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Brasil não está pronto para negociar, diz especialista
DE PEQUIM
O momento é bom para
atrair investimentos chineses
ao Brasil, mas o país não está
preparado para negociar com a
China, nem para oferecer bons
projetos, segundo o empresário
Wladimir Pomar, professor de
história da China na Universidade Cândido Mendes, do Rio.
Ele visitou o país em 1981 e
em 1984, ainda fascinado pela
Revolução Comunista, mas,
desde 1996, é consultor de empresas brasileiras que querem
investir na China. Abriu escritório em Pequim em 2004, onde passa um mês por ano. Pomar conversou com a Folha
em um hotel de Pequim.
(RJL)
MOMENTO CERTO
"O governo chinês tem recomendado às empresas de seu
país que é hora de investir no
exterior. Elas estão cheias de
capital. Antes da crise nos países ricos, o Brasil não estava no
radar. Agora elas podem começar a pensar em investir. Mas,
para isso, é preciso ter projetos.
Acho que o Brasil não os tem."
BUROCRACIA
"Abrir uma firma na China
leva menos de um mês. No Brasil, pode levar cinco meses. Eles
não têm despachantes, Junta
Comercial, cartórios. Para eles,
a tributação é alta demais. Na
China, o empresário paga 15%
de impostos, somando tudo. No
Brasil chega a 37%."
PARCERIAS À VISTA
"A China compra soja brasileira das grandes multinacionais do setor. Por que ela não se
associa a produtores brasileiros e, como contrapartida, investe na produção de óleo de
soja no Brasil? Terminando a
intermediação de empresas estrangeiras, sairia mais barato.
O agronegócio brasileiro poderia se associar na modernização da agropecuária chinesa.
Somos muito mais avançados
na fertilização, nas rações, no
corte, no leite.
Por que a China não constrói
siderúrgicas no Brasil? É inexplicável que o acordo da Vale
com a Baosteel não tenha ido
para a frente. Quando o governo chinês diz que vai fazer, as
coisas andam. Os chineses não
entendem que, no Brasil, mesmo depois de assinado, as coisas não acontecem."
INFRAESTRUTURA
"Os chineses são superiores a
nós em infraestrutura. Constroem rodovias, metrô e portos
mais rapidamente e a um preço
menor. Eles poderiam levar os
investimentos, as empresas e
até os técnicos, empregando
mão de obra brasileira. E têm
dinheiro para financiar."
PERIGO EXISTE
"Há muito medo no empresariado brasileiro [da concorrência dos chineses] e, em tese,
o perigo existe. Os chineses se
prepararam para a competição.
Têm uma economia mais aberta. Ao criarem as zonas especiais, atraíram capital e tecnologia estrangeira para fazerem
parcerias. Os chineses pegaram
carona para conquistar o mercado externo e a tecnologia serviu para explorarem seu mercado doméstico. Eles criaram
Zonas Francas de Manaus com
um "upgrade"."
DESPREPARO
"Pegue qualquer país importante. Ele mandará visitas de
primeiro escalão todos os meses para a China, do Reino Unido aos Estados Unidos. Isso
não acontece no governo brasileiro. Quantos especialistas em
China nós temos? Nossa embaixada aqui é muito pequena e
ainda há resistência em certos
setores do governo. Temos que
convidar chineses para estudar
no Brasil. Esse é o caminho."
CIDADES MÉDIAS
Muitos brasileiros vêm para
a China e querem começar em
Xangai ou em Pequim. Chegamos tarde, todo mundo já está
aqui e a concorrência é contra
competidores muito mais fortes. Sempre sugiro que se comece por cidades médias, que
são enormes aqui. Dalian,
Chongqing, Chengdu, Kunming. O nordeste, o centro e o
oeste da China começam a se
desenvolver agora, mas é bom
correr, porque outros têm a
mesma ideia.
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