São Paulo, terça-feira, 18 de agosto de 2009 |
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Quadrilha clona contêineres em Santos
Golpe no maior terminal portuário da América Latina, considerado "lenda urbana" pela polícia, é comprovado pela 1ª vez
SERGIO TORRES ENVIADO ESPECIAL A SANTOS (SP) Um esquema criminoso de substituição de contêineres com mercadorias por contêineres falsos foi descoberto há três meses no porto de Santos (a 85 km de São Paulo), o maior do Brasil e da América Latina. A cargo da Depom (Delegacia Especial de Polícia Marítima) da PF (Polícia Federal) em Santos, a investigação é reservada. Nada foi divulgado publicamente sobre o caso, que corre sob segredo de Justiça. A estratégia da quadrilha é considerada engenhosa pelos investigadores. Consiste na troca do contêiner repleto de produtos por outro idêntico -mesmos tamanho, cor, numeração e até peso. Só que cheio de material sem valor. As investigações começaram em maio, quando representantes do Terminal de Contêineres Santos Brasil, instalado no Guarujá (cidade vizinha a Santos), procuraram a Depom e a Receita Federal para relatar a suspeita de que haveria no pátio pelo menos um contêiner com indícios de numeração adulterada. Os policiais federais e os especialistas da Alfândega constataram no local a existência de três contêineres -chamados de "gigantes", os maiores existentes, com área total de 95 metros quadrados- próximos a outros três com características idênticas. Os contêineres foram abertos. Em três deles, havia aparelhos de PlayStation (videogame) que abasteceriam o mercado brasileiro. Eles estavam em área supervisionada pela Receita, que os apreendera por considerar a carga suspeita de contrabando. Nos outros três, foram encontrados pedras, areia, material variado, mas sem valor algum. O peso do conteúdo dos seis contêineres era similar: oito toneladas cada um. Os contêineres com entrada formal no Santos Brasil chegaram em datas próximas, trazidos do México, dos EUA e da Colômbia. Dos falsos, pouco se sabe até agora. Para a polícia, a quadrilha conseguiu entrar no terminal com os três contêineres falsos utilizando-se de documentação fraudulenta, com o objetivo de trocá-los pelos que haviam sido apreendidos. Dentro do terminal, integrantes do bando teriam adulterado as numerações dos falsos contêineres, tornando-as iguais às daqueles trazidos do exterior. O terminal não recebe contêineres com a mesma numeração. Os criminosos planejavam retirar os contêineres com videogames, deixando os com entulho no lugar. O esquema indica para os policiais que a quadrilha teve acesso a informações internas sobre peso, carga e características externas dos contêineres, de modo a montar com perfeição as estruturas que os substituiriam (veja quadro ao lado). Vinculado ao Grupo Opportunity, do empresário e banqueiro Daniel Dantas, o Terminal de Contêineres Santos Brasil -o maior da América Latina, com área total de 596 mil metros quadrados e movimentação mensal de 12 mil contêineres- confirmou à Folha que avisou a Receita e a PF sobre as suspeitas. De acordo com a empresa, a descoberta da tentativa de fraude foi visual. Seguranças encarregados da vigilância do pátio estranharam a numeração de um dos contêineres falsos e alertaram o comando da empresa sobre a possibilidade de uma falsificação. O terminal informou que monitora toda a área de contêineres com 150 câmeras, cujas gravações são armazenadas por seis meses. Para entrar no terminal, ainda segundo a empresa responsável, além da apresentação de documento oficial, a pessoa é fotografada e submetida a exame de coleta de impressões digitais. Esse material está à disposição da PF, que aguarda a chegada do laudo pericial para iniciar os interrogatórios. Pelo menos 15 pessoas deverão ser ouvidas pelo delegado Fábio Amorim, presidente do inquérito. Texto Anterior: Sem recursos, produtor vai pagar a conta Próximo Texto: Frase Índice |
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