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São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 2003

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INTEGRAÇÃO

Para subsecretário americano, países em desenvolvimento usaram "tática de guerrilha" na reunião da OMC

Fracasso em Cancún atrasa Alca, dizem EUA

SÉRGIO MALBERGIER
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

O fracasso das negociações multilaterais em Cancún atrasou o calendário de implantação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e empurrou o país a buscar a integração comercial no hemisfério por meio de acordos bilaterais. A avaliação é de Roger Noriega, o subsecretário de Estado americano para o Hemisfério Ocidental.
"Será muito difícil termos um acordo para a Alca após o fracasso em Cancún", afirmou, em Washington. "Teremos de avançar pelo caminho bilateral. Nós já temos o Nafta [acordo de livre comércio com México e Canadá], podemos ter um acordo com o Cafta [mesmo pacto para a América Central] até o final do ano e estamos num diálogo bastante sério com Panamá, República Dominicana, Peru e Colômbia."
Adotando um tom bastante crítico em relação à atuação do Brasil na reunião da OMC (Organização Mundial do Comércio) em Cancún, o principal diplomata americano responsável pelas Américas disse que o fracasso no México deve impossibilitar a implantação da Alca no prazo estabelecido de 2005. "Estamos agora buscando parceiros dispostos [a obter um acordo de livre comércio]. Após o fracasso em Cancún, eu diria que há inúmeras opções para virtualmente todos os países das Américas", disse.
Questionado sobre a disputa pela liderança das negociações na Alca com o governo brasileiro, cujo processo de implantação é co-presidido por Brasil e EUA, Noriega disse: "Para ser um líder, é necessário ter seguidores. Francamente, os países da região terão de tomar sua decisão sobre o que é melhor para eles".
Noriega mostrou confiança na liderança americana na região, apesar da intensificação dos esforços brasileiros para atrair seus vizinhos sul-americanos. "Os EUA não precisam tentar obter acordos bilaterais. Alguns líderes estão dizendo que assinarão um acordo conosco antes e depois lerão seu conteúdo." A visão foi corroborada por membros do comitê para assuntos hemisféricos da Câmara americana. Segundo eles, muitos países estão dispostos a tudo para obter acordos bilaterais com os EUA, que precisam da aprovação do Congresso.
Noriega acha, porém, que a Alca será criada "mais cedo do que se imagina". "Podemos não alcançar o prazo, mas atingiremos o objetivo. Não imporemos acordos a ninguém que não esteja disposto a negociar de boa-fé."
Ele lembrou que o Brasil e o Mercosul estão também buscando acordos bilaterais para fortalecer suas posições nas negociações da Alca. De fato, o principal objetivo manifesto da visita do presidente Lula à Colômbia ontem era trazer o país andino ao bloco.
Noriega não escondeu a irritação dos EUA com a posição de países como Brasil e Índia em Cancún, chamando as atitudes do bloco de "táticas de guerrilha". "Nós captamos a mensagem", disse ele, criticando a "exagerada encenação política" no debate sobre comércio global no México, encerrado sem acordo no domingo. "Quando esses países mostraram disposição para negociar, já não havia mais tempo."
O subsecretário afirmou que as relações com o Brasil estão "tão boas quanto possível, com uma pauta rica e intensa". "Deveríamos enfatizar nossas afinidades, não nossas diferenças", afirmou.
Outro tema que parece ter contaminado as relações Brasil-EUA foi a oposição brasileira à Guerra do Iraque. "Os EUA têm um papel muito especial no mundo. Não esperamos que todos os países entendam isso. Mas creio que certa dose de empatia seria útil."
Questionado se o Brasil manifestou essa empatia, respondeu: "Devo dizer que o debate iraquiano mostrou um alarmante nível de um tipo de opinião monolítica, uma ausência de um debate sério sobre o que estamos fazendo".


O jornalista Sérgio Malbergier viajou a Washington a convite do governo americano

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