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Empréstimo à Oi foge de padrão do BB
Crédito de R$ 4,3 bi a ser usado na compra da BrT extrapola limite do banco para empréstimos a um grupo econômico
Empresa torna-se a maior tomadora de empréstimo do banco estatal, e setor de telefonia sobe no ranking de setores agraciados pelo BB
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com o empréstimo de R$ 4,3
bilhões junto ao Banco do Brasil anunciado anteontem, a empresa de telefonia Oi se tornará
o maior tomador de crédito da
instituição controlada pelo governo federal, ultrapassando
até o limite normal de exposição a um único grupo econômico previsto na política de crédito do banco.
Segundo a Folha apurou, isso só será possível porque ela
passará a integrar um segmento especial de empresas que a
diretoria do BB considera estratégico para investir e, portanto, permite uma maior concentração de crédito.
Considerando os últimos dados disponíveis do balanço do
BB, referente ao primeiro trimestre deste ano, o maior tomador de crédito, uma companhia pertencente ao setor de
metalurgia e siderurgia cujo
nome não foi divulgado, devia
ao banco R$ 4,182 bilhões. Isso
representava 4% dos R$
104,574 bilhões emprestados
só a grandes empresas com faturamento superior a R$ 90
milhões por ano (o chamado
segmento "corporate").
A operação com a Oi, que será usada para financiar a compra da Brasil Telecom uma vez
que a lei a permita, atinge 4,1%
desse total e também está no
topo dos maiores devedores do
BB quando se considera o volume global de empréstimos do
banco. A carteira total de crédito do BB junto a empresas privadas -incluindo micro, pequenas e médias- fechou o
primeiro trimestre com R$
138,124 bilhões concedidos.
O empréstimo para empresa
de telefonia representa 3,1%
desse total, percentual ligeiramente superior aos 3% detidos
até então pelo maior credor
privado pessoa jurídica do BB.
Os R$ 4,3 bilhões também
extrapolam o limite de 10% do
patrimônio de referência do
banco fixado pela diretoria do
BB para operações com um
mesmo grupo empresarial, segundo a Folha apurou -o banco nega esse limite (leia texto
abaixo).
Para esse cálculo, é utilizado
o patrimônio de referência,
que, no caso do BB, em março
equivalia a R$ 36,4 bilhões. Se
seguisse o teto de 10%, o banco
só poderia emprestar R$ 3,6 bilhões à Oi. No entanto, há uma
exceção para empresas consideradas clientes estratégicos e
de bom retorno para a instituição. Nesse grupo estão, por
exemplo, a Vale do Rio Doce, a
Petrobras e a Votorantim. Todas companhias que integram
o setor de metalurgia e siderurgia, o que mais toma empréstimos junto ao BB. Nesses casos,
vale o limite de exposição de
25% do patrimônio de referência, determinado pelo Banco
Central. Ou seja, até o empréstimo à Oi, o BB usava um critério mais restrito que o do BC
para outros setores que não o
de metalurgia e siderurgia.
Em março, esse segmento tinha R$ 11,517 bilhões em crédito do banco, 11% do total concedido às grandes empresas.
Telecomunicações, em que está incluída a Oi, ocupava a 17ª
posição, com R$ 2,1 bilhões.
Agora, deverá ficar entre os seis
principais segmentos.
Para Luís Miguel Santacreu,
analista da Austin Rating, não é
comum um negócio dessa magnitude. "Sobretudo porque um
dos interessados no negócio
entre a Oi e a Brasil Telecom é
a Previ, fundo de pensão dos
funcionários do BB." Ele diz
não acreditar que seja uma
operação ruim, já que a empresa Oi é considerada sólida. No
entanto, para ele, claramente, a
operação foge do padrão do BB.
"O BB não é um banco de investimento. Ele poderia ganhar
mais dinheiro fazendo operações de crédito no varejo."
O BB argumenta que o setor
de telefonia é estratégico pelas
oportunidades que surgirão no
mercado com a tecnologia 3G.
A idéia, segundo executivos do
banco, é que isso permitirá fazer de telefones celulares computadores de bolso, atendendo
a uma demanda reprimida no
país por essa tecnologia.
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