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Redes pressionam por padrão dos EUA para o rádio digital
Na TV digital, emissoras e o ministro das Comunicações preferiam o modelo japonês, que acabou escolhido pelo governo
Redes afirmam que só o padrão americano permite transmissão simultânea
digital e analógica na mesma freqüência
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Donos de emissoras de rádio
e televisão informaram ontem
ao ministro das Comunicações,
Hélio Costa (PMDB-MG), que
preferem que o governo adote o
padrão norte-americano para
as transmissões de rádio digital. Hoje, há 15 emissoras fazendo teste com o padrão norte-americano e duas com o europeu. Há cerca de 4.000 emissoras comerciais no país.
O governo ainda não tomou
uma decisão, mas, quando precisou decidir sobre o padrão
tecnológico para a TV digital,
acatou a posição dos radiodifusores, que naquele caso defendiam o padrão japonês. O próprio ministro das Comunicações tem ligações fortes com o
setor de radiodifusão, porque
era sócio de uma rádio FM em
Barbacena (MG). Ele teve de se
afastar da emissora, em abril,
seguindo orientação da Comissão de Ética Pública, órgão ligado à Presidência da República.
De acordo com a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), o padrão norte-americano é o único
que permite que haja transmissão simultânea em padrão digital e analógico na mesma freqüência. Diferentemente do
que ocorrerá com o sistema de
TV digital, que prevê o fim das
transmissões analógicas em
2016, no modelo defendido pelas emissoras de rádio não haverá prazo para o fim desse tipo
de transmissão. As emissoras
querem também que o padrão
opere em AM e FM.
Os donos de emissoras informaram ao governo que desejam manter as mesmas faixas
de freqüência que já têm hoje, a
mesma estrutura de concessões e o mesmo modelo de negócios. "Não viemos defender
um padrão específico, mas características que nós julgamos
essenciais para a manutenção
da radiodifusão livre, aberta e
gratuita", disse Daniel Pimentel Slaviero, presidente da
Abert. A posição dos donos de
rádio foi entregue ao ministro
em forma de manifesto.
Posição importante
O ministro Hélio Costa disse
que, após as eleições, será constituído comitê de ministros que
irá debater qual padrão deverá
ser adotado para o rádio digital.
O processo será semelhante ao
que foi adotado para a TV digital. O comitê irá propor uma alternativa ao presidente da República, que tomará a decisão.
Segundo Costa, o posicionamento da Abert é importante.
"A minha posição é que a gente
deve discutir a questão, mas o
peso das empresas de radiodifusão é muito grande."
Questionado em entrevista
coletiva sobre se não seria falso
afirmar que a Abert não está
pedindo um padrão, uma vez
que todas as características
apontariam para o padrão norte-americano, Slaviero respondeu: "Atualmente, o único padrão que atende a todos esses
pré-requisitos é o norte-americano, então realmente desemboca no norte-americano."
De acordo com a Abert, serão
necessários investimentos de
US$ 100 milhões, até 2008, para que as rádios possam fazer
transmissão digital. Ainda de
acordo com a associação, a definição do padrão digital para rádio proporcionará desenvolvimento industrial, porque o
mercado no Brasil é de aproximadamente 200 milhões de receptores. Um receptor (aparelho de rádio) digital deverá custar entre US$ 80 e US$ 100, segundo a associação.
Críticas
De acordo com o FNDC (Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação), não
houve debate para definir os
rumos da rádio digital no Brasil. "A implantação da rádio digital está sendo feita da pior
maneira possível, na base do fato consumado", diz Celso
Schröder, coordenador-geral
do FNDC. "A escolha do padrão
norte-americano atende aos
interesses de uma fatia do mercado, porque não permite a entrada de novos "players" [concorrentes, novas rádios]."
Ainda segundo Schröder, a
escolha do padrão norte-americano para o rádio poderá inviabilizar a convergência com a
TV digital. Ele afirma que o custo para a implantação do padrão americano é alto e pode
prejudicar algumas emissoras.
Para Schröder, tanto no caso
da TV digital como no da rádio,
a discussão não está sendo feita
sobre o assunto principal. "A
discussão deveria ser sobre o
modelo de serviço que deveria
ser oferecido para a sociedade
com as novas tecnologias."
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