São Paulo, domingo, 18 de agosto de 2002

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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS

Brasil reage à crise criando políticas tecnológicas

GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA

Na política e na economia o Brasil pode estar dando sinais de atraso e retrocesso, mas no campo cada vez mais estratégico das políticas tecnológicas há sinais de que o país, finalmente, acordou.
Não se trata apenas do megapacote de políticas científicas e tecnológicas preparado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e apresentado na semana passada pelo presidente FHC. O setor privado se organiza para dar conta de desafios conhecidos por nomes complicados como "inteligência competitiva" e "gestão do conhecimento". Em 16 de setembro começa o KM Brasil, evento que combina as duas áreas num só movimento (www.kmbrasil.com/).
A academia também se reorganizou e opera sob modelos cada vez mais inovadores. A Fapesp, que chocou positivamente o país e o mundo colocando o Brasil no mapa mundial das pesquisas genéticas, pretende seguir agora o mesmo modelo de desenvolvimento científico e tecnológico em rede num grande programa para o desenvolvimento da internet avançada no Estado de São Paulo.
Só parecem fora dessa onda os candidatos presidenciais. Concentram-se na agenda mais urgente, macroeconômica, o que talvez seja inevitável num momento tão dramático de crise. Apelam para promessas de reformas sociais, outro tema inevitável num país que bate recordes de desigualdade. Ninguém se manifesta sobre o que talvez seja a condição para que a economia escape, no longo prazo, da dependência financeira e dos círculos viciosos da pobreza, que giram em torno da ignorância e da má escolaridade.
Ao menos o governo FHC, em seu momento final, lança o que poderá ser a matriz de políticas industriais, comerciais e tecnológicas que induzam a inovação e a competitividade de empresas e cadeias setoriais nos próximos anos. O tema tende a ficar fora da campanha eleitoral, mas prognósticos sobre o futuro da balança comercial, um dos nós górdios da atual crise cambial, dependem de uma avaliação da capacidade de inovação permanente na economia brasileira.
As medidas anunciadas na semana passada são inovadoras, até porque talvez pela primeira vez uma política de desenvolvimento é anunciada depois, não antes da criação de mecanismos de financiamento.
Nos últimos anos, aos poucos foram desenhados novos fundos setoriais em áreas estratégicas como petróleo e telecomunicações. O pacote federal garante maior proteção às verbas da área, mas antes disso foram definidas e implementadas formas inovadoras de financiamento associadas ao desempenho dos principais setores econômicos privatizados na era FHC.
O desafio crucial a partir de agora já não é conseguir verbas ou reclamar da falta de políticas. Os obstáculos estão na cultura das empresas e das universidades, nas dificuldades de atração de projetos de pesquisa de empresas multinacionais ao país e de articulação de políticas regionais, estaduais e até municipais que sejam capazes de refletir o espírito da política federal e dar bom destino aos recursos.
A guerra fiscal, uma das feridas abertas pela ausência de reforma tributária, é talvez a principal barreira do sistema econômico no caminho para políticas subnacionais decentes.

Bate-papo sobre inovação
Para os interessados em discutir as perspectivas da inovação no país, estarei mediando no próximo dia 22, às 17h, um bate-papo no UOL com o diretor-executivo do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo), Guilherme Ary Plonski.


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