|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPINIÃO ECONÔMICA
Reforma da Previdência: minha opinião
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Chegou o momento de expressar ao leitor desta coluna
minha opinião sobre a reforma
da Previdência. O debate sobre
essa questão voltou depois que o
governo Lula deu sinais de que
admitia negociar alguns pontos
de seu projeto original. Os mercados não gostaram desse movimento e só se acalmaram depois
que os analistas que mais os influenciam saíram a campo gritando "senta que o leão é manso".
O posterior recuo do recuo do governo, como chamou a imprensa
desinformada sobre os novos rumos do equilíbrio político no governo Lula, ajudou a acalmar os
nervos de todos. Mas ficou um
certo mal-estar no ar, com a sensação de que as mudanças não serão tão duras como o governo havia prometido.
A sociedade brasileira tem hoje
a percepção clara de que o desequilíbrio da previdência pública é
um problema a ser enfrentado
com coragem e determinação, se
quisermos estabilizar nossa situação fiscal e manter a estabilidade
de preços tão arduamente conquistada. Isso já é um avanço extraordinário em um país no qual
os líderes políticos há muito vem
agindo como se esse problema
não existisse.
Tudo começou no regime militar, quando a participação dos
aposentados nos quadros dos funcionários públicos era inferior a
30% do total. Os ministros da
área econômica de nossos generais presidentes não se preocuparam em definir regras de contribuição dos funcionários públicos
que equilibrassem o sistema de
previdência. Alguns deles, como o
neopetista deputado Delfim Netto, até usaram o superávit do
INSS da época para engordar o
caixa do governo a que serviam.
A Constituinte que escreveu
nossa nova Carta Magna em 1988
fez crescer ainda mais essa verdadeira bomba financeira. Aumentou os benefícios dos funcionários
públicos, não cuidou das regras
de contribuição e, com uma legislação pouco cuidadosa, criou as
condições para que pessoas de
má-fé usassem mecanismos legais
mas contrários ao espírito de um
verdadeiro sistema de previdência pública para aumentar seus
benefícios. "Last but not least",
incorporou ao sistema de previdência pública centenas de milhares de funcionários públicos,
nos três níveis de governo, que estavam vinculados ao INSS.
Vivíamos um período de verdadeiro deslumbre com os direitos
para todos, sem, entretanto, a
preocupação de definir a origem
de recursos para financiá-los adequadamente. A festa foi animada, e o custo social que as novas
gerações assumiram explodiu alguns anos depois. O tempo passou
rápido e o momento do ajuste de
contas chegou!
No governo Fernando Henrique
Cardoso, com a estabilização da
inflação e a busca da tão necessária responsabilidade fiscal, não
foi mais possível esconder os desequilíbrios do sistema de previdência pública. Os funcionários públicos aposentados já representavam quase 50% do total, e o peso
financeiro de seus benefícios imobilizava os Orçamentos do governo federal, dos Estados e dos municípios.
Não tivemos outra alternativa
senão encarar o momento, evitado por tanto tempo, de reformar a
Previdência. Foi uma luta difícil,
principalmente pela oposição radical do PT e sua defesa sem limites da preservação dos direitos
dos "companheiros trabalhadores" nos serviços públicos. Mesmo
assim, nos últimos anos, andamos alguns passos na direção correta. Vivemos hoje uma segunda
etapa nessa verdadeira batalha
pelo nosso futuro. Temos agora a
vantagem de ter a liderança PT
no lado do bom senso e da responsabilidade.
Mas o partido de Lula, ao se
juntar àqueles que procuram
apenas estigmatizar os funcionários do Estado como um bando de
sanguessugas dos recursos públicos, perde uma excelente oportunidade de liderar uma verdadeira
reforma do serviço público no
Brasil. Os exageros da defesa incondicional das aposentadorias
do passado foram substituídos
por um discurso contra os privilégios e a favor da equidade absoluta entre trabalhadores do setor
privado e do setor público. Pura
demagogia! Foi o próprio presidente Lula que oficializou essa
verdadeira caça às bruxas ao
comparar a aposentadoria dos
juízes com a das companheiras
cortadoras de cana. Passamos
com isso de um extremo ao outro!
Nesse quadro, os defensores de
uma reforma da Previdência que
trate apenas da questão fiscal e
deixe de lado a questão da preservação de uma carreira pública
decente e eficiente ganharam força e criaram expectativas que hoje se mostram irrealistas. O recuo
nos últimos dias da semana passada apenas mostra que as forças
sociais e políticas ainda estão vivas, apesar da imagem quase divina de nosso presidente e do autoritarismo de seu ministro José
Dirceu. Voltarei ao tema na próxima semana.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 60,
engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
Texto Anterior: Termômetro: Venda de papelão cai 14% no 1º semestre Próximo Texto: Artigo: Princípios constitucionais e sua aplicação Índice
|