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OPINIÃO ECONÔMICA
Ações da Caixa
FERNANDO NOGUEIRA DA COSTA
A população urbana brasileira passou, na segunda metade do século passado, de 36%
para 82% do total. Isso coloca graves problemas e desafios.
Um dos maiores é o da desigualdade da renda. No Brasil, entre os
43 milhões de famílias em domicílios particulares urbanos, 46,4%
recebem renda mensal de até três
salários mínimos (R$ 720). Nesta
faixa de renda mensal familiar,
justamente, concentram-se 83,2%
do déficit habitacional urbano, ou
seja, 4,410 milhões de moradias.
A urbanização acelerada, a desigualdade e a pobreza das famílias,
em meio à ausência de planejamento, acentuaram a ocupação
desordenada das cidades, com a
degradação dos ambientes natural, urbano e social.
As ações da Caixa, no novo governo, buscarão atender necessidades sociais básicas -emprego,
habitação/saneamento, acesso
bancário/microcrédito-, os chamados "fundamentos estratégicos do desenvolvimento humano". Serão instrumentos-chave
no combate ao desemprego, ao
déficit habitacional, à emigração
rural, às doenças causadas por falta de água potável e esgoto, à informalidade e à desocupação.
No financiamento à habitação
de interesse social, haverá crédito
individualizado, para aquisição,
construção ou reforma de casas
próprias, desde a aquisição de
material de construção e de lote
urbanizado até a produção de
empreendimento e construção ou
reforma em assentamento rural.
No PSH (Programa de Subsídio à
Habitação de Interesse Social),
dedicado às famílias com renda
familiar bruta de até R$ 720, atende-se à produção de moradias, à
melhoria das condições de habitação e à aquisição de moradias.
Sob o PAR (Programa de Arrendamento Residencial), para aquisição, produção ou recuperação
de empreendimento habitacional, o acesso à moradia ocorre por
meio de contrato de arrendamento, com opção futura de compra.
Atende às famílias com renda familiar bruta de até seis salários
mínimos. O arrendamento é
equivalente a 0,7% do valor do
imóvel.
Outro programa importante é o
da reabilitação urbana de áreas
centrais, que estabelece o centro
de cidade como lugar de moradia.
Trata-se da substituição da prática de expansão territorial das cidades por uma abordagem que
privilegia a reabilitação de áreas
consolidadas. Economiza nos
gastos com infra-estrutura urbana e multiplica o emprego mais
do que em construções novas.
Infelizmente, as famílias de baixa renda não detêm capacidade
de pagamento no nível de mercado. Logo, em uma política redistributiva, recursos orçamentários
(OGU, orçamentos municipais e
estaduais) são necessários como
fontes de subsídio, assim como do
FAR e do FGTS. No nível de renda
intermediário, é necessário completar o crédito (SFH) com subsídio. Somente no nível da classe
média, podem ser utilizados mecanismos sustentáveis (SFI) com
recursos captados no mercado
(depósitos de poupança, letras hipotecárias, fundos de recebíveis
imobiliários etc.).
Para melhorar as condições de
vida e trabalho da população rural e reduzir a emigração, é necessário o apoio ao programa de formação e mobilização social para a
convivência com o semi-árido,
cuja meta é a construção de 1 milhão de "cisternas" (reservatórios
de água de chuva) rurais. O programa está buscando garantir a 1
milhão de famílias rurais mais carentes (quase sempre dispersas) a
superação de suas carências de
água potável. Além disso, é um
processo educativo e de transformação social, gerenciado pela sociedade civil. Amplia a prática da
convivência sustentável e solidária com o ecossistema do semi-árido.
O projeto abrange os Estados da
região Nordeste, onde o clima semi-árido se apresenta com maior
intensidade e, consequentemente, os efeitos das secas são mais
danosos à população sertaneja. A
área de abrangência desse projeto
compreende 1.012 municípios e
uma população rural de 8,6 milhões de habitantes.
A Caixa, visando assegurar e
ampliar sua capilaridade e participação no mercado nacional, está
duplicando sua rede nacional de
correspondentes bancários e efetivando um projeto de "bancarização da população". Por um lado, via Conta Caixa Aqui, quer
ampliar as possibilidades de participação bancária de uma população que, embora muitas vezes
com poupança, não dispõe de
conta corrente. Por outro lado,
pretende atender via "conta eletrônica" simplificada aquela parcela da população que não possui
nenhum acesso bancário, apesar
de receber benefícios sociais. É
mais um passo da Caixa na perspectiva de possibilitar a inclusão
social dessas pessoas "sem conta"
com uma ampla "bancarização".
Tal processo favorecerá um programa de microcrédito, cujo objetivo é propiciar às pessoas de baixo poder aquisitivo, fora do mercado de trabalho formal e com
perfil empreendedor, acesso ao
crédito, disponibilizado em cartão eletrônico e destinado à atividade produtiva.
Devido a sua capilaridade -é o
único banco com representação
em todos os 5.561 municípios brasileiros-, a Caixa já assume o pagamento de ampla parcela dos benefícios sociais. Sua centralização,
além do ganho de escala, propiciará redução de custos, melhoria
operacional e dos serviços prestados à população.
Com essas e outras ações a Caixa está então se preparando para a
queda da taxa de juros, a redução
de tarifas, a expansão do crédito, o
lançamento de novos produtos financeiros, como os cartões de
crédito populares e os fundos de
recebíveis imobiliários, para propiciar o crescimento da economia
brasileira.
Fernando Nogueira da Costa, 51, é vice-presidente da Caixa Econômica Federal e professor licenciado do Instituto de
Economia da Unicamp.
E-mail - fercos@uol.com.br
Hoje, excepcionalmente, a coluna de Antonio Barros de Castro não é publicada.
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