São Paulo, quarta-feira, 18 de julho de 2007

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Em público, Lula cobra "juízo" de Mantega

Diante de platéia de empresários, presidente diz que cargo de ministro da Fazenda exige "menos discurso e mais prática"

Mantega tem sido criticado pelo mercado por divulgar idéias ainda em estudo no Planalto e expor divergências dentro da equipe econômica

Ueslei Marcelino/Folha Imagem
O presidente Lula ao lado do ministro Guido Mantega durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social

SHEILA D'AMORIM
FERNANDO NAKAGAWA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou o ministro Guido Mantega (Fazenda), ontem, numa situação constrangedora. Num discurso em que tentou contagiar uma platéia de empresários com a confiança do governo em relação aos rumos da economia, Lula aplicou um puxão de orelhas público no ministro ao ressaltar que fazer o "país dar certo", como é "o sonho de todo mundo", exige "maturidade dos governantes que vão construindo".
Citando nominalmente Mantega, na seqüência, o presidente lembrou os cargos que ele já ocupou no governo - foi ministro do Planejamento e presidente do BNDES - e destacou a função atual como a mais importante delas e a que exige "mais juízo, mais responsabilidade". "Por quê? Porque é menos discurso e mais prática. Em determinados cargos, a gente não diz aquilo que pensa nunca, a gente faz quando pode e, se não pode, a gente deixa como está para ver como é que fica." Na seqüência, Lula completou: "Eu só quero passar essa segurança para vocês".
Mantega é constantemente criticado por empresários e, sobretudo, pelos analistas do mercado financeiro por falar publicamente sobre temas ou propostas que ainda não foram decididas dentro do governo, o que, por vezes, estimula especulações e explicita as divergências na área econômica.
Anteontem, o ministro deu entrevista para negar que o governo pretenda usar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para conter a entrada de dólares no país. Ontem, Lula teve a preocupação de negar enfaticamente a intenção de adotar medidas "intempestivas" no câmbio (leia ao lado).
No início do ano, o presidente enquadrou sua equipe econômica e, em conversas com os ministros da área, determinou que eles evitassem divergências públicas e desse declarações que gerassem ruídos na economia. Mas o pito não surtiu efeito por muito tempo.
Recentemente o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) esquentou a polêmica sobre a meta de inflação para 2009 ao defender publicamente valor inferior ao que Mantega queria.
Depois de definida a meta e de Mantega ter ganho a disputa, o presidente do BC, Henrique Meirelles, deu combustível às divergências. Primeiro, enfatizou, em entrevista coletiva, que trabalharia considerando inflação de 4%. Com os ruídos gerados pelos discursos dúbios, Meirelles convocou reuniões reservadas com tesoureiros de bancos para dizer que os 4,5% eram o valor que seria considerado pelo BC.

Miguel Jorge
O ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento) também foi alvo de repreensões de Lula. Assim que assumiu o governo, ele esquentou a disputa com Mantega pelo comando do BNDES ao descartar a possibilidade de manter Demian Fiocca, indicado do ministro da Fazenda, no banco. Além disso, descartou nomes antes de acertar o substituto com o presidente. Acabou nomeando Luciano Coutinho, indicação de Lula. Ontem, indiretamente o presidente fez referência aos desencontros iniciais. Disse que "Miguel Jorge rapidinho aprendeu a diferença do lado de lá e a diferença do lado de cá".


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