São Paulo, segunda-feira, 18 de maio de 2009

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Brasil não está pronto para negociar, diz especialista

DE PEQUIM

O momento é bom para atrair investimentos chineses ao Brasil, mas o país não está preparado para negociar com a China, nem para oferecer bons projetos, segundo o empresário Wladimir Pomar, professor de história da China na Universidade Cândido Mendes, do Rio.
Ele visitou o país em 1981 e em 1984, ainda fascinado pela Revolução Comunista, mas, desde 1996, é consultor de empresas brasileiras que querem investir na China. Abriu escritório em Pequim em 2004, onde passa um mês por ano. Pomar conversou com a Folha em um hotel de Pequim. (RJL)

MOMENTO CERTO
"O governo chinês tem recomendado às empresas de seu país que é hora de investir no exterior. Elas estão cheias de capital. Antes da crise nos países ricos, o Brasil não estava no radar. Agora elas podem começar a pensar em investir. Mas, para isso, é preciso ter projetos. Acho que o Brasil não os tem."

BUROCRACIA
"Abrir uma firma na China leva menos de um mês. No Brasil, pode levar cinco meses. Eles não têm despachantes, Junta Comercial, cartórios. Para eles, a tributação é alta demais. Na China, o empresário paga 15% de impostos, somando tudo. No Brasil chega a 37%."

PARCERIAS À VISTA
"A China compra soja brasileira das grandes multinacionais do setor. Por que ela não se associa a produtores brasileiros e, como contrapartida, investe na produção de óleo de soja no Brasil? Terminando a intermediação de empresas estrangeiras, sairia mais barato.
O agronegócio brasileiro poderia se associar na modernização da agropecuária chinesa. Somos muito mais avançados na fertilização, nas rações, no corte, no leite.
Por que a China não constrói siderúrgicas no Brasil? É inexplicável que o acordo da Vale com a Baosteel não tenha ido para a frente. Quando o governo chinês diz que vai fazer, as coisas andam. Os chineses não entendem que, no Brasil, mesmo depois de assinado, as coisas não acontecem."

INFRAESTRUTURA
"Os chineses são superiores a nós em infraestrutura. Constroem rodovias, metrô e portos mais rapidamente e a um preço menor. Eles poderiam levar os investimentos, as empresas e até os técnicos, empregando mão de obra brasileira. E têm dinheiro para financiar."

PERIGO EXISTE
"Há muito medo no empresariado brasileiro [da concorrência dos chineses] e, em tese, o perigo existe. Os chineses se prepararam para a competição. Têm uma economia mais aberta. Ao criarem as zonas especiais, atraíram capital e tecnologia estrangeira para fazerem parcerias. Os chineses pegaram carona para conquistar o mercado externo e a tecnologia serviu para explorarem seu mercado doméstico. Eles criaram Zonas Francas de Manaus com um "upgrade"."

DESPREPARO
"Pegue qualquer país importante. Ele mandará visitas de primeiro escalão todos os meses para a China, do Reino Unido aos Estados Unidos. Isso não acontece no governo brasileiro. Quantos especialistas em China nós temos? Nossa embaixada aqui é muito pequena e ainda há resistência em certos setores do governo. Temos que convidar chineses para estudar no Brasil. Esse é o caminho."

CIDADES MÉDIAS
Muitos brasileiros vêm para a China e querem começar em Xangai ou em Pequim. Chegamos tarde, todo mundo já está aqui e a concorrência é contra competidores muito mais fortes. Sempre sugiro que se comece por cidades médias, que são enormes aqui. Dalian, Chongqing, Chengdu, Kunming. O nordeste, o centro e o oeste da China começam a se desenvolver agora, mas é bom correr, porque outros têm a mesma ideia.


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