São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 2008

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Apesar de defeitos, país atrai estrangeiro

Levantamento mostra que problemas estruturais do Brasil não desencorajam investimentos por empresas do exterior

Entre as companhias que consideram a América Latina como destino potencial para seus negócios, 53% pretendem vir para o país

Eduardo Anizelli/Folha Imagem
Edenilson Fleischmann, vice-presidente da Politec, empresa brasileira na qual a japonesa Mitsubishi quer aplicar US$ 80 milhões

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Elevada carga tributária, burocracia, infra-estrutura falha, incertezas quanto aos marcos regulatórios. Diferentemente do que se pensa, esses e outros problemas não afugentam as empresas estrangeiras que querem investir no Brasil. Pesando os prós e os contras, elas acabam concluindo que o país vale a pena.
Essa é uma das conclusões que se pode tirar de pesquisa feita pela Análise Editorial com as 142 maiores empresas do mundo que ainda não atuam no Brasil e possuem planos de expansão no exterior nos próximos cinco anos. Entre as que consideram a América Latina como destino potencial para seus negócios, 53% pretendem vir para o país. Daquelas que não têm o Brasil como alvo, 85% apontam como motivo para excluírem-no da sua lista questões não relacionadas às dificuldades ou limitações da região. "O que interessa, para os investidores, é que o país remunera o capital nele colocado", afirma Eduardo Oinegue, diretor da editora.
É justamente sobre essas boas perspectivas de retorno que Giovanni Sacchi, diretor do italiano ICE (Instituto para o Comércio Exterior), tem falado aos empresários do seu país. Convencidos, cerca de 30 vêm ao Brasil em outubro em busca de parceiros. "Eles atuam nas áreas de energias renováveis, biotecnologia e saúde e máquinas agrícolas", afirma Sacchi. "Para as grandes corporações, é fácil, as menores sempre demoram um pouco mais, precisam se sentirem seguras. A estabilidade econômica conquistada pelo Brasil nos últimos anos favorece definitivamente o processo, portanto." Às empresas de nações maduras como as européias só resta, atualmente, a expansão além-fronteiras para garantir contínuo crescimento de receitas.
Entre os chamados países emergentes, o Brasil se destaca por uma organização institucional um pouco melhor, pela classe média mais sólida, pelos minérios e outros recursos naturais, pela capacidade de produção agrícola e pela posição estratégica no continente.
Em abril último, o grupo japonês Mitsubishi comprou uma participação de tamanho não divulgado na empresa brasiliense de serviços em tecnologia da informação Politec. Já injetou US$ 30 milhões e pretende aplicar outros US$ 50 milhões até o começo de 2009, recursos a serem empregados em uma rápida expansão doméstica e internacional.
"A presença da Mitsubishi na área de TI fora do Japão era tímida. Como queria ter uma operação global, decidiu fazer uma parceria com uma empresa bem estabelecida e de potencial", afirma Edenilson Fleischmann, 38, vice-presidente da Politec. Funcionário da Mitsubishi e trabalhando no Japão, o executivo ajudou a escolher a companhia que serviria aos objetivos do grupo. "O diferencial das empresas brasileiras de tecnologia é a capacidade dos profissionais que possuem. Isso compensa as dificuldades de funcionar no pais."

Lição de casa
"Nosso sistema de registros, abertura e fechamento de empresas é espantosamente complexo. No processo de regulação de mercados, também parece estar havendo um retrocesso. O empresário que encontra dificuldades demais acaba desistindo, sim", afirma Mário Marconini, diretor da consultoria ManattJones Marconini e presidente do Conselho de Relações Internacionais da Fecomercio SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo).
"Apesar dos avanços, ainda há muito por fazer. Se não resolver essas fragilidades, em 10 ou 20 anos o país vai perder a corrida global", diz Walter Piacsek, sócio e presidente do Boston Consulting Group no Brasil.


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