São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 2008

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Inflação dos alimentos já afeta o comércio

Setor de supermercados, alimentos e bebidas reduz ritmo de crescimento por causa da alta de preços, aponta pesquisa do IBGE

CIRILO JUNIOR
DA FOLHA ONLINE, NO RIO

A inflação dos alimentos já afeta as vendas do comércio varejista. Em abril, houve expansão, em volume, de 0,2% na comparação livre de efeitos sazonais com março, quando a alta havia sido mais robusta (1,5%). Em relação a abril de 2007, houve expansão de 8,7%, menor do que em março (11%).
Segundo o IBGE, o desempenho foi influenciado negativamente pelo setor de supermercados, alimentos e bebidas. A alta dos preços já indica que o consumidor está procurando produtos mais baratos para fugir dos efeitos da inflação, de acordo com o IBGE.
Um sinal desse efeito é que o volume de vendas de super e hipermercados cresceu 0,5% em relação a março, mas a receita nominal caiu 6,4%. Ou seja, a quantidade cresceu, mas com a venda de itens de menor valor.
Considerando todo o setor de hiper, supermercados e demais lojas de produtos alimentícios, bebidas e fumo, as vendas recuaram 0,1% de março para abril. Na comparação com abril do ano passado, houve uma expansão de 0,6% -menor que os 8,5% de março.
Outro dado que indica que a alta dos alimentos fez sobrar menos dinheiro no bolso dos consumidores é a redução das vendas de artigos de uso pessoal e doméstico, que incluem jóias e artigos esportivos. Na comparação com março, houve queda de 1%. Em relação a abril de 2007, as vendas subiram 10,2%, num ritmo bem menor do que os 27,6% constatados em março.
"A inflação afeta principalmente as classes mais pobres, e as pessoas já começam a deixar de fazer uso de supérfluos e a consumir produtos de menor valor agregado", observou o economista-chefe da consultoria Gouvêa de Souza & MD, Cesar Fukushima.
"A alta em relação ao ano passado, no resultado geral, é razoável. Teria sido maior caso o comportamento do grupo ligado aos alimentos tivesse sido melhor. Se esse segmento tivesse mantido os patamares deste ano, o comércio teria crescido mais de 10%", afirmou Reinaldo Silva Pereira, responsável pela Pesquisa Mensal do Comércio.
De janeiro a abril, as vendas no varejo subiram 11%. Nos últimos 12 meses, o comércio teve uma expansão de 10,3%, de acordo com o IBGE.

Efeito Páscoa
De acordo com Pereira, o resultado mais fraco dos setores ligados a alimentos não é culpa somente da inflação, mas também do "efeito Páscoa". É que no ano passado a data foi celebrada em abril, e a base de comparação foi elevada.
"O dado da Páscoa é relevante no resultado. Mas já faz sentido dizer que a alta dos produtos alimentícios afeta as vendas do comércio varejista", disse o chefe do departamento econômico da CNC (Confederação Nacional do Comércio), Carlos Thadeu de Freitas.
Por outro lado, setores como o de móveis e eletrodomésticos continuam com as vendas em alta, impulsionados pela forte oferta de crédito e pela valorização do câmbio. Em relação a abril do ano passado, as vendas desse ramo aumentaram 27,8%. É o maior resultado desde abril de 2004, quando as vendas haviam superado em 32,2% o resultado em igual mês do ano anterior.
"O resultado de abril mostra um ajuste saudável no varejo. As vendas deverão cair um pouco, mas não irão despencar. É um ajuste natural, que tem que ser feito e que ajuda a evitar movimentos bruscos na economia, como a elevação dos juros", destacou o diretor-executivo do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo), Emerson Kapaz.


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