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INTEGRAÇÃO
Para subsecretário americano, países em desenvolvimento usaram "tática de guerrilha" na reunião da OMC
Fracasso em Cancún atrasa Alca, dizem EUA
SÉRGIO MALBERGIER
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
O fracasso das negociações multilaterais em Cancún atrasou o calendário de implantação da Alca
(Área de Livre Comércio das
Américas) e empurrou o país a
buscar a integração comercial no
hemisfério por meio de acordos
bilaterais. A avaliação é de Roger
Noriega, o subsecretário de Estado americano para o Hemisfério
Ocidental.
"Será muito difícil termos um
acordo para a Alca após o fracasso
em Cancún", afirmou, em Washington. "Teremos de avançar
pelo caminho bilateral. Nós já temos o Nafta [acordo de livre comércio com México e Canadá],
podemos ter um acordo com o
Cafta [mesmo pacto para a América Central] até o final do ano e
estamos num diálogo bastante sério com Panamá, República Dominicana, Peru e Colômbia."
Adotando um tom bastante crítico em relação à atuação do Brasil na reunião da OMC (Organização Mundial do Comércio) em
Cancún, o principal diplomata
americano responsável pelas
Américas disse que o fracasso no
México deve impossibilitar a implantação da Alca no prazo estabelecido de 2005. "Estamos agora
buscando parceiros dispostos [a
obter um acordo de livre comércio]. Após o fracasso em Cancún,
eu diria que há inúmeras opções
para virtualmente todos os países
das Américas", disse.
Questionado sobre a disputa
pela liderança das negociações na
Alca com o governo brasileiro,
cujo processo de implantação é
co-presidido por Brasil e EUA,
Noriega disse: "Para ser um líder,
é necessário ter seguidores. Francamente, os países da região terão
de tomar sua decisão sobre o que
é melhor para eles".
Noriega mostrou confiança na
liderança americana na região,
apesar da intensificação dos esforços brasileiros para atrair seus
vizinhos sul-americanos. "Os
EUA não precisam tentar obter
acordos bilaterais. Alguns líderes
estão dizendo que assinarão um
acordo conosco antes e depois lerão seu conteúdo." A visão foi
corroborada por membros do comitê para assuntos hemisféricos
da Câmara americana. Segundo
eles, muitos países estão dispostos
a tudo para obter acordos bilaterais com os EUA, que precisam da
aprovação do Congresso.
Noriega acha, porém, que a Alca
será criada "mais cedo do que se
imagina". "Podemos não alcançar o prazo, mas atingiremos o
objetivo. Não imporemos acordos a ninguém que não esteja disposto a negociar de boa-fé."
Ele lembrou que o Brasil e o
Mercosul estão também buscando acordos bilaterais para fortalecer suas posições nas negociações
da Alca. De fato, o principal objetivo manifesto da visita do presidente Lula à Colômbia ontem era
trazer o país andino ao bloco.
Noriega não escondeu a irritação dos EUA com a posição de
países como Brasil e Índia em
Cancún, chamando as atitudes do
bloco de "táticas de guerrilha".
"Nós captamos a mensagem",
disse ele, criticando a "exagerada
encenação política" no debate sobre comércio global no México,
encerrado sem acordo no domingo. "Quando esses países mostraram disposição para negociar, já
não havia mais tempo."
O subsecretário afirmou que as
relações com o Brasil estão "tão
boas quanto possível, com uma
pauta rica e intensa". "Deveríamos enfatizar nossas afinidades,
não nossas diferenças", afirmou.
Outro tema que parece ter contaminado as relações Brasil-EUA
foi a oposição brasileira à Guerra
do Iraque. "Os EUA têm um papel
muito especial no mundo. Não
esperamos que todos os países
entendam isso. Mas creio que certa dose de empatia seria útil."
Questionado se o Brasil manifestou essa empatia, respondeu:
"Devo dizer que o debate iraquiano mostrou um alarmante nível
de um tipo de opinião monolítica,
uma ausência de um debate sério
sobre o que estamos fazendo".
O jornalista Sérgio Malbergier viajou
a Washington a convite do governo
americano
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