|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Governo veta plantio de cana na Amazônia
Proibição, que também incluirá o Pantanal, é adotada após pressão internacional sobre efeitos do boom sucroalcooleiro no país
Também haverá incentivo federal para a plantação
em áreas degradadas; Lula aponta tema como assunto de "soberania nacional"
IURI DANTAS
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Numa mudança de tom para
responder a questionamentos
internacionais, o governo decidiu proibir em lei o plantio de
cana-de-açúcar na floresta
amazônica e do Pantanal.
O impedimento será publicado na forma de um mapa de zoneamento agrícola específico
para a cultura de cana, mas ainda não há detalhes sobre eventual fiscalização ou punições a
infratores. O mapa deve ficar
pronto em até um ano.
Aproveitando a presença de
correspondentes estrangeiros
em uma entrevista coletiva sobre exportação de carne para a
Europa, o ministro Reinhold
Stephanes (Agricultura) anunciou a decisão, acrescentando
que outras áreas também deverão ser protegidas.
"É uma decisão de governo.
Vamos ter um zoneamento de
plantação de cana com um mapeamento restritivo. Este mapa
vai proibir qualquer possibilidade de plantação de cana no
bioma amazônico e no bioma
do Pantanal", disse.
Outro pilar do futuro mapa
de zoneamento estabelecerá
incentivos do governo federal
para a plantação de cana-de-açúcar em áreas degradadas,
como pastagens.
Além disso, o governo pretende finalizar até dezembro os
modelos de certificação ambiental e social do álcool e do
biodiesel para facilitar a aceitação do produto no mercado internacional.
"Temos os documentos básicos prontos para as certificações que serão dadas aos produtores", disse o ministro da
Agricultura.
Discurso presidencial
O anúncio de Stephanes modifica o tom que o governo vinha imprimindo às dúvidas internacionais sobre produção de
álcool versus proteção do meio
ambiente brasileiro.
Entusiasta do assunto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre argumentou que não
havia clima favorável para a
cultura da cana nessas áreas e
por isso não haveria motivos
para preocupação.
Ontem, Lula voltou a responder às críticas sobre o impacto
dos biocombustíveis na produção de alimentos comida e as
complicações ambientais com
o mesmo enfoque. O presidente descartou, por exemplo, prejuízos à Amazônia, com a expansão do plantio.
"Os portugueses eram tão inteligentes que trouxeram a cana para cá há 470 anos e não foram para a Amazônia, porque
sabiam que o solo e o tipo de
umidade que tem na Amazônia
não permitem que se produza
cana-de-açúcar como se produz em São Paulo, como se produz no Centro-Oeste brasileiro", afirmou o presidente.
De prioridade de sua gestão,
Lula tentou alçar o tema a assunto de "soberania nacional".
"Esse debate sobre biocombustíveis é uma coisa extremamente séria, e eu estou pensando até em torná-la ainda mais
séria, para que a gente possa
dar o status de soberania nacional à questão do biocombustível. Não podemos brincar com
isso e não podemos permitir
que aconteça conosco o que
aconteceu com a borracha",
disse ontem.
Texto Anterior: Vinicius Torres Freire Próximo Texto: Grupo discute manual para biocombustível Índice
|