São Paulo, domingo, 18 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Derrota na Copa afeta Bolsa, diz pesquisa

Resultado negativo no Mundial tem efeito mais significativo no preço das ações do que a vitória, apontam economistas

Relação é mais evidente em países de economia relevante e nos quais o futebol é o esporte mais popular, como o Brasil

Mauricio Lima - 1º.jul.02/France Presse
Operadores na Bolsa de Valores de São Paulo um dia após a conquista do pentacampeonato


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

A boca de Ben Bernanke tem o mesmo peso das pernas de Ronaldinho. Que cada frase do presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano, exerce um efeito imediato nas Bolsas de Valores o mundo está cansado de saber, como mostraram mais uma vez as duas últimas semanas de tensão no mercado financeiro. O que não se sabia é que cada gol feito ou deixado de fazer pelo jogador brasileiro de futebol pode ter efeito semelhante.
É o que sugere o estudo "Football and Stock Returns" (Futebol e Ganhos de Ações), conduzido por três acadêmicos, os norte-americanos Diego Garcia, da Tuck School of Business da Universidade Dartmouth, e Alex Edmans, do Sloan School of Management do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), e o norueguês Oyvind Norli, da Norwegian School of Management.
O trio de economistas e fãs do esporte estudou os resultados de mais de mil partidas dos times nacionais de futebol e cruzou com os fechamentos dos pregões das principais Bolsas de Valores dos países nos dias seguintes às competições de 39 países num período de 30 anos, seleção brasileira e Bovespa incluídas. Concluíram que as derrotas podem derrubar as ações e as vitórias podem render ganhos nos papéis, em resultados que pretendem publicar na semana que começa.
"O mais curioso", disse à Folha Diego Garcia, "é que as derrotas aparentam ter um efeito mais significativo no mercado do que o efeito positivo das vitórias". O torcedor do Barcelona de 32 anos e origem espanhola explica: quando o time de um país ganha um jogo contra o time de outro país, o efeito positivo nas Bolsas do vencedor no dia seguinte é uma alta média de 0,06%; se o selecionado perde, porém, a baixa é mais acentuada, de 0,13%.
"Essa queda é tanto pior quanto mais crítico for o jogo", explica Garcia. "Ou seja, derrota em jogos de Copa do Mundo causa perdas maiores do que em competições como a Libertadores da América." Nesse caso, o índice médio de perdas nas ações pula do 0,13% para 0,24%. "E, dentro da Copa, a derrota numa eliminatória vai ser mais sentida pelo mercado no dia seguinte do que a derrota num jogo ordinário."
A relação causa-efeito é mais evidente em países com economias robustas e em que o futebol é considerado o esporte mais popular, como Brasil, Alemanha, Espanha, Inglaterra e Itália, por exemplo, e menos importante em países pequenos ou como os Estados Unidos, em que há uma pulverização da preferência nacional entre futebol americano, beisebol e basquete, com o futebol vindo em quarto lugar em popularidade -se os parâmetros forem audiência de TV e valor das inserções comerciais.

Mudança de humor
A explicação do trio é parecida à que é dada por analistas econômicos quando há uma volatilidade do mercado como a ocorrida nos últimos dias a partir de declarações do chefe do Fed, de que estava "preocupado" com a inflação. "A queda se deve mais a uma mudança no humor do que a índices econômicos palpáveis", diz o estudo. Assim, os fatores subjetivos seriam mais importantes.
Entre os fatores econômicos objetivos que explicariam as perdas, no entanto, o estudo aponta a queda de produtividade dos empregados e a diminuição de faturamento que empresas ligadas à competição sofrem com a derrota do time nacional -como o patrocinador principal da transmissão pela TV, por exemplo, e a emissora, que perde em audiência.
Na última quarta-feira, um dia depois de a seleção brasileira bater o time da Croácia na estréia da Copa com um suado gol do meia Kaká, o mercado doméstico se comportou como prevê o estudo: depois de sucessivos dias de maus resultados, o dólar encerrou em baixa de 0,74%, assim como o risco-país, que despencou 5,47%, e a Bolsa de Valores de São Paulo fechou com ligeira alta, de 0,29% -ou quase cinco vezes mais do que prevê o estudo do trio de economistas.
É que o Brasil é o favorito, explica Garcia. "O mercado de apostas prevê que o país tem duas vezes mais chances de ganhar a Copa do que Alemanha, Argentina, Espanha ou Inglaterra, que têm chances semelhantes." E ameaça: "Eu acho que Alemanha e Inglaterra estão supervalorizadas, e Argentina e Espanha têm mais chances do que imaginamos".


Texto Anterior: Caso Varig não cabe na Lei de Falências, dizem especialistas
Próximo Texto: Futebol x Bolsa: Conclusões de "Football and Stock Returns"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.