São Paulo, segunda-feira, 18 de outubro de 2004

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Carteira de fundos beira US$ 900 bi

John Gress - 11.out.04/Reuters
Operadores em Bolsa nos EUA, principal mercado do mundo


DE LONDRES

Apesar dos resultados ruins contabilizados neste ano, o mercado de "hedge funds" não pára de crescer. O patrimônio do setor mais do que dobrou desde a severa crise de 1998 e, agora, se aproxima de US$ 900 bilhões. Na busca de continuar expandindo, gestores têm buscado atrair pequenos investidores e lançar novos produtos, como fundos especializados em América Latina.
Analistas do mercado britânico estimam que tenham surgido cerca de 80 fundos dedicados, exclusivamente, à América Latina nos últimos dois anos.
O patrimônio desses fundos, muitos com sede no Brasil, varia. Há cerca de uma dezena com patrimônio de US$ 200 milhões, alguns com capital de US$ 400 milhões e, pelo menos, dois deles têm mais US$ 800 milhões para operar no mercado.
Esse volume tem crescido, dizem especialistas, contribuindo, em parte, para a valorização de ativos, como títulos das dívidas externas. Esse é o lado positivo da atuação dos "hedge funds" para os países emergentes.
O porém é que, assim como contribuem para a bonança nos momentos de estabilidade e crescimento, os "hedge funds" -devido ao grande nível de alavancagem- também ajudam, e muito, a acentuar a queda em momentos de crise.
"Sem dúvida, se a economia global tiver uma reversão e o Brasil não estiver mais preparado do que está agora, o país deve sofrer muito. Assim como ganham agora, os "hedge funds" também vão querer ganhar na saída", diz Wilber Colmerauer, sócio da corretora Liability Solutions.
Mas isso não quer dizer, segundo Colmerauer, que os "hedge funds" são vilões.
"Isso é errado. Os "hedge funds" ajudam muito os mercados em momentos em que falta liquidez ou, às vezes, quando é necessária a correção do preço de um ativo. Mas, por exemplo, quando há um desequilíbrio, também podem acentuá-lo. Isso não transforma esses fundos em vilões porque o desequilíbrio já estava lá", diz ele.
Outra estratégia dos "hedge funds" em mercados mais desenvolvidos tem sido uma tentativa de popularização. Em Londres, os gestores dessa modalidade de fundos saíram à caça de clientes de varejo.
Dois grupos -Woolwich (ligado ao banco Barclays) e Close Man - lançaram nos últimos meses produtos nos quais o investidor pode aplicar recursos mínimos de 3 mil libras e 10 mil libras, respectivamente.
A mudança é um marco para um setor que, em geral, não aceita menos do que cifras que variam entre US$ 200 mil e US$ 1 milhão como investimento inicial.
"Isso tem um lado positivo porque permite que investidores menores tenham oportunidade de diversificar suas aplicações. Mas há riscos de problemas no setor. O ideal é optar por um fundo que invista em vários "hedge funds'", diz o consultor Justin Modray, da Bestinvest.
Simon Farrant, da consultoria Towry Law, ressalta que outro problema é que os "hedge funds" são pouco transparentes, até porque o segredo das estratégias que usam é a essência de seu negócio.
Questionado se essa tendência de ida para o varejo deve continuar, Farrant responde com ironia: "Vai depender de quantos escândalos ocorrerem no meio do caminho". (EF)


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