São Paulo, segunda-feira, 18 de novembro de 2002

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PALAVRA DO SENHOR

Padre diz, na presença de diretor do Fundo, que "na vida não deve existir nem déficit nem superávit"

FMI vai à missa e ouve sermão econômico

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O diretor-assistente do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI (Fundo Monetário Internacional), Lorenzo Perez, ouviu de um padre, em Brasília, que "existe outra economia, além da economia de mercado -é a economia da salvação".
Perez assistiu ontem a uma missa no Centro Cultural de Brasília, conduzida pelo padre jesuíta Miroslaw Matyja. O padre sabia da presença do funcionário do Fundo, que frequentava o local quando morava na capital.
Segundo Matyja, na economia da salvação "não deve existir nem déficit nem superávit nas nossas vidas cotidianas". Para o FMI, os países endividados, como o Brasil, devem produzir superávits em suas contas para pagar juros.
A economia de salvação, disse, é a administração prudente dos dons concedidos por Deus para possibilitar a transformação da realidade. Nessa economia, a pessoa não deve reter nada, pois o que se ganha deve ser dividido.
Uma das discussões centrais durante a visita do FMI ao Brasil, que termina na quarta-feira, é se o superávit primário (receitas menos despesas, excluindo juros) de 3,75% do PIB (Produto Interno Bruto) é suficiente para devolver a credibilidade ao país.
O Fundo tradicionalmente defende políticas duras de ajuste, com juros altos e controle fiscal. A receita recessiva, defende o Fundo, possibilita que, no futuro, países superem crises financeiras.
Uma das parábolas contadas por Matyja pode ser interpretada como uma ode ao sacrifício no presente para conseguir mais no futuro. O padre contou a história de um homem que estava morrendo de sede e encontrou uma garrafa cheia d"água ao lado de um poço. O homem podia matar sua sede ou usar a água para fazer a bomba do poço funcionar. Optou por abrir mão de beber água da garrafa para garantir um suprimento de água fresca contínuo.
Matyja terminou seu sermão afirmando que "quem não percebe os pobres que dormem debaixo do viaduto, a desigualdade e a injustiça enterrou o seu talento em algum lugar".
A presença de jornalistas e fotógrafos durante a missa, numa capela com cerca de 80 lugares, atrapalhou o culto. Quando Perez se ajoelhou para rezar, os fotógrafos buscaram o melhor ângulo para bater a foto e tumultuaram a missa. O padre interrompeu a prece e pediu a saída dos fotógrafos.
Nesta semana, o FMI deve se encontrar com a equipe de transição do governo eleito. Terminará também de coletar os dados para avaliar o cumprimento do atual acordo entre o país e a instituição. (ANDRÉ SOLIANI)



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