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São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 2003

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VIZINHO EM CRISE

Objetivo é convencer investidores a aceitar uma maior redução do valor de face e reduzir peso na dívida geral

Argentina planeja lançar títulos ligados ao PIB futuro

RICHARD LAPPER
DO "FINANCIAL TIMES"

A Argentina deverá oferecer aos credores novos instrumentos de dívida ligados a seu futuro desempenho econômico, como parte de um plano para reestruturar mais de US$ 70 bilhões em títulos não pagos, segundo o secretário de Finanças e principal negociador da dívida do país.
O governo pretende revelar detalhes dos instrumentos, além de um cardápio de opções, em setembro na reunião do FMI (Fundo Monetário Internacional) em Dubai, disse Guillermo Nielsen ao "Financial Times", durante uma visita a Londres.
A data para o que Nielsen descreveu como uma proposta de "reestruturação definitiva e verossímil" em setembro está alguns meses adiantada em relação ao que foi planejado originalmente, mas ainda deixará algum tempo para a negociação de um acordo final.
A moratória da Argentina em dezembro de 2001 foi a maior já declarada por um país. O volume total da dívida não paga, incluindo atrasados, deverá alcançar US$ 76,7 bilhões até o final deste ano.
Cerca de metade desse valor é devida a aproximadamente 600 mil investidores no varejo, baseados principalmente na Itália, Alemanha e Japão. Para complicar as coisas, a reestruturação incluirá 152 emissões de títulos separadas em 14 moedas diferentes e sob oito sistemas jurídicos.

Preparação
Tudo isso significa um terrível período de preparação. "As próximas semanas serão extremamente difíceis. Estaremos correndo contra o relógio", disse Nielsen.
Segundo ele, o governo pretende criar "grupos consultivos de credores" para facilitar as negociações e desencorajar processos legais. Nielsen aprovou a criação de um esquema por um banco europeu que se ofereceu para negociar em nome dos investidores varejistas. Mas disse que o governo argentino não concorda com a maneira como a instituição pretende cobrar as taxas.
Ao indexar alguns títulos ao crescimento futuro, o governo argentino espera convencer os investidores a aceitarem uma maior redução no valor de face ou cupom, assim atenuando seu peso na dívida geral.

Dívidas
Além da obrigação não paga, a Argentina deverá aos credores mais US$ 95,8 bilhões em dívidas ligadas ao desempenho até o final deste ano, segundo números do governo.
Isso inclui US$ 32,6 bilhões devidos ao FMI e outros credores multilaterais e cerca de US$ 26,6 bilhões emitidos para instituições argentinas em troca de títulos em dólar como parte de uma troca que antecedeu o colapso no final de 2001.
O total também inclui US$ 27,6 bilhões em novos títulos emitidos no último ano e meio para compensar os bancos por prejuízos incorridos em consequência da desvalorização que se seguiu à moratória.
Sobre essa base, a dívida pública geral do país equivaleria a grosso modo ao dobro do PIB (Produto Interno Bruto) até o final deste ano.
Outros países, incluindo Bósnia, Chile, México, Costa Rica e Bulgária, emitiram títulos indexados, mas as autoridades argentinas disseram ontem que essa seria a primeira vez que a indexação é "tão vital" para uma proposta de reestruturação.


Tradução de Luiz Roberto Gonçalves


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