São Paulo, segunda-feira, 18 de maio de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Empresa reduz ganho para manter vendas

Receita de companhias cresce 10,5%, mas lucros com seus negócios caem 5% no primeiro trimestre, mostra levantamento

Aumento de despesas com dívidas faz ganhos líquidos recuarem 29,5%; empresas ligadas ao mercado externo são mais afetadas

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Para manter as vendas e contornar os efeitos da crise, empresas brasileiras com ações em Bolsa continuaram reduzindo suas margens de ganho e redimensionando os negócios para trabalhar em meio a condições piores de financiamento no início de 2009.
Segundo estudo da consultoria Economática, as empresas conseguiram se desdobrar no primeiro trimestre para vender mais e gerar receitas 10,5% maiores do que no mesmo período do ano passado. Por outro lado, essas vendas não impediram uma queda no período de 5% nos ganhos operacionais, aqueles que dizem respeito ao negócio em si.
Somado ao forte crescimento das despesas com dívida, o resultado final foi uma queda de 29,5% nos lucros líquidos no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado. A boa notícia é que a maioria se manteve no azul.
"Não há nenhuma tragédia acontecendo, mas a situação das empresas piorou muito. Não vemos retração nas vendas. As receitas cresceram, e bastante. Mas, surpreendentemente, o resultado operacional caiu. As empresas podem ter vendido mais, mas mais barato; aumentaram a quantidade, mas reduziram o preço. Pode ter tido também um desencontro entre a inflação das matérias-primas e dos custos repassados", disse Fernando Exel, presidente da Economática.
"Você vendeu muito, mas teve de abrir mão de margem e de preço para manter os negócios. Isso foi geral na parte de commodities. Os demais setores tiveram de fazer campanhas agressivas para fechar vendas em um nível melhor", disse Ricardo Tadeu Martins, gerente de análise da Planner.
A queda no lucro foi generalizada em todos os setores, especialmente os mais expostos ao mercado externo, como siderurgia, metalurgia e química.
Foram poupadas apenas as empresas de saneamento, eletricidade e gás, consideradas defensivas e que tiveram crescimento de 10,6% nos lucros.
O estudo considerou resultados de 149 empresas, excluindo Vale, Petrobras e bancos.
Diante do aperto no crédito, as empresas tiveram forte crescimento de suas despesas com pagamento de juros e variação cambial. O estudo mostra que esses gastos cresceram 126% em relação ao mesmo período de 2008 -saltaram de R$ 1,826 bilhão para R$ 4,133 bilhões.
Sozinha, a variação cambial de 34% no período não explica totalmente o aumento das despesas financeiras. Segundo Exel, o crescimento pode estar relacionado à renegociação de dívidas com taxas superiores às vistas no ano passado. "A renegociação, nesse momento de estresse, foi desfavorável."
"As margens caíram, mas o maior impacto na indústria ainda é cambial. Eu penso que todo mundo está jogando e esperando melhorar [o câmbio]", disse Júlio Gomes de Almeida, consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
No período, a dívida total dessas empresas saltou deR$ 183,172 bilhões paraR$ 264,956 bilhões.
Apesar da queda de mais de 30% no lucro, as empresas preservaram a rentabilidade do investimento do acionista. No período, a rentabilidade do capital foi de 2,7% -era de 3,9% no primeiro trimestre de 2008.
Segundo a Economática, o valor ainda é bastante superior ao rendimento de 1,12% da Selic no período, que o acionista teria se aplicasse e descontasse 20% de impostos e 1,2% da inflação pelo IPCA. "Esse ganho era muito maior. Nos últimos cinco anos, as empresas deram uma surra na Selic. Agora, a surra não é tanta assim, mas não se pode desprezar. É mais que o dobro do que rende a Selic. Continua valendo a pena ter empresa no Brasil", disse Exel.


Texto Anterior: Vice-chanceler chinês afirma que relação avança "em todos os níveis"
Próximo Texto: Desoneração "esquece" setores empregadores
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.