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São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 2003

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Pelo IPCA, reajuste ficaria na metade

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os gastos do consumidor com reajustes de telefonia fixa teriam sido quase a metade, entre 1999 e 2002, se essas contas tivessem sido, nesse período, corrigidas pelo IPCA, em vez do IGP-DI.
Estimativa feita pela Arx Capital Management, a pedido da Folha, mostra que o IPCA -índice de preço ao consumidor- acumulado em 12 meses entre junho de 1999 e o mesmo mês em 2002 foi de 27,18%. No mesmo período, o IGP-DI -índice de preços no atacado, muito influenciado pela alta do dólar- chegou a 51,66%.
A diferença é de 24,5 pontos percentuais. Significa que um consumidor que, por exemplo, teve contas de telefone no valor de R$ 100, nesse período, pagou R$ 51,6 de reajustes.
Se o IPCA tivesse sido usado como indexador, o total de reajustes teria sido de R$ 27,2, ou seja, 47% mais baixo.
Embora o peso do reajuste com base no IGP-DI tenha sido grande para o usuário de telefone, o impacto da troca de indexador para a inflação oficial -medida pelo próprio IPCA- teria sido pífio.
Segundo as contas da Arx, empresa administradora de recursos, a inflação oficial -parâmetro para o regime de metas do governo-, que atingiu 39,8% entre janeiro de 1999 e dezembro de 2002, teria sido apenas 0,73 ponto percentual mais baixa no período se o IPCA tivesse servido de base, desde 1998, para os reajustes dos contratos de telefonia fixa.
Segundo Alexandre de Sant'Anna, economista da Arx, isso ocorre porque o peso dos reajustes de telefonia fixa no IPCA como um todo, ou seja, na cesta final de consumo, é pequeno -oscila em torno de 3%.

Poder de compra
Portanto, embora os reajustes tenham sido muito mais significativos pelo IGP-DI, as perdas em termos de poder de compra das famílias não foram tão grandes porque os gastos com telefone representam parcela pequena de seu orçamento.
"Embora os reajustes pelo IGP-DI tenham sido bem maiores do que pelo IPCA, o impacto macroeconômico, em termos da cesta final de inflação ao consumidor foi muito pequeno", afirma Sant'Anna.
Esse impacto negativo sobre os gastos totais do consumidor tende a aumentar de forma significativa, no entanto, se forem considerados os reajustes de outros preços administrados, como os de energia elétrica.
Ainda assim, argumentam analistas, os custos são pequenos e não compensam as perdas que o país amargará se os contratos forem mudados agora. Isso provocaria fuga de investimentos e, portanto, nova disparada do dólar com efeitos sobre a inflação.
"Olhando para trás, é óbvio que o IPCA teria sido um melhor indexador. Mas os custos de uma possível fuga de investidores externos, agora, são incalculáveis", diz Alexandre Maia, economista da GAP Asset Management.
Neste ano, por conta da disparada do dólar em 2002, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) chegou a autorizar reajustes entre 24,5% e 47,75% para a telefonia fixa, com base no IGP-DI. Os valores, considerados abusivos por órgãos de defesa do consumidor e até pelo governo, foram suspensos por uma liminar da Justiça do Ceará que estabeleceu reajustes máximos de 23,95%, baseados no IPCA.


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