São Paulo, segunda-feira, 18 de maio de 2009

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Petroquímica vê risco em acordo com países do Golfo

Governo celebra avanço em negociação comercial, mas acerto preocupa indústrias

Empresários temem que eliminação ou redução de tarifas dos produtos do Oriente Médio representem a morte do setor no país

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A RIAD

O governo brasileiro comemorou ontem o rompimento do impasse na negociação de um acordo de livre comércio entre o Mercosul e o CCG (Conselho de Cooperação do Golfo), após a visita histórica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Arábia Saudita.
Mas representantes da indústria petroquímica brasileira alertam de que o processo, lançado em 2005, ainda é "embrionário" e reiteram os temores de que a eliminação ou mesmo a redução de tarifas dos ultracompetitivos produtos do Golfo poderão representar a morte do setor no país.
Na noite de sábado, o presidente Lula reuniu-se com o secretário-geral do CCG, Abdulrahman Al Attiyah, com quem avaliou os próximos passos para recolocar o acordo na agenda. Segundo o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, o encontro "destravou" as negociações.
"Soltaram o freio de mão", afirmou. Um dos resultados do encontro, segundo Garcia, será a visita em breve do ministro do Petróleo saudita ao Brasil.
Ele disse não esperar que problemas com o setor petroquímico em países do Mercosul ou da Venezuela, que deve se juntar à união aduaneira sul-americana em breve. Garcia confirmou que uma das possibilidades para vencer a resistência da indústria seria a classificação de produtos sensíveis, que protegeria os petroquímicos da queda de tarifas.
Para Marcelo Lyra, vice-presidente da Braskem, uma das principais empresas do setor no Brasil, a eliminação de tarifas para a entrada de petroquímicos do Golfo no país poderia acabar com a indústria, que emprega cerca de 320 mil pessoas. "É importante que um acordo preserve os setores estratégicos", disse Lyra.
O principal obstáculo nas negociações entre CCG e Mercosul desde seu início, há quatro anos, está relacionado ao comércio de produtos petroquímicos. Os países árabes querem a abertura dos mercados sul-americanos, mas esbarram no receio do setor no Brasil e na Argentina, além da Venezuela.
Segundo Lyra, hoje a tarifa aplicada aos produtos importados no Brasil é de 14%, e o fim da alíquota abalaria a competitividade da indústria nacional.
Em discurso na Câmara de Comércio e Indústria de Riad, Lula pediu mais ousadia dos empresários para que o fluxo comercial entre Brasil e Arábia Saudita, que já teve um aumento de 70% em 2008 em comparação com o ano anterior, cresça ainda mais. O acordo entre Mercosul e o CCG, disse Lula daria "novo impulso ao comércio bilateral".
Durante o almoço com os empresários, Lula defendeu que as reservas de países como o Brasil e a Arábia Saudita sejam usadas para investimentos na cadeia produtiva, e não apenas para a compra de "títulos do tesouro americano".
"Temos que ter clareza que, depois da crise econômica, o mundo precisa de novos investimentos para fazer girar a roda da economia. O que estamos percebendo? Países como China estão utilizando parte de suas reservas para fazer crescer o mercado interno. O Brasil criou fundo garantidor, colocou US$ 36 bilhões das reservas para financiar nosso setor de exportação. E assim a gente vai contribuindo para gerar economia", disse Lula.


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