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União entre Sadia e Perdigão deverá ser anunciada hoje
Expectativa é que formação da Brasil Foods seja assinada
às 10h e informada para o mercado logo em seguida
Um dos maiores obstáculos
para a conclusão do negócio
é o banco Concórdia, que
pertence à Sadia e que a
Perdigão quer fora da BRF
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Operação Sete Belo. Foi esse
o codinome usado internamente, para tentar manter em sigilo
as negociações entre Sadia e
Perdigão, antes de as empresas
virem a público admitir as conversas que devem dar origem à
BRF (Brasil Foods). Depois de
quase ser finalizado algumas
vezes, a expectativa é que o negócio seja assinado às 10h de
hoje e anunciado ao mercado
logo em seguida. Sete Belo é a
melhor combinação de cartas
nas partidas do jogo de baralho
sete e meio, formada apenas
por cartas de ouros.
No fim de semana, advogados se reuniram para finalizar
acertos contábeis. A assinatura
do contrato era esperada para a
tarde de ontem, mas novos
acertos precisaram ser feitos.
Um dos principais problemas, segundo uma pessoa ligada às negociações, diz respeito
ao banco Concórdia, que pertence à Sadia. Como a Perdigão
e o fundo de pensão Previ, acionista tanto da Sadia como da
Perdigão, não querem o banco
na BRF, ele está sendo excluído
dos cálculos. A cada mudança,
as contas têm de ser refeitas e
aprovadas pelos mais de 40
acionistas das famílias Fontana
e Furlan, fundadoras da Sadia.
De todo modo, assim que for
apresentado ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa
Econômica), a autarquia deverá submeter o negócio a um
mecanismo conhecido como
Apro (Acordo de Preservação
da Reversibilidade da Operação). Sem força de lei, mas previsto e adotado em diversos casos analisados pelo conselho, o
Apro é um acordo que prevê
que a estrutura das companhias continuará existindo e
operando de maneira independente até que o negócio seja
aprovado, rejeitado ou modificado pela autarquia.
Exemplos anteriores
"Em negócios complexos, como é o caso de Perdigão e Sadia,
é inevitável que seja feito um
Apro", afirma Celso Campilongo, ex-conselheiro do Cade e
professor de Direito da USP e
da PUC-SP.
"Em qualquer lugar do mundo avaliar uma fusão desse porte leva muito tempo e, daqui a
dois anos, quando o processo
de análise for concluído, se corre o risco de uma das marcas
desaparecer, entre outras coisas", diz ele.
Campilongo lembra que foi o
que ocorreu quando a Kellogg's
comprou a também fabricante
de cereais Superbom. O Apro já
foi usado nas compras da Garoto pela Nestlé e da DM, dona
das marcas Adocyl e Zero Cal,
pela Hypermarcas, detentora
da marca Finn. Também na fusão entre as distribuidoras de
publicações Fernando Chinaglia e Dinap.
Para Campilongo, o processo
de avaliação da fusão entre Sadia e Perdigão será bastante
complexo e demorado por ambas atuarem em diversos mercados. Podem ser feitas eventualmente imposições para que
a BRF venda fábricas ou marcas em algumas das áreas nas
quais, após a fusão, haja grande
concentração de mercado.
"Além disso, não se pode desconsiderar na análise que a Sadia teve grandes perdas por
conta dos derivativos [operações financeiras que a levaram
a ter prejuízo de R$ 2,5 bilhões
em 2008]", diz Campilongo.
Segundo ele, é muito difícil
fazer especulações se uma fusão do porte da Sadia e Perdigão, que criará uma empresa
com faturamento anual de R$
22 bilhões, será prejudicial ao
consumidor ou eliminará a
possibilidade de surgimento de
novos competidores.
Campilongo diz que, mesmo
após a criação da AmBev, se
destacaram competidores importantes entre as cervejarias,
como Itaipava e Schincariol.
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