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Casa toma 25 horas por semana da mulher
Estudo do IBGE mostra que homens gastam 9,8 horas por semana em tarefas domésticas, como limpeza e cozinha
Divisão prejudica meninas desde cedo: 82,6% das mulheres e 47,4% dos homens de 10 a 17 anos se dedicam a essas tarefas
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Ter casa, comida e roupa lavada é promessa que, no Brasil,
muitas mulheres gostariam
que fosse colocada em prática
pelos maridos. Um estudo do
IBGE sobre a divisão dos afazeres domésticos divulgado ontem comprova, no entanto, que
a realidade é bem diferente.
Até cresceu a proporção de
homens que dizem limpar a casa, lavar a louça, fazer comida
ou cuidar dos filhos. Em 2001,
42,6% da população masculina
fazia trabalhos domésticos em
casa. Em 2005, esse percentual
subiu para pouco mais da metade: 51,1%. O avanço, no entanto,
ainda é irrisório quando se leva
em conta que, entre as mulheres, a proporção chegava a
90,6%.
Essa sobrecarga feminina é
verificada em todas as classes
sociais. Na população com menos de quatro anos de estudo,
por exemplo, a proporção de
homens que cuidam de afazeres domésticos é de 47%, ante
89% das mulheres. Entre os
mais escolarizados, aumenta
um pouco o percentual masculino -chega a 54%-, mas a das
mulheres não muda praticamente nada: 88,7%.
Nem mesmo quando a mulher também trabalha fora ou é
a chefe da família a divisão é
equilibrada. Os percentuais de
homens e mulheres que dizem
cuidar de afazeres domésticos
quase não se altera mesmo
quando se compara apenas a
população ocupada.
O estudo do IBGE mostra, no
entanto, que está diminuindo o
tempo médio que os brasileiros, homens ou mulheres, dedicam semanalmente a tarefas
domésticas. Em 2001, a média
era de 23,4 horas. Quatro anos
depois, caiu para 19,9 horas.
Quem mais se beneficiou da
queda foram as mulheres: de 29
horas semanais para 25,3. Elas,
no entanto, continuam dedicando mais que o dobro do
tempo que os homens às tarefas domésticas, cuja variação
no mesmo período foi de 10,9
horas semanais para 9,8.
Uma das hipóteses levantadas por Cristiane Soares e Ana
Lucia Saboia, autoras do estudo, para explicar por que tem
diminuído o número de horas
gastas com os afazeres domésticos no Brasil é a aquisição pelas famílias de eletrodomésticos que poupam tempo de trabalho em casa.
Prejuízo
A sobrecarga de afazeres domésticos atrapalha a inserção
das mulheres no mercado de
trabalho. Entre os homens, a
jornada média semanal é de
42,9 horas fora de casa, enquanto entre mulheres ela é de
34,7 horas.
Essas oito horas semanais a
menos de trabalho fora das mulheres, no entanto, não compensam no dia-a-dia o tempo
gasto com afazeres domésticos.
Tanto que, ao somar as horas
de trabalho fora com o doméstico, as autoras do estudo concluem que mulheres gastam
11,5 horas por dia nessas duas
tarefas, enquanto homens despendem 10,6.
O estudo do IBGE comprova
também que a divisão injusta
das tarefas domésticas é algo
que se aprende desde cedo e
que persiste ao longo dos anos.
Na faixa etária de 10 a 17 anos,
47,4% dos homens cuidam de
afazeres domésticos, enquanto
entre as mulheres a proporção
chega a 82,6%.
Da mesma maneira que
acontece com a população
adulta, entre crianças e jovens,
além de menos homens se envolverem com tarefas domésticas, o tempo gasto por eles é
muito menor: 8,2 horas semanais, ante 14,3 das mulheres de
10 a 17 anos.
"Socialmente, no âmbito da
família, já se constrói esse conceito de que cabe à mulher a
maior responsabilidade pelas
tarefas domésticas", diz Cristina Soares.
Essa construção social fica
cristalizada ao longo das gerações e, a partir dos 18 anos, o
tempo dedicado pelos homens
para trabalhos domésticos é
sempre menos da metade do
verificado entre as mulheres.
Entre os homens, quem mais se
dedica ao lar são aqueles que
têm mais de 60 anos, com 13
horas por semana. Mulheres da
mesma faixa etária, no entanto,
gastam mais que o dobro: 28,7
horas.
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