|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VINICIUS TORRES FREIRE
Enquanto isso, no mundo real
País assiste ao debate burro de Lula contra Alckmin, que ignora ruína das bases para o crescimento de 2007, 2008...
É MAIS FÁCIL um camelo, o risco-país do dia e os nossos tantos índices de inflação passarem pelo buraco da agulha dos noticiários de TV que a gente saber
quantos fiandeiros perderam o emprego. Chamemos assim, de fiandeiros, de modo arcaico e simpático,
pessoas que trabalham na indústria
têxtil. Pelo andar da carruagem que
traz importações chinesas, o fiandeiro nacional tende a ser mesmo
arcaica figura de museu. Terá a companhia de sapateiros, carpinteiros,
metalúrgicos, químicos e o povo da
pequena manufatura em geral.
Os dados da indústria em setembro devem voltar ao vermelho. As
informações mais recentes das fábricas no terceiro trimestre confirmam tendências aflitivas observadas no meio do ano por economistas
que se ocupam do mundo real.
Antonio Barros de Castro e Fernando Pires de Souza, do BNDES,
notaram que a indústria, até junho,
apresentava um comportamento
aberrante: a quantidade de setores
que encolhia era típica de anos de
recessão. A hipótese, longe de conclusiva mas já preocupante, era que
teria começado uma especialização
precoce da indústria brasileira: risco
de desindustrialização. No terceiro
trimestre, a tendência aberrante
continuou. Desindustrialização e
especialização são coisas que se confirmam apenas depois de anos de
observação. Mas, quando e se confirmada, a vaca já atolou no brejo.
As suspeitas do impacto do câmbio na indústria são agora quase provas, com muitas digitais e DNAs. Um
dado pouco pop, a rentabilidade do
comércio exterior, indica grande
coincidência entre setores à míngua
e aqueles em que é forte a queda da
rentabilidade das exportações. Os
setores que mais crescem, máquinas
de escritório, de informática e elétricas, têm muito componente importado. Ou vendem produtos básicos
para alimentar a indústria asiática.
O economista padrão diz que importações vitimam os ineficientes
(nem sempre) e melhoram produtos nacionais (por meio de componentes baratos e de qualidade e máquinas mais eficazes). O problema
do argumento é: qual o limite da destruição de setores tidos como ineficientes? E se não se tratar de "destruição criadora" (isto é, os capitais
seriam dirigidos para a produção de
bens em que o país seria eficiente)?
No curto e no médio prazos, em
que todos vivemos, queimam-se
empregos. Trata-se de outro fator a
restringir a expansão econômica
nos próximos anos.
A expansão da renda por meios
fiscais (Bolsas sociais, Previdência,
aumentos de salário mínimo) chegou ao limite. De resto, para fazer
uma redução caricata do argumento
dos economista José Roberto Mendonça de Barros e Lídia Goldenstein, parte das "Bolsas" virou consumo de importados baratos. A velocidade de aumento do crédito, que
ainda vai bem, depende do aumento
do total de salários, que não tem cara
de superar, no ano que vem, a de
2006. O comércio exterior parou de
sustentar a produção industrial. O
investimento público não crescerá,
pois o Estado chegou ao limite do
gasto. O externo não terá apetite por
uma economia que não cresce.
Enquanto isso, olhamos só para o
risco-país, para nossas dúzias de índices de inflação e para a estupidez
do confronto de Lula e Alckmin.
vinit@uol.com.br
Texto Anterior: Governo deixará a MP do Refis perder validade Próximo Texto: Fisco erra e deixa 105 mil sem restituição Índice
|