos seis dígitos. Na ânsia de atrair tais
profissionais para o país, bancos e corretoras estabelecidos
no Brasil estão oferecendo pacotes de remuneração que podem chegar a US$ 2 milhões
por ano -a parte variável é inflada pelo bom desempenho
dessas companhias.
Soma-se a isso o temor do
desemprego. Nos primeiros
dez meses de crise, 49 mil vagas foram extintas em Manhattan pelas grandes instituições
financeiras. O Citigroup fechou
15.200 vagas, o Merrill Lynch,
5.220, e o Lehman Brothers,
4.990. Este último exemplifica
bem a gangorra -enquanto demitiu funcionários em Nova
York, abriu escritório no Brasil,
comandado por executivo vindo de Manhattan.
A obtenção do grau de investimento pelo país no final de
abril e a fusão da Bovespa e da
BM&F (Bolsa de Mercadorias
& Futuros), que criará a segunda maior Bolsa das Américas e
a terceira do mundo, devem
amplificar o fenômeno por
chamar ainda mais a atenção
dos estrangeiros para o mercado financeiro local.
Saideira
Claudio Oskenberg, também
nascido no Rio de Janeiro, retornou ao Brasil no ano passado, pouco antes do início da crise e depois de três anos em Nova York. Ele se diz satisfeito
com a escolha.
"A temporada em Nova York
foi ótima para aprimoramento,
para entender como funcionam grandes escritórios nos
Estados Unidos. Voltei por
uma questão pessoal", diz ele,
que dá consultoria a empresas
brasileiras interessadas em
acessar o mercado americano.
"Em Nova York as pessoas
não são tanto de almoçar juntas, não têm muita sociabilidade. As pessoas estão ali de passagem, focadas apenas em ganhar dinheiro. No Rio, a maioria é carioca. Já em São Paulo,
existe um equilíbrio entre ser
cosmopolita, mas ainda assim
em um ambiente um pouco
mais à vontade."
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