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Petroquímica vê risco em acordo com países do Golfo
Governo celebra avanço em negociação comercial, mas acerto preocupa indústrias
Empresários temem que eliminação ou redução de
tarifas dos produtos do
Oriente Médio representem
a morte do setor no país
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A RIAD
O governo brasileiro comemorou ontem o rompimento
do impasse na negociação de
um acordo de livre comércio
entre o Mercosul e o CCG
(Conselho de Cooperação do
Golfo), após a visita histórica
do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva à Arábia Saudita.
Mas representantes da indústria petroquímica brasileira
alertam de que o processo, lançado em 2005, ainda é "embrionário" e reiteram os temores de
que a eliminação ou mesmo a
redução de tarifas dos ultracompetitivos produtos do Golfo poderão representar a morte
do setor no país.
Na noite de sábado, o presidente Lula reuniu-se com o secretário-geral do CCG, Abdulrahman Al Attiyah, com quem
avaliou os próximos passos para recolocar o acordo na agenda. Segundo o assessor especial
da Presidência, Marco Aurélio
Garcia, o encontro "destravou"
as negociações.
"Soltaram o freio de mão",
afirmou. Um dos resultados do
encontro, segundo Garcia, será
a visita em breve do ministro do
Petróleo saudita ao Brasil.
Ele disse não esperar que
problemas com o setor petroquímico em países do Mercosul
ou da Venezuela, que deve se
juntar à união aduaneira sul-americana em breve. Garcia
confirmou que uma das possibilidades para vencer a resistência da indústria seria a classificação de produtos sensíveis,
que protegeria os petroquímicos da queda de tarifas.
Para Marcelo Lyra, vice-presidente da Braskem, uma das
principais empresas do setor
no Brasil, a eliminação de tarifas para a entrada de petroquímicos do Golfo no país poderia
acabar com a indústria, que
emprega cerca de 320 mil pessoas. "É importante que um
acordo preserve os setores estratégicos", disse Lyra.
O principal obstáculo nas negociações entre CCG e Mercosul desde seu início, há quatro
anos, está relacionado ao comércio de produtos petroquímicos. Os países árabes querem
a abertura dos mercados sul-americanos, mas esbarram no
receio do setor no Brasil e na
Argentina, além da Venezuela.
Segundo Lyra, hoje a tarifa
aplicada aos produtos importados no Brasil é de 14%, e o fim
da alíquota abalaria a competitividade da indústria nacional.
Em discurso na Câmara de
Comércio e Indústria de Riad,
Lula pediu mais ousadia dos
empresários para que o fluxo
comercial entre Brasil e Arábia
Saudita, que já teve um aumento de 70% em 2008 em comparação com o ano anterior, cresça ainda mais. O acordo entre
Mercosul e o CCG, disse Lula
daria "novo impulso ao comércio bilateral".
Durante o almoço com os
empresários, Lula defendeu
que as reservas de países como
o Brasil e a Arábia Saudita sejam usadas para investimentos
na cadeia produtiva, e não apenas para a compra de "títulos
do tesouro americano".
"Temos que ter clareza que,
depois da crise econômica, o
mundo precisa de novos investimentos para fazer girar a roda
da economia. O que estamos
percebendo? Países como China estão utilizando parte de
suas reservas para fazer crescer
o mercado interno. O Brasil
criou fundo garantidor, colocou US$ 36 bilhões das reservas
para financiar nosso setor de
exportação. E assim a gente vai
contribuindo para gerar economia", disse Lula.
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