|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Em público, Lula cobra "juízo" de Mantega
Diante de platéia de empresários, presidente diz que cargo de ministro da Fazenda exige "menos discurso e mais prática"
Mantega tem sido criticado pelo mercado por divulgar idéias ainda em estudo no Planalto e expor divergências dentro da equipe econômica
Ueslei Marcelino/Folha Imagem
|
|
O presidente Lula ao lado do ministro Guido Mantega durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social
SHEILA D'AMORIM
FERNANDO NAKAGAWA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou o ministro
Guido Mantega (Fazenda), ontem, numa situação constrangedora. Num discurso em que
tentou contagiar uma platéia
de empresários com a confiança do governo em relação aos
rumos da economia, Lula aplicou um puxão de orelhas público no ministro ao ressaltar que
fazer o "país dar certo", como é
"o sonho de todo mundo", exige
"maturidade dos governantes
que vão construindo".
Citando nominalmente
Mantega, na seqüência, o presidente lembrou os cargos que
ele já ocupou no governo - foi
ministro do Planejamento e
presidente do BNDES - e destacou a função atual como a
mais importante delas e a que
exige "mais juízo, mais responsabilidade". "Por quê? Porque é
menos discurso e mais prática.
Em determinados cargos, a
gente não diz aquilo que pensa
nunca, a gente faz quando pode
e, se não pode, a gente deixa como está para ver como é que fica." Na seqüência, Lula completou: "Eu só quero passar essa segurança para vocês".
Mantega é constantemente
criticado por empresários e, sobretudo, pelos analistas do
mercado financeiro por falar
publicamente sobre temas ou
propostas que ainda não foram
decididas dentro do governo, o
que, por vezes, estimula especulações e explicita as divergências na área econômica.
Anteontem, o ministro deu
entrevista para negar que o governo pretenda usar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para conter a entrada de
dólares no país. Ontem, Lula
teve a preocupação de negar
enfaticamente a intenção de
adotar medidas "intempestivas" no câmbio (leia ao lado).
No início do ano, o presidente enquadrou sua equipe econômica e, em conversas com os
ministros da área, determinou
que eles evitassem divergências públicas e desse declarações que gerassem ruídos na
economia. Mas o pito não surtiu efeito por muito tempo.
Recentemente o ministro
Paulo Bernardo (Planejamento) esquentou a polêmica sobre
a meta de inflação para 2009 ao
defender publicamente valor
inferior ao que Mantega queria.
Depois de definida a meta e
de Mantega ter ganho a disputa, o presidente do BC, Henrique Meirelles, deu combustível
às divergências. Primeiro, enfatizou, em entrevista coletiva,
que trabalharia considerando
inflação de 4%. Com os ruídos
gerados pelos discursos dúbios,
Meirelles convocou reuniões
reservadas com tesoureiros de
bancos para dizer que os 4,5%
eram o valor que seria considerado pelo BC.
Miguel Jorge
O ministro Miguel Jorge
(Desenvolvimento) também
foi alvo de repreensões de Lula.
Assim que assumiu o governo,
ele esquentou a disputa com
Mantega pelo comando do
BNDES ao descartar a possibilidade de manter Demian Fiocca, indicado do ministro da Fazenda, no banco. Além disso,
descartou nomes antes de acertar o substituto com o presidente. Acabou nomeando Luciano Coutinho, indicação de
Lula. Ontem, indiretamente o
presidente fez referência aos
desencontros iniciais. Disse
que "Miguel Jorge rapidinho
aprendeu a diferença do lado de
lá e a diferença do lado de cá".
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Frase Índice
|