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Restaurante reajusta após alta de alimentos
Com elevação nos custos, churrascarias, cantinas e pizzarias fazem a "terceira onda" de aumentos em menos de um ano
Medidas tomadas pelo governo federal para conter a alta de preços e manter a
oferta de produtos podem minimizar os reajustes
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Embalados pela alta de custos de alimentos e bebidas e de
mão-de-obra, os reajustes de
preços nos restaurantes vão
continuar. Churrascarias, cantinas e pizzarias efetuam a terceira onda de aumentos em
menos de um ano, segundo restaurantes e a Fipe (Fundação
Instituto de Pesquisas Econômicas). Neste mês, alguns cardápios foram reajustados em
quase 20% e há programação
para mais aumentos em junho.
"A alta de preços de trigo, arroz, leite e carne bovina deve
ser responsável pelo terceiro
ciclo de reajustes dos restaurantes, que começou em março, e continua neste mês. Com a
entressafra do leite e da carne,
os preços dos restaurantes devem subir ainda mais, até porque a demanda continua aquecida", afirma Márcio Nakane,
coordenador do IPC da Fipe.
As medidas do governo para
conter a alta de preços e manter
a oferta de produtos podem minimizar os reajustes dos alimentos e, como conseqüência,
dos restaurantes. Mas, segundo
Nakane, o ciclo de aumentos
deve se estender.
Os preços dos rodízios de
carnes, que subiram 4%, em
média, em abril, deverão aumentar de 6% a 10% em junho,
segundo a Achuesp (Associação
das Churrascarias do Estado de
São Paulo). "A elevação de custos está exagerada. O reajuste
de 4% ficou abaixo do necessário", diz Ari José Nedeff, presidente de honra da Achuesp.
Nos últimos dez meses, segundo ele, o preço da arroba do
boi subiu 32% e das carnes argentinas, 50%. "E, neste ano, o
preço do carvão subiu 20%; de
legumes e verduras, 15%; de
queijos, 20%, e do gás, 10%. No
mínimo, todos os insumos de
restaurantes, como arroz e leite, foram reajustados entre 15%
e 20%. No caso do óleo, a alta
foi de 70% em seis meses."
O restaurante Filet do Moraes, em São Paulo, reajustou
em 18,8%, em média, neste
mês, os preços de seus pratos,
após dois anos sem alterá-los.
"Está quase certo que vou ter
de mexer novamente nos preços, pois há defasagem de cerca
de 20% entre os aumentos de
custos e de preços", afirma o sócio José Luiz de Freitas.
Desde setembro, o preço do
filé mignon, segundo Freitas,
subiu entre 60% e 65%. Hoje,
ele paga entre R$ 9,50 e R$
12,50 pelo quilo. O filé de 430
gramas com alho seco custava
na última sexta-feira R$ 61,21.
"Enfrentamos um momento
atípico, pois o preço do traseiro
do boi e o do dianteiro está quase igual. Como aumentou o preço da carne em dólar para exportação, o mercado interno
acompanhou. Com a entressafra na produção de carnes, a situação tende a se agravar", diz.
"Está impossível segurar os
preços, mas é claro que a tentativa é de repassar o mínimo
possível", afirma Nelson de
Abreu Pinto, presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes,
Bares e Similares de São Paulo.
Os reajustes têm sido da ordem
de 10% e a defasagem entre
preços e custos é ainda de 10%.
"Mas a mensagem é de otimismo, não de alarde", completa.
O restaurante Mestiço informa que teve de elevar duas vezes o preço de seu cardápio neste ano-entre 2,5% e 3% em fevereiro e entre 2,5% e 3% em
abril. "Teríamos de aumentar
os preços em mais 6% para estarmos em linha com a alta de
custos. Mas vamos aguardar",
afirma Ina de Abreu, sócia do
Mestiço e do Fillipa.
Há oito meses, o restaurante
Almanara reajustou o preço do
cardápio em 3,8%, em média.
Desde então, os preços dos insumos subiu entre 12% e 14%,
segundo Douglas Coury, diretor do restaurante. "O governo
anunciou medidas para desonerar a importação de trigo e
manter a oferta de produtos.
Por isso vamos segurar os preços até agosto", afirma.
Além dos aumentos de custos dos alimentos, Sérgio
Kuczynski, diretor do restaurante Arabia, diz que esse setor
sofre pressão de outros custos.
"Mudou nos últimos dois
anos a forma de os restaurantes
operarem, por exigência do
Centro de Vigilância Sanitária
[Secretaria de Estado da Saúde]. Os funcionários eram obrigados a passar por exame médico uma vez por ano e agora são
duas vezes por ano. Temos de
ter um responsável técnico pela operação do restaurante. Temos de lavar a caixa d'água e fazer análise dessa água a cada
seis meses. Tudo isso é custo
que o restaurante não tinha e
passou a ter. E tem o dissídio
dos trabalhadores do setor, que
ocorre em julho", diz.
A nova forma de cobrar
ICMS adotada pela Fazenda
paulista, na qual o imposto é
pago antecipadamente pelos
fabricantes, segundo ele, resultou numa alta de 15% nos vinhos. "Os fornecedores embutiram essa mudança na cobrança de imposto no preço. Neste
mês, será a vez dos reajustes no
setor de sucos prontos."
Após um ano sem mexer nos
preços, o Arabia reajustou o
cardápio em 6,5%, em média,
em abril. "Se fosse repassar todos os aumentos de custos, precisaria subir os preços em mais
5%." Um dos pratos mais populares, o quibe cru, passou de
R$ 26,90 para R$ 28,50.
Os preços também podem
estar mais altos, segundo a Folha apurou, porque o consumidor está pedindo cada vez mais
nota fiscal nos restaurantes para se beneficiar de créditos oferecidos pela Prefeitura e pela
Fazenda paulista. Quem não pagava
imposto, ou pagava menos imposto do que devia, passou a pagar, o que também impactou
nos preços dos cardápios.
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