São Paulo, sexta-feira, 18 de junho de 2004

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SAIA JUSTA

Governadora do Rio levanta dúvidas sobre licitação de plataforma; presidente da Petrobras diz que ela "atrapalha festa"

Rosinha e Dutra batem boca no Planalto

GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A cerimônia de assinatura de 11 contratos da Petrobras, ontem, no Palácio do Planalto, terminou com troca de acusações entre a governadora do Rio, Rosinha Matheus (PMDB), e o presidente da empresa, José Eduardo Dutra. "Ela atrapalhou a festa", disse ele.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda estava no salão nobre, onde foi realizada a cerimônia, quando a governadora disse a jornalistas estar "intrigada" com o fato de a Petrobras ter, segundo ela, anulado a licitação da plataforma PRA-1, em que o menor preço teria sido apresentado por um consórcio liderado por empresários cariocas. A obra, disse ela, será construída na Bahia por R$ 80 milhões a mais.
A PRA-1 é uma plataforma de "rebombeio" -escoará a produção de petróleo e de gás natural de seis plataformas de extração localizadas na Bacia de Campos, no Rio. A obra, que tem um índice de nacionalização de 70%, está orçada em R$ 1,3 bilhão, e vai gerar 2.500 empregos diretos.
"Só há uma coisa que me intriga e que não ficou muito transparente ainda. Existe uma plataforma para a qual havia sido feita uma licitação, que o Estado do Rio ganhou. A Petrobras cancelou a licitação e entrou em acordo. Extra-oficialmente tenho informações de que [a construção da] plataforma que está indo para a Bahia custará R$ 80 milhões a mais do que custaria no Rio", disse. "Eu queria que houvesse um pouco mais de transparência".
A governadora afirmou ainda ter enviado carta aos ministros Aldo Rebelo (Coordenação Política) e Dilma Rousseff (Minas e Energia) informando que daria incentivos fiscais ao consórcio carioca para assegurar a construção da plataforma no Rio.
José Eduardo Dutra, questionado sobre as declarações da governadora, disse: "Se eu fosse irresponsável poderia falar também que há corrupção no governo do Rio, mas não vou falar isso".
O ministro José Dirceu (Casa Civil) disse que "a governadora Rosinha está no direito dela de fazer críticas e eu tenho certeza que a Petrobras vai esclarecer tudo". Para Dirceu, "a Petrobras é uma empresa que tem uma posição de lisura e o principal Estado beneficiado pela Petrobras hoje é o Rio".
Segundo Dutra, o governo do Rio "capitaliza" iniciativas da Petrobras e do governo federal como sendo do governo do Estado. "Como o governo [federal] decidiu fazer a assinatura dos contratos aqui em Brasília, envolvendo vários Estados, a governadora do Rio resolveu atrapalhar a festa."
Ele disse que divulgará todas as informações sobre a licitação da plataforma na próxima semana, durante depoimento em comissão do Senado.
Dutra explicou que o decreto que regulamenta as licitações da Petrobras (nš 2.747) prevê que, quando todas as empresas envolvidas na concorrência apresentarem um preço mais elevado do que os praticados pelo mercado, a estatal entra num processo de negociação com os participantes.
Durante a negociação, segundo Dutra, a Mauá-Jurong, o consórcio liderado por empresários cariocas, apresentou o maior preço e uma proposta técnica inadequada. Já o consórcio formado pela Norberto Odebrecht-Ultratec ofereceu o menor preço e a melhor proposta técnica. "Se a governadora tem algum elemento que coloque em dúvida a licitude desse processo, que recorra à Justiça. É uma afirmação irresponsável."
O governador da Bahia, Paulo Souto (PFL), disse que a "Petrobras faz tudo de forma clara", e evitou entrar na disputa.


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