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OPINIÃO ECONÔMICA
Afogado em números!
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Volto à questão do crescimento da economia em
2004. Peço a atenção do meu leitor da Folha para o gráfico nesta
página. Ele mostra a evolução dos
indicadores da produção industrial divulgados pelo IBGE mensalmente. São dados dessazonalizados para evitar que flutuações
cíclicas na produção mensal influenciem uma leitura de longo
prazo.
No gráfico, fica evidente a existência de três momentos distintos
da atividade industrial: um período de forte desaceleração entre
outubro de 2002 e julho de 2003
(1), um outro de forte aceleração
que vai de agosto de 2003 até novembro do mesmo ano (2) e, finalmente, um terceiro, em que há
uma estabilização da atividade
industrial (3). As dinâmicas desses três períodos estão claramente
associadas à política de juros do
Banco Central: forte elevação da
taxa Selic no primeiro, redução
sistemática no segundo e estabilidade no terceiro.
Quando olhamos os juros de
um ano, que são aqueles que afetam diretamente o comportamento dos consumidores e empresas, essa dinâmica das taxas é
ainda mais acentuada, tanto na
fase de aumento como na de redução. É uma evidência expressiva da correlação entre juros e atividade econômica, principalmente para aquela que depende do
mercado interno.
Tenho seguido com muita atenção, por necessidade e prazer, a
evolução da economia brasileira.
É um trabalho diário que exige
muita atenção às armadilhas das
estatísticas econômicas e às mudanças que ocorrem no Brasil e
no exterior. Conto com a colaboração sempre eficiente de uma
economista brilhante, Sandra Petroncari, que trabalha comigo na
Quest Investimentos.
Gostaria de alertar o leitor da
Folha, como sempre procuro fazer neste nosso encontro semanal,
para uma certa mistificação que
o governo e a imprensa vêm fazendo sobre a intensidade da recuperação da economia neste
ano de 2004.
Com essa finalidade, volto ao
gráfico da produção. Os dados sobre atividade industrial e vendas
do comércio, que vêm sendo divulgados, estão influenciados pela comparação do período pós-recuperação da queda do nível de
atividade com os meses de recessão econômica mais intensa que
ocorreram em 2003. Por isso, os
números mostram um crescimento expressivo que fazem os membros do governo, inclusive o presidente Lula, explodirem de alegria
e orgulho.
Já, quando olhamos para o período que vai de dezembro do
ano passado até abril de 2004, fica claro que entramos em uma
fase de estabilidade na atividade
industrial. O crescimento, que
vem sendo mostrado pelas estatísticas mensais, já ocorreu e não
está se repetindo nesta primeira
metade de 2004. O que temos
agora é uma estabilidade da produção em nível 3,5% superior à
média de 2003 e 3,3% à média de
2002. O crescimento da indústria,
na primeira metade do governo
Lula, foi de apenas 1,6% ao ano.
Nada a comemorar! E, quando
olhamos à frente, principalmente
o que está acontecendo com os juros de um ano, o quadro não permite muito otimismo.
Para aqueles que andam deslumbrados com os efeitos sobre o
cidadão comum do crescimento
asiático que estamos tendo, sugiro, como leitura adicional, o relatório sobre o emprego na indústria até abril deste ano, publicado
ontem pelo IBGE.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 61,
engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e
ministro das Comunicações (governo
FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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