São Paulo, domingo, 18 de agosto de 2002

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Economia engasga no trimestre em que historicamente avança

DA REPORTAGEM LOCAL

As projeções mais pessimistas de bancos e consultorias para o crescimento do país já eram previsíveis. A crise cambial, que tomou força a partir de junho, jogou as estimativas anteriores para escanteio.
A questão não é a revisão dos números em si, mas o que isso representa: o país está travado no terceiro trimestre do ano, quando historicamente recupera o fôlego e cresce.
Um indicador resume bem o tamanho do problema: o desemprego volta a crescer.
Mais de 8.000 pessoas perderam seus postos de trabalho em julho, só na indústria paulista. Se esse número voltar a se repetir neste mês, como prevê a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), terá ultrapassado -só nos oito meses de 2002- o número total de demissões de 2001, quando o país parou atordoado com o risco do apagão. De janeiro a julho, 25 mil pessoas foram dispensadas. Nos 12 meses de 2001, perderam seus postos 32,4 mil trabalhadores.
Em alguns setores, as demissões são quase diárias, mas feitas aos poucos. São dispensados 10, 20, 30 funcionários por vez. Isso está ocorrendo no setor de telefonia, no caso, com os fabricantes de celulares, segundo a Folha apurou. É a demissão conta-gotas, como classifica o Sindicato dos Metalúrgicos de Manaus, onde fica a Zona Franca.

Executivos
Também existe a "demissão classe A"-quando vão parar na rua diretores e gerentes, sem distinção. Pesquisa do Grupo Catho com 9.174 executivos mostra que, em 1997, um presidente permanecia na mesma companhia, em média, sete anos e meio. Em 2001, essa média caiu para quatro anos e meio. A estimativa é que agora se reduza para quatro anos.
Na avaliação de Roberto Padovani, economista da consultoria Tendências, a pressão para o aumento de desemprego vem do desaquecimento do comércio. Dólar em alta resulta em taxas de juros mais elevadas e pressão nos preços. A consequência é menos renda nas mãos do trabalhador e menos consumo. "A indústria vai sofrer com tudo isso e, assim, o número de pessoal ocupado tende a diminuir."
As demissões serão mais fortes, segundo economistas ouvidos pela Folha, nos setores mais dependentes de financiamento, como eletroeletrônico, veículos e construção civil. "Eles precisam de crédito para vender, só que agora o financiamento está escasso e caro", diz Fábio Silveira, economista da MB Associados. As empresas dos setores de telecomunicação e energia também serão alvos de demissões, diz, pois elas têm altas dívidas em dólar. (AM e FF)


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