São Paulo, quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Redes pressionam por padrão dos EUA para o rádio digital

Na TV digital, emissoras e o ministro das Comunicações preferiam o modelo japonês, que acabou escolhido pelo governo

Redes afirmam que só o padrão americano permite transmissão simultânea digital e analógica na mesma freqüência


HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Donos de emissoras de rádio e televisão informaram ontem ao ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB-MG), que preferem que o governo adote o padrão norte-americano para as transmissões de rádio digital. Hoje, há 15 emissoras fazendo teste com o padrão norte-americano e duas com o europeu. Há cerca de 4.000 emissoras comerciais no país.
O governo ainda não tomou uma decisão, mas, quando precisou decidir sobre o padrão tecnológico para a TV digital, acatou a posição dos radiodifusores, que naquele caso defendiam o padrão japonês. O próprio ministro das Comunicações tem ligações fortes com o setor de radiodifusão, porque era sócio de uma rádio FM em Barbacena (MG). Ele teve de se afastar da emissora, em abril, seguindo orientação da Comissão de Ética Pública, órgão ligado à Presidência da República.
De acordo com a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), o padrão norte-americano é o único que permite que haja transmissão simultânea em padrão digital e analógico na mesma freqüência. Diferentemente do que ocorrerá com o sistema de TV digital, que prevê o fim das transmissões analógicas em 2016, no modelo defendido pelas emissoras de rádio não haverá prazo para o fim desse tipo de transmissão. As emissoras querem também que o padrão opere em AM e FM.
Os donos de emissoras informaram ao governo que desejam manter as mesmas faixas de freqüência que já têm hoje, a mesma estrutura de concessões e o mesmo modelo de negócios. "Não viemos defender um padrão específico, mas características que nós julgamos essenciais para a manutenção da radiodifusão livre, aberta e gratuita", disse Daniel Pimentel Slaviero, presidente da Abert. A posição dos donos de rádio foi entregue ao ministro em forma de manifesto.

Posição importante
O ministro Hélio Costa disse que, após as eleições, será constituído comitê de ministros que irá debater qual padrão deverá ser adotado para o rádio digital. O processo será semelhante ao que foi adotado para a TV digital. O comitê irá propor uma alternativa ao presidente da República, que tomará a decisão.
Segundo Costa, o posicionamento da Abert é importante. "A minha posição é que a gente deve discutir a questão, mas o peso das empresas de radiodifusão é muito grande."
Questionado em entrevista coletiva sobre se não seria falso afirmar que a Abert não está pedindo um padrão, uma vez que todas as características apontariam para o padrão norte-americano, Slaviero respondeu: "Atualmente, o único padrão que atende a todos esses pré-requisitos é o norte-americano, então realmente desemboca no norte-americano."
De acordo com a Abert, serão necessários investimentos de US$ 100 milhões, até 2008, para que as rádios possam fazer transmissão digital. Ainda de acordo com a associação, a definição do padrão digital para rádio proporcionará desenvolvimento industrial, porque o mercado no Brasil é de aproximadamente 200 milhões de receptores. Um receptor (aparelho de rádio) digital deverá custar entre US$ 80 e US$ 100, segundo a associação.

Críticas
De acordo com o FNDC (Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação), não houve debate para definir os rumos da rádio digital no Brasil. "A implantação da rádio digital está sendo feita da pior maneira possível, na base do fato consumado", diz Celso Schröder, coordenador-geral do FNDC. "A escolha do padrão norte-americano atende aos interesses de uma fatia do mercado, porque não permite a entrada de novos "players" [concorrentes, novas rádios]."
Ainda segundo Schröder, a escolha do padrão norte-americano para o rádio poderá inviabilizar a convergência com a TV digital. Ele afirma que o custo para a implantação do padrão americano é alto e pode prejudicar algumas emissoras.
Para Schröder, tanto no caso da TV digital como no da rádio, a discussão não está sendo feita sobre o assunto principal. "A discussão deveria ser sobre o modelo de serviço que deveria ser oferecido para a sociedade com as novas tecnologias."


Texto Anterior: Acordo cria a maior Bolsa de futuros do mundo
Próximo Texto: Gravadoras vão processar 20 brasileiros
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.