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Mercado Aberto
GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br
Brasil deve evitar excessos, diz Goldfajn
Nos últimos dias, o presidente Lula e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, deram declarações minimizando os efeitos da crise sobre a economia
brasileira. Lula chegou a dizer
que seriam imperceptíveis as
conseqüências da crise sobre o
Brasil, e Mantega sugeriu que
as pessoas não deixassem de tomar empréstimos para adquirir
imóveis ou automóveis.
O Brasil está hoje certamente
em melhores condições do que
nas outras crises do passado,
mas irá sentir tanto ou mais do
que os outros países. O melhor
que o país tem que fazer agora é
começar a se preparar para a
crise.
O economista Ilan Goldfajn,
ex-diretor do Banco Central e
sócio da Ciano Investimentos,
considera preocupantes declarações como essas tentando negar os efeitos da crise, quando é
evidente que o Brasil também
sofrerá algum impacto do tsunami financeiro.
"A crise é relevante no mundo e o país tem que se preparar", diz Goldfajn.
No momento em que o mundo enfrenta uma paralisia no
crédito, a pior medida que o governo poderia tomar é abrir a
torneira dos cofres públicos para manter o consumo aquecido.
Mantega também tinha declarado que os bancos públicos poderiam suprir uma eventual carência de crédito no mercado.
Para Goldfajn, decisões como
essas têm o mesmo efeito de
querer acelerar o carro quando
se tem uma parede na frente. A
batida será inevitável.
O economista lembra o final
dos anos 1970, durante a segunda crise do petróleo, quando o
governo tomou a mesma atitude e se negou a admitir que o
Brasil seria atingido pela crise.
O país continuou com o pé no
acelerador.
A decisão do governo de negar a crise acabou sendo a origem da recessão dos anos 1980,
a década perdida. O país conviveu nesses anos com a chamada
estagflação, a combinação perversa de inflação alta e crescimento baixo.
Para Goldfajn, tudo que o governo deve fazer agora é evitar
excessos: excesso de gastos, excesso de endividamento, excesso de consumo e excesso de otimismo.
PEÇA DE MUSEU
Mais uma para a lista de artigos de coleção do Lehman
Brothers. Do último relatório do futuro desempregado
Mingchun Sun: "Como prometi ontem, envio em duas
versões, inglês e chinês, os slides que eu deveria apresentar no seminário sobre preços de imóveis em Pequim
amanhã. Mas a viagem foi cancelada. Aproveite a leitura!
Eu não estarei aqui para responder suas dúvidas, caso tenha alguma..."
US$ 6 BI A MENOS
Maurice Greenberg, conhecido como Hank, um dos
homens que ajudaram a tornar a AIG a maior seguradora mundial, acaba de ver suas ações na empresa caírem cerca de US$ 6 bilhões. O valor despencou de US$
6,53 bilhões no fim de agosto para US$ 622,9 milhões
ontem, segundo a Bloomberg. Não é a primeira vez
que a história da AIG na vida de Hank tem um momento delicado. O executivo foi presidente da AIG entre o fim dos anos 1960 e 2005, quando foi afastado
sob acusações de fraudes.
BC dos EUA dá lição sobre crise, diz Tendências
O Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) dá uma aula sobre a importância da independência
do BC e sobre como se comportar em meio a uma crise
de grandes proporções, afirma Márcio Nakane, da consultoria Tendências.
Para o economista, a decisão de não salvar o banco
Lehman Brothers e a de ajudar a AIG pode ser entendida
pela ameaça de risco sistêmico que a queda da seguradora
provocaria e que não estava
presente, de acordo com Nakane, no caso do banco de investimento.
Nakane também elogia a
decisão de manter a taxa de
juros nos EUA. "Mesmo
diante de clamor generalizado de corte na taxa, o Fomc
(o comitê do BC americano
que define os juros) decidiu
pela sua manutenção por entender que, de um lado, outro corte não traria nenhum
alívio à crise financeira e, de
outro, que o julgamento sobre a evolução do ambiente
macroeconômico é que deveria pautar sua decisão."
BILL GATES PASSA BUFFET
Com a crise nos mercados financeiros, o megainvestidor Warren Buffett perdeu US$ 12 bilhões desde o fim de
fevereiro e deixou de ser o homem mais rico dos EUA, segundo a revista "Forbes". A liderança voltou a ser de Bill
Gates, da Microsoft, que perdeu US$ 1 bilhões no período
e agora conta com uma fortuna de US$ 57 bilhões -US$ 7
bilhões a mais que Buffett. O declínio na fortuna de Buffett foi atribuída à queda das suas ações da sua empresa, a
Berkshire Hathaway. Na lista mundial divulgada em março, o mexicano Carlos Slim era o segundo colocado, com
US$ 60 bilhões. A "Forbes" não disse se houve alteração
na fortuna do empresário dono da Claro, entre outras.
Instabilidade e juro alto assustam empresários da construção civil
Com a crise de liquidez no
mercado e a alta dos juros e da
inflação, os empresários da
construção civil começam a ter
expectativas mais moderadas
sobre a economia. É o que mostra a 36ª Sondagem Nacional
da Indústria da Construção Civil, feita em agosto pelo SindusCon-SP e pela FGV Projetos.
A pesquisa foi elaborada com
280 empresários em todo o
país. As respostas variam em
uma escala de 0 a 100: valores
acima de 50 significam otimismo e abaixo de 50, pessimismo.
De acordo com o levantamento, o nível de otimismo
caiu em relação à sondagem anterior, feita em maio, mas os
empresários continuam com
perspectivas favoráveis. O nível
de otimismo em relação ao desempenho das empresas passou de 60,5 na sondagem anterior para 59,9 em agosto.
Sérgio Watanabe, presidente
do SindusCon-SP, diz que o aumento dos preços e os juros assustaram os empresários. "A
maior preocupação hoje é com
o aumento de preços do setor."
A crise no mercado financeiro também afetou o ânimo das
companhias. "Algumas empresas tinham expectativa de que o
mercado acionário fosse uma
opção para captar recursos."
com JOANA CUNHA e VERENA FORNETTI
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