São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 2008

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Mercado Aberto

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br

Brasil deve evitar excessos, diz Goldfajn

Nos últimos dias, o presidente Lula e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, deram declarações minimizando os efeitos da crise sobre a economia brasileira. Lula chegou a dizer que seriam imperceptíveis as conseqüências da crise sobre o Brasil, e Mantega sugeriu que as pessoas não deixassem de tomar empréstimos para adquirir imóveis ou automóveis.
O Brasil está hoje certamente em melhores condições do que nas outras crises do passado, mas irá sentir tanto ou mais do que os outros países. O melhor que o país tem que fazer agora é começar a se preparar para a crise.
O economista Ilan Goldfajn, ex-diretor do Banco Central e sócio da Ciano Investimentos, considera preocupantes declarações como essas tentando negar os efeitos da crise, quando é evidente que o Brasil também sofrerá algum impacto do tsunami financeiro.
"A crise é relevante no mundo e o país tem que se preparar", diz Goldfajn.
No momento em que o mundo enfrenta uma paralisia no crédito, a pior medida que o governo poderia tomar é abrir a torneira dos cofres públicos para manter o consumo aquecido. Mantega também tinha declarado que os bancos públicos poderiam suprir uma eventual carência de crédito no mercado.
Para Goldfajn, decisões como essas têm o mesmo efeito de querer acelerar o carro quando se tem uma parede na frente. A batida será inevitável.
O economista lembra o final dos anos 1970, durante a segunda crise do petróleo, quando o governo tomou a mesma atitude e se negou a admitir que o Brasil seria atingido pela crise. O país continuou com o pé no acelerador.
A decisão do governo de negar a crise acabou sendo a origem da recessão dos anos 1980, a década perdida. O país conviveu nesses anos com a chamada estagflação, a combinação perversa de inflação alta e crescimento baixo.
Para Goldfajn, tudo que o governo deve fazer agora é evitar excessos: excesso de gastos, excesso de endividamento, excesso de consumo e excesso de otimismo.

PEÇA DE MUSEU
Mais uma para a lista de artigos de coleção do Lehman Brothers. Do último relatório do futuro desempregado Mingchun Sun: "Como prometi ontem, envio em duas versões, inglês e chinês, os slides que eu deveria apresentar no seminário sobre preços de imóveis em Pequim amanhã. Mas a viagem foi cancelada. Aproveite a leitura! Eu não estarei aqui para responder suas dúvidas, caso tenha alguma..."

US$ 6 BI A MENOS
Maurice Greenberg, conhecido como Hank, um dos homens que ajudaram a tornar a AIG a maior seguradora mundial, acaba de ver suas ações na empresa caírem cerca de US$ 6 bilhões. O valor despencou de US$ 6,53 bilhões no fim de agosto para US$ 622,9 milhões ontem, segundo a Bloomberg. Não é a primeira vez que a história da AIG na vida de Hank tem um momento delicado. O executivo foi presidente da AIG entre o fim dos anos 1960 e 2005, quando foi afastado sob acusações de fraudes.

BC dos EUA dá lição sobre crise, diz Tendências

O Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) dá uma aula sobre a importância da independência do BC e sobre como se comportar em meio a uma crise de grandes proporções, afirma Márcio Nakane, da consultoria Tendências.
Para o economista, a decisão de não salvar o banco Lehman Brothers e a de ajudar a AIG pode ser entendida pela ameaça de risco sistêmico que a queda da seguradora provocaria e que não estava presente, de acordo com Nakane, no caso do banco de investimento.
Nakane também elogia a decisão de manter a taxa de juros nos EUA. "Mesmo diante de clamor generalizado de corte na taxa, o Fomc (o comitê do BC americano que define os juros) decidiu pela sua manutenção por entender que, de um lado, outro corte não traria nenhum alívio à crise financeira e, de outro, que o julgamento sobre a evolução do ambiente macroeconômico é que deveria pautar sua decisão."

BILL GATES PASSA BUFFET
Com a crise nos mercados financeiros, o megainvestidor Warren Buffett perdeu US$ 12 bilhões desde o fim de fevereiro e deixou de ser o homem mais rico dos EUA, segundo a revista "Forbes". A liderança voltou a ser de Bill Gates, da Microsoft, que perdeu US$ 1 bilhões no período e agora conta com uma fortuna de US$ 57 bilhões -US$ 7 bilhões a mais que Buffett. O declínio na fortuna de Buffett foi atribuída à queda das suas ações da sua empresa, a Berkshire Hathaway. Na lista mundial divulgada em março, o mexicano Carlos Slim era o segundo colocado, com US$ 60 bilhões. A "Forbes" não disse se houve alteração na fortuna do empresário dono da Claro, entre outras.

Instabilidade e juro alto assustam empresários da construção civil

Com a crise de liquidez no mercado e a alta dos juros e da inflação, os empresários da construção civil começam a ter expectativas mais moderadas sobre a economia. É o que mostra a 36ª Sondagem Nacional da Indústria da Construção Civil, feita em agosto pelo SindusCon-SP e pela FGV Projetos.
A pesquisa foi elaborada com 280 empresários em todo o país. As respostas variam em uma escala de 0 a 100: valores acima de 50 significam otimismo e abaixo de 50, pessimismo.
De acordo com o levantamento, o nível de otimismo caiu em relação à sondagem anterior, feita em maio, mas os empresários continuam com perspectivas favoráveis. O nível de otimismo em relação ao desempenho das empresas passou de 60,5 na sondagem anterior para 59,9 em agosto.
Sérgio Watanabe, presidente do SindusCon-SP, diz que o aumento dos preços e os juros assustaram os empresários. "A maior preocupação hoje é com o aumento de preços do setor."
A crise no mercado financeiro também afetou o ânimo das companhias. "Algumas empresas tinham expectativa de que o mercado acionário fosse uma opção para captar recursos."

com JOANA CUNHA e VERENA FORNETTI


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