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Demissão turbina resultados de empresas americanas
Corte de postos de trabalho e de investimentos melhoram os lucros das companhias
Nos primeiros cinco meses do ano, as empresas norte--americanas eliminaram 45% mais empregos que as europeias, segundo a OIT
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
Um corte profundo em empregos, custos e investimentos
é o que está por trás da valorização da Bolsa de Nova York. Na
semana passada, o índice Dow
Jones ultrapassou a marca de
10 mil pontos. Desde março,
quando desceu ao menor nível
em 12 anos, a alta é de 53%.
Parte da nova safra de balanços do terceiro trimestre divulgada nos últimos dias revela receitas empresariais ainda deprimidas ou em queda. Mas lucros em ascensão, por conta de
fortes reduções de despesas, especialmente mão de obra.
Segundo especialistas, esse
padrão de comportamento das
empresas pode levar a uma recuperação muito lenta e frágil
da economia norte-americana
ao longo de muitos meses.
Operando com recordes de
ociosidade na capacidade instalada, as empresas não tendem a converter esses lucros
em novos investimentos ou em
vagas de trabalho. Entre as 32
grandes companhias nos EUA
que já divulgaram balanços do
terceiro trimestre, os lucros de
78% delas superaram as expectativas dos analistas.
A gigante do setor de alumínio Alcoa, primeira a divulgar
seus resultados, revelou lucro
de US$ 77 milhões. Mas os gastos com pesquisa e desenvolvimento foram cortados em US$
39 milhões no mesmo período.
Outro exemplo de "lucro a
qualquer preço" foi o resultado
do Citigroup, que demitiu 52
mil funcionários neste ano. O
banco teve lucro de US$ 101 milhões no trimestre passado e
receitas de US$ 20,4 bilhões.
Além dos cortes, outra grande contribuição para o resultado veio do fato de o banco ter
reservado só US$ 820 milhões
para garantir perdas com calotes em financiamentos, sendo
que, no mesmo período, perdeu
US$ 9,4 bilhões nas áreas de
cartão de crédito e imobiliária.
Segundo a OIT (Organização
Internacional do Trabalho),
nos primeiros cinco meses do
ano as empresas norte-americanas eliminaram 45% mais
empregos que as europeias e
63% mais que as asiáticas.
A diferença de padrão explicaria a recuperação mais forte
da Bolsa de Nova York em relação às europeias. "A performance [de lucros] das empresas na Europa não melhorou
como nos EUA porque elas não
estão focadas no curto prazo",
diz Hans-Paul Bükner, do Boston Consulting Group. "E, se há
cortes maciços de funcionários,
a confiança na economia como
um todo acaba minada."
O nível de investimento das
empresas nos EUA está hoje no
menor patamar desde 1947.
Corresponde a apenas 0,1% do
PIB. Em agosto, os pedidos das
empresas de bens como mobiliário para escritório, computadores e caminhões caíram 0,4%
em relação a julho -e são 20%
menores do que os do mesmo
mês de 2008.
Segundo dados da Dealogic,
que compila lançamentos de títulos de empresas ao redor do
mundo, das cem maiores emissões neste ano (a maioria nos
EUA) apenas sete foram destinadas a levantar recursos para
novos investimentos ou pesquisa e desenvolvimento.
Michael Woolfolk, economista do Bank of New York
Mellon, afirma que uma recuperação de fato da economia e
dos investimentos que geram
empregos vai continuar dependendo do consumo privado.
"Enquanto os estímulos fiscais e monetários continuam
sendo necessários para a demanda privada se recuperar em
bases sustentadas, os consumidores parecem começar a gastar um pouco mais", diz.
O consumo das famílias nos
EUA reponde por 70% do PIB,
mas é movido praticamente a
crédito, cujo nível está cerca de
10% menor do que em 2008.
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