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agrofolha
Setor de trigo precisa de suporte de R$ 1 bi
Preços mínimos internos superam os externos; governo já estuda medidas para garantir remuneração aos produtores
Para especialista, governo deve "retirar" 2 milhões de toneladas do mercado, mas aí há outro problema: falta armazém para estocagem
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O governo queria reduzir a
dependência brasileira do trigo
vindo do exterior. Elevou os
preços mínimos e incentivou o
plantio do cereal. Os produtores responderam com uma área
maior, principalmente no líder
Paraná, onde o crescimento foi
de 53% nas duas últimas safras.
O cenário externo, no entanto, mudou. Os preços, que estavam elevados, recuaram. A produção mundial, até então em
queda, se recuperou e neste ano
deve superar em pelos menos 8
milhões de toneladas a demanda internacional.
Essas mudanças deixaram o
produtor brasileiro em uma situação muito complicada. Tradicionalmente uma cultura de
pouca rentabilidade, neste ano
a situação pode ser ainda pior.
Os produtores nacionais vão
encontrar a concorrência de
preços menores no mercado
externo e um câmbio favorável
às importações.
Dificilmente os produtores
vão conseguir comercializar o
trigo pelo preço mínimo, a menos que o governo entre no
mercado e dê sustentação à comercialização, segundo avaliação do mercado.
O governo precisa agir já, dizem produtores. A resposta do
governo é que já estão sendo estudados os instrumentos que
serão utilizados para essa sustentação de preços. Essa operação pode atingir R$ 1 bilhão.
Abaixo do externo
No Paraná, por exemplo, o
valor do preço mínimo da tonelada foi estipulado em R$ 530,
ou seja, US$ 280. Esse preço supera em pelo menos US$ 80 os
valores médios praticados no
mercado externo.
A tonelada de trigo de boa
qualidade, que já esteve a US$
482 em março de 2008, fechou
julho a US$ 233, segundo Ataídes Jacobsen, da Emater/RS.
Lawrence Pih, do Moinho
Pacífico, trabalha com números próximos a esses, mas lembra que o Leste Europeu já comercializa trigo a US$ 165 por
tonelada. Nas contas dele, o
preço médio do mercado externo fica próximo de US$ 200.
Uma amostra desse cenário
adverso é que as máquinas já
estão indo a campo para o início da nova safra e os produtores, em plena entressafra, ainda
estão vendendo trigo a R$
26,90 por saca no Paraná, abaixo dos preços mínimos de R$
28,80 estabelecidos pelo governo no ano passado.
A deterioração da situação de
comercialização ocorre em um
período ainda mais complicado
para o produtor paranaense,
que teve agravamento nos custos de produção devido à ocorrência de doenças na lavoura,
trazidas pelo excesso de chuvas, segundo Otmar Hubner,
do Deral (Departamento de
Economia Rural).
José Pitoli, da Coopermibra,
cooperativa no noroeste do Paraná, diz que "o governo deve
tomar medidas já". Pih concorda e diz que o instrumento mais
adequado para isso é a AGF
(compra de produtos).
Estudos
Ao contrário dos outros instrumentos, como lançamento
de opções e PEP (um programa
que auxilia no escoamento do
produto), a AGF retira o trigo
do mercado, dando sustentação aos preços, diz ele.
Além disso, o governo poderá
voltar a colocar esse produto no
mercado durante a entressafra,
conseguindo recuperar os recursos investidos.
O problema, alerta Pih, é que
o governo deveria retirar pelo
menos 2 milhões de toneladas
de trigo do mercado, com gastos que variam de R$ 800 milhões a R$ 1 bilhão.
Em um período de aumento
de déficit público -e quando
até o café entrou na lista dos socorridos- vai ser difícil o governo dispor de tanto dinheiro
para o trigo, diz ele.
Silvio Farnese, coordenador-geral de cereais e culturas
anuais do Ministério da Agricultura, diz que realmente
grande parte da comercialização do trigo vai depender do governo. Os instrumentos a serem utilizados ainda não estão
definidos, mas o governo pode
iniciar com "um reforçado
PEP", permitindo a saída do
trigo dos Estados produtores
do Sul para os do Nordeste.
As operações de AGF não estão descartadas, mas o governo,
que já tem 700 mil toneladas de
trigo em estoques, esbarra em
onde colocar o produto por falta de armazéns, diz Farnese.
As operações de sustentação
de preços do trigo dependem,
ainda, de liberações orçamentárias, mas o volume a ser gasto
pelo governo está dentro do
previsto pelo mercado, segundo Farnese.
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