São Paulo, terça-feira, 18 de agosto de 2009

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Quadrilha clona contêineres em Santos

Golpe no maior terminal portuário da América Latina, considerado "lenda urbana" pela polícia, é comprovado pela 1ª vez

Carga de 24 toneladas de videogames importados seria substituída por contêineres clonados, contendo só areia e pedras


Ricardo Nogueira - 6.ago.09/Folha Imagem
Terminal de Contêineres Santos Brasil no Guarujá, vizinho a Santos (SP); iniciada em maio, investigação sobre clonagem é conduzida sob segredo de Justiça

SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A SANTOS (SP)

Um esquema criminoso de substituição de contêineres com mercadorias por contêineres falsos foi descoberto há três meses no porto de Santos (a 85 km de São Paulo), o maior do Brasil e da América Latina.
A cargo da Depom (Delegacia Especial de Polícia Marítima) da PF (Polícia Federal) em Santos, a investigação é reservada. Nada foi divulgado publicamente sobre o caso, que corre sob segredo de Justiça.
A estratégia da quadrilha é considerada engenhosa pelos investigadores. Consiste na troca do contêiner repleto de produtos por outro idêntico -mesmos tamanho, cor, numeração e até peso. Só que cheio de material sem valor.
As investigações começaram em maio, quando representantes do Terminal de Contêineres Santos Brasil, instalado no Guarujá (cidade vizinha a Santos), procuraram a Depom e a Receita Federal para relatar a suspeita de que haveria no pátio pelo menos um contêiner com indícios de numeração adulterada.
Os policiais federais e os especialistas da Alfândega constataram no local a existência de três contêineres -chamados de "gigantes", os maiores existentes, com área total de 95 metros quadrados- próximos a outros três com características idênticas.
Os contêineres foram abertos. Em três deles, havia aparelhos de PlayStation (videogame) que abasteceriam o mercado brasileiro. Eles estavam em área supervisionada pela Receita, que os apreendera por considerar a carga suspeita de contrabando.
Nos outros três, foram encontrados pedras, areia, material variado, mas sem valor algum. O peso do conteúdo dos seis contêineres era similar: oito toneladas cada um.
Os contêineres com entrada formal no Santos Brasil chegaram em datas próximas, trazidos do México, dos EUA e da Colômbia. Dos falsos, pouco se sabe até agora.
Para a polícia, a quadrilha conseguiu entrar no terminal com os três contêineres falsos utilizando-se de documentação fraudulenta, com o objetivo de trocá-los pelos que haviam sido apreendidos.
Dentro do terminal, integrantes do bando teriam adulterado as numerações dos falsos contêineres, tornando-as iguais às daqueles trazidos do exterior. O terminal não recebe contêineres com a mesma numeração. Os criminosos planejavam retirar os contêineres com videogames, deixando os com entulho no lugar.
O esquema indica para os policiais que a quadrilha teve acesso a informações internas sobre peso, carga e características externas dos contêineres, de modo a montar com perfeição as estruturas que os substituiriam (veja quadro ao lado).
Vinculado ao Grupo Opportunity, do empresário e banqueiro Daniel Dantas, o Terminal de Contêineres Santos Brasil -o maior da América Latina, com área total de 596 mil metros quadrados e movimentação mensal de 12 mil contêineres- confirmou à Folha que avisou a Receita e a PF sobre as suspeitas.
De acordo com a empresa, a descoberta da tentativa de fraude foi visual. Seguranças encarregados da vigilância do pátio estranharam a numeração de um dos contêineres falsos e alertaram o comando da empresa sobre a possibilidade de uma falsificação.
O terminal informou que monitora toda a área de contêineres com 150 câmeras, cujas gravações são armazenadas por seis meses. Para entrar no terminal, ainda segundo a empresa responsável, além da apresentação de documento oficial, a pessoa é fotografada e submetida a exame de coleta de impressões digitais.
Esse material está à disposição da PF, que aguarda a chegada do laudo pericial para iniciar os interrogatórios. Pelo menos 15 pessoas deverão ser ouvidas pelo delegado Fábio Amorim, presidente do inquérito.


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