São Paulo, domingo, 18 de outubro de 2009

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Demissão turbina resultados de empresas americanas

Corte de postos de trabalho e de investimentos melhoram os lucros das companhias

Nos primeiros cinco meses do ano, as empresas norte--americanas eliminaram 45% mais empregos que as europeias, segundo a OIT

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

Um corte profundo em empregos, custos e investimentos é o que está por trás da valorização da Bolsa de Nova York. Na semana passada, o índice Dow Jones ultrapassou a marca de 10 mil pontos. Desde março, quando desceu ao menor nível em 12 anos, a alta é de 53%.
Parte da nova safra de balanços do terceiro trimestre divulgada nos últimos dias revela receitas empresariais ainda deprimidas ou em queda. Mas lucros em ascensão, por conta de fortes reduções de despesas, especialmente mão de obra.
Segundo especialistas, esse padrão de comportamento das empresas pode levar a uma recuperação muito lenta e frágil da economia norte-americana ao longo de muitos meses.
Operando com recordes de ociosidade na capacidade instalada, as empresas não tendem a converter esses lucros em novos investimentos ou em vagas de trabalho. Entre as 32 grandes companhias nos EUA que já divulgaram balanços do terceiro trimestre, os lucros de 78% delas superaram as expectativas dos analistas.
A gigante do setor de alumínio Alcoa, primeira a divulgar seus resultados, revelou lucro de US$ 77 milhões. Mas os gastos com pesquisa e desenvolvimento foram cortados em US$ 39 milhões no mesmo período.
Outro exemplo de "lucro a qualquer preço" foi o resultado do Citigroup, que demitiu 52 mil funcionários neste ano. O banco teve lucro de US$ 101 milhões no trimestre passado e receitas de US$ 20,4 bilhões.
Além dos cortes, outra grande contribuição para o resultado veio do fato de o banco ter reservado só US$ 820 milhões para garantir perdas com calotes em financiamentos, sendo que, no mesmo período, perdeu US$ 9,4 bilhões nas áreas de cartão de crédito e imobiliária.
Segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho), nos primeiros cinco meses do ano as empresas norte-americanas eliminaram 45% mais empregos que as europeias e 63% mais que as asiáticas.
A diferença de padrão explicaria a recuperação mais forte da Bolsa de Nova York em relação às europeias. "A performance [de lucros] das empresas na Europa não melhorou como nos EUA porque elas não estão focadas no curto prazo", diz Hans-Paul Bükner, do Boston Consulting Group. "E, se há cortes maciços de funcionários, a confiança na economia como um todo acaba minada."
O nível de investimento das empresas nos EUA está hoje no menor patamar desde 1947. Corresponde a apenas 0,1% do PIB. Em agosto, os pedidos das empresas de bens como mobiliário para escritório, computadores e caminhões caíram 0,4% em relação a julho -e são 20% menores do que os do mesmo mês de 2008.
Segundo dados da Dealogic, que compila lançamentos de títulos de empresas ao redor do mundo, das cem maiores emissões neste ano (a maioria nos EUA) apenas sete foram destinadas a levantar recursos para novos investimentos ou pesquisa e desenvolvimento.
Michael Woolfolk, economista do Bank of New York Mellon, afirma que uma recuperação de fato da economia e dos investimentos que geram empregos vai continuar dependendo do consumo privado.
"Enquanto os estímulos fiscais e monetários continuam sendo necessários para a demanda privada se recuperar em bases sustentadas, os consumidores parecem começar a gastar um pouco mais", diz.
O consumo das famílias nos EUA reponde por 70% do PIB, mas é movido praticamente a crédito, cujo nível está cerca de 10% menor do que em 2008.


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