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PALAVRA DO SENHOR
Padre diz, na presença de diretor do Fundo, que "na vida não deve existir nem déficit nem superávit"
FMI vai à missa e ouve sermão econômico
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O diretor-assistente do Departamento do Hemisfério Ocidental
do FMI (Fundo Monetário Internacional), Lorenzo Perez, ouviu
de um padre, em Brasília, que
"existe outra economia, além da
economia de mercado -é a economia da salvação".
Perez assistiu ontem a uma missa no Centro Cultural de Brasília,
conduzida pelo padre jesuíta Miroslaw Matyja. O padre sabia da
presença do funcionário do Fundo, que frequentava o local quando morava na capital.
Segundo Matyja, na economia
da salvação "não deve existir nem
déficit nem superávit nas nossas
vidas cotidianas". Para o FMI, os
países endividados, como o Brasil, devem produzir superávits em
suas contas para pagar juros.
A economia de salvação, disse, é
a administração prudente dos
dons concedidos por Deus para
possibilitar a transformação da
realidade. Nessa economia, a pessoa não deve reter nada, pois o
que se ganha deve ser dividido.
Uma das discussões centrais
durante a visita do FMI ao Brasil,
que termina na quarta-feira, é se o
superávit primário (receitas menos despesas, excluindo juros) de
3,75% do PIB (Produto Interno
Bruto) é suficiente para devolver a
credibilidade ao país.
O Fundo tradicionalmente defende políticas duras de ajuste,
com juros altos e controle fiscal. A
receita recessiva, defende o Fundo, possibilita que, no futuro, países superem crises financeiras.
Uma das parábolas contadas
por Matyja pode ser interpretada
como uma ode ao sacrifício no
presente para conseguir mais no
futuro. O padre contou a história
de um homem que estava morrendo de sede e encontrou uma
garrafa cheia d"água ao lado de
um poço. O homem podia matar
sua sede ou usar a água para fazer
a bomba do poço funcionar. Optou por abrir mão de beber água
da garrafa para garantir um suprimento de água fresca contínuo.
Matyja terminou seu sermão
afirmando que "quem não percebe os pobres que dormem debaixo do viaduto, a desigualdade e a
injustiça enterrou o seu talento
em algum lugar".
A presença de jornalistas e fotógrafos durante a missa, numa capela com cerca de 80 lugares, atrapalhou o culto. Quando Perez se
ajoelhou para rezar, os fotógrafos
buscaram o melhor ângulo para
bater a foto e tumultuaram a missa. O padre interrompeu a prece e
pediu a saída dos fotógrafos.
Nesta semana, o FMI deve se
encontrar com a equipe de transição do governo eleito. Terminará
também de coletar os dados para
avaliar o cumprimento do atual
acordo entre o país e a instituição.
(ANDRÉ SOLIANI)
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