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ANÁLISE
Pague mais agora ou receba menos no futuro
MARCOS CÉZARI
DA REPORTAGEM LOCAL
A batalha jurídica entre os
fundos de pensão e o governo está perto do final. O resultado,
ao final desse jogo, terá um só perdedor: o contribuinte, que terá
seu benefício reduzido no futuro.
A polêmica começou em 1993,
quando os fundos de previdência
fechados (aqueles que são patrocinados por uma empresa para
seus empregados) decidiram batalhar no Judiciário para não pagar Imposto de Renda (20% sobre
os rendimentos obtidos com as
aplicações financeiras).
Motivo alegado pelos fundos:
eles teriam imunidade tributária
-seriam isentos. Nesse período,
muitos deles tomaram a precaução de fazer uma provisão (reservaram em seus balanços o valor
do imposto devido caso perdessem a batalha).
E essa batalha está quase perdida. É que no dia 8 deste mês o plenário do Supremo Tribunal Federal decidiu que o fundo de previdência da Embrapa/Embrater
não tem imunidade tributária.
Em outras palavras, o fundo tem
de pagar impostos.
A decisão vale apenas para o recurso julgado referente a esse fundo, mas o recado do STF já está
dado: a decisão será a mesma em
julgamentos semelhantes.
Isso garante ao governo a possibilidade de cobrar impostos de
todos os fundos. No caso dos fundos fechados, estima-se que o que
deixou de ser pago até agora é de
cerca de R$ 12 bilhões -algo como oito meses de arrecadação da
CPMF (o imposto do cheque).
Prevendo que sairia vencedor
nessa polêmica questão, o governo decidiu, em setembro deste
ano, cobrar Imposto de Renda
também dos fundos abertos (que
podem ou não contar com contribuições de empresas) a partir de
janeiro de 2002. Além disso, deu
aos fundos a possibilidade de "escolher" como querem pagar.
Assim, todos os fundos em que
as empresas pagam parte dos recursos para os funcionários poderão recolher 20% sobre o ganho
obtido com as aplicações financeiras. A opção: 12% sobre o dinheiro depositado pela empresa.
Os participantes dos planos podem deduzir até 12% de sua renda
tributável (sobre a qual incide o
IR) na declaração anual. No momento de resgatar o benefício, pagam IR de acordo com a tabela
em vigor (hoje, acima de R$ 900).
Para não ter um benefício menor no futuro, o participante tem
duas opções, ambas ruins: trabalhar por um tempo maior (e começar a receber mais tarde o benefício) ou contribuir com um valor maior (pôr mais dinheiro no
fundo) a partir de janeiro.
Hoje, existem no país 361 fundos de previdência privada. Os
ativos totais deles todos passam
de R$ 137 bilhões. É sobre os ganhos com as aplicações desses
fundos que a Receita Federal quer
abocanhar 20%. Ou então 12% sobre o que as empresas pagam.
Apesar de a nova forma de tributação abranger os participantes
dos fundos que começarem a
contribuir a partir de janeiro, ela
reduzirá o total de ativos. Dos R$
12 bilhões "reservados" pelos fundos, o governo se contenta em receber metade (foram anistiados
juros e multas, desde que os fundos optem pelos 12% até o final
deste mês). Além disso, terão de
recolher os R$ 6 bilhões em seis
parcelas, a partir de janeiro.
Qualquer que seja a forma de
tributação escolhida pelo fundo,
uma coisa é certa: a parte do leão,
mais uma vez, sairá do bolso de
cada um dos contribuintes.
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