São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 2008

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Mercado Aberto

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br

Empresários temem que juro alto inviabilize política industrial

Em reunião ontem do Fórum Nacional da Indústria, em São Paulo, os empresários manifestaram o receio de que a atual política do governo de combate à inflação inviabilize a nova política industrial, lançada há pouco mais de um mês e que foi batizada de PDP (Política de Desenvolvimento Produtivo).
A nova política industrial previa uma série de desonerações tributárias e traçava quatro macrometas a serem alcançadas até 2010: acelerar o investimento fixo; estimular a inovação; ampliar a inserção internacional do Brasil; e aumentar o número de micro e pequenas empresas exportadoras. A renúncia fiscal prevista era de R$ 21,4 bilhões até 2011.
O problema, segundo os empresários reunidos ontem em São Paulo, é que, na época em que foi lançada a política industrial, no dia 12 de maio, o governo e os empresários certamente ainda não tinham consciência do risco de alta da inflação, apesar de o Banco Central já ter feito uma série de alertas e de também já ter aumentado em 0,5 ponto a taxa básica de juros, em 16 de abril.
Ontem, os empresários se deram conta da inconsistência entre as duas políticas.
"A política industrial vai numa mão, e a política monetária, numa outra", diz Humberto Barbato, presidente da Abinee (indústria elétrica e eletrônica). "Como a política industrial vai conseguir os efeitos necessários com esses juros?"
A percepção geral dos empresários é a de que a elevação dos juros vai simplesmente limitar ou inviabilizar o plano de desenvolvimento industrial anunciado pelo governo, principalmente em razão da forte valorização do real. O aperto da política monetária tende cada vez mais a aumentar a apreciação do câmbio e anular os efeitos da política industrial.
"A atual política monetária não é compatível com os objetivos da política industrial", diz Paulo Godoy, presidente da Abdib (indústria de base).
"Dificilmente haverá interesse do empresário em investir", diz Humberto Barbato.
Uma das sugestões apresentadas pelos empresários foi a de encaminhar ao governo uma proposta de passar a coordenação da nova política industrial para um único ministro, como ocorre no caso do PAC, cuja gerência está concentrada na ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).
A proposta de concentrar a política industrial em um "gerentão" partiu do empresário Jorge Gerdau, que considera o atual plano muito disperso em diversos ministérios e gabinetes do governo, o que inviabiliza a sua condução. Se a incompatibilidade entre as políticas monetária e industrial já é um grande problema, Gerdau acha que a falta de coordenação só atrapalha ainda mais as chances de a PDP ir para a frente.

NOVOS PLANOS

Ricardo K., presidente da Brasil Telecom, continuará à frente da tele até a conclusão da compra da BrT pela Oi. Ele tinha cogitado deixar a companhia para voltar para a Angra Partners no meio do ano, mas os acionistas da BrT pediram para ele ficar no cargo pelo menos até dezembro.

EMBALO

Aprovada pelo Conselho Nacional de Trânsito no início do mês, a obrigatoriedade da cadeirinha em carros de passeio para transportar crianças de até sete anos e meio deve movimentar o mercado de produtos infantis. Karine Gontijo, sócia da BBtrends, loja de produtos para bebês, já teve alta na venda dos itens, mas diz que ainda não é efeito da medida. "A fiscalização só começa em 2010, não deu tempo." Segundo pesquisa do site de comparação de preços Buscapé, em abril, maio e junho, a categoria de cadeira para bebê teve alta de 108% nos acessos ante o mesmo período de 2007. O valor mais baixo encontrado foi de R$ 70,89, e o mais alto, de R$ 999. A infração prevê multa de R$ 191,54.

Avanço global pode parar com aperto monetário

Com a ameaça dos BCs dos EUA e da Europa de aumentarem os juros, o crescimento da economia global pode ser afetado neste ano.
Francisco Pessoa Faria, economista da consultoria LCA, diz que, apesar de os representantes dos BCs dos países desenvolvidos negarem os rumores de que o aperto monetário virá mais cedo e mais forte do que se espera, o preço do petróleo e das commodities agrícolas pode obrigar as autoridades monetárias a elevar os juros.
Mesmo com as pressões inflacionárias, entretanto, a LCA afirma que o BC europeu e o Federal Reserve (o BC dos EUA) vão se esforçar para não subir logo os juros.
A razão é que a confiança na economia está menor e, como retração do crédito, o aperto poderia piorar a crise.
Segundo a consultoria, os BCs dos países desenvolvidos só vão elevar juros em 2009, "quando estará afastado o risco de crise no mercado financeiro, com o fortalecimento dos bancos, e vai haver mais espaço para aumentar juros", diz o economista.

VESPERTINO
José Sergio Gabrielli, Petrobras, jantou segunda, em São Paulo, com empresários do Iedi. Estava acompanhado de Luciano Coutinho (BNDES) e do senador Aloizio Mercadante (PT-SP). Gabrielli disse que trabalha com um cenário de preço alto do petróleo para os próximos cinco anos, o que viabiliza os investimentos na camada pré-sal da bacia de Santos. Gabrielli disse que um dos grandes problemas será o transporte de pessoal para as plataformas, que vão ficar a 300 metros da costa. A estatal pensa em construir uma cidade flutuante ou plataformas automatizadas. Os empresários gostaram da apresentação, mas estranharam o horário do jantar: 18h.

MATUTINO
Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, e Regina Nunes, da Standard & Poor's, participam hoje de um café da manhã a convite do Demarest e Almeida Advogados. À mesa, o grau de investimento. Clientes e representantes de bancos de investimento e de fundos de private equity também participam.

DANÇA DA CADEIRA
A Unipar, que anunciou parceria com a Petrobras para formar a Quattor, tem nova diretoria. Arthur Cesar Whitaker de Carvalho foi indicado para a presidência do grupo, e José Octávio Via- nello de Mello assumiu a vice-presidência e a área de relações com investidores.


com JOANA CUNHA e VERENA FORNETTI


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